Quando a agenda silenciou
Blogs e Colunas | Amanda Neuman 22/12/2024 20h00 - Atualizado em 22/12/2024 23h44A última semana de trabalho do ano é como aquele momento em que o palco escurece após o espetáculo. A plateia se dispersa, o som das palmas se dissolve, e a atriz – você – finalmente se vê sozinha no camarim. É um silêncio estranho, quase desconfortável, mas também um alívio. A agenda, aquela tirana que regeu cada dia do seu ano, finalmente silenciou.
Por meses, ela gritou ordens: “Reunião às 9h!”, “Entrega até amanhã!”, “Levar a filha na escola!”, “Não esquecer do aniversário de fulano!”. E você correu. Correu porque mães correm, empreendedoras correm, mulheres que têm mil papéis correm. Mas agora, na última curva do calendário, até a agenda tirana precisa descansar.
No começo, o silêncio parece um território desconhecido. Você se pega olhando para a página em branco e se perguntando: “O que faço com isso?”. É um vazio que exige coragem para ser preenchido. E, aos poucos, você descobre que o silêncio não é um buraco, mas um espaço. Um espaço para respirar, para lembrar quem você é quando não está ocupada sendo tudo para todos.
É nesse momento que você percebe: a pausa não é improdutiva. Ela é fértil. É o terreno onde as sementes de novos sonhos começam a brotar. Quando o barulho cessa, você ouve sua própria voz. E ela lembra das coisas simples que o ritmo frenético apagou: o cheiro do café feito com calma, o som das risadas das crianças sem pressa, o prazer de ler um livro por prazer, não por obrigação.
A pausa também ilumina o que ficou perdido na pressa. Você revê os erros do ano com um olhar mais gentil. Repara nas conquistas que não teve tempo de comemorar. E entende que, embora nem tudo tenha saído como planejado, você fez o seu melhor.
No silêncio da agenda, as prioridades se reorganizam. O que parecia urgente em abril já não importa tanto em dezembro. Você percebe que, em meio a tudo o que precisa ser feito, há algo que não pode mais ser adiado: você mesma.
E quando o novo ano chegar, com suas páginas ainda intactas e promessas ainda puras, você estará pronta. Não porque fez tudo, mas porque soube parar. Porque entendeu que, às vezes, o maior ato de coragem é silenciar a agenda e ouvir a si mesma.
Afinal, é no silêncio que a vida sussurra as coisas que realmente importam.
Jornalista (UNIT) há 10 anos, mestra em Comunicação (UFS), doutoranda em Sociologia (UFS), pesquisadora na área de redes sociais e influenciadores digitais, e mentora de marketing para empreendedores e Influenciadores. Na internet, como mulher plus size que descobriu o amor próprio e auto estima além dos padrões, compartilha sua vida e vivências com outras mulheres e as encoraja a se amarem como são.
E-mail: amandaneuman.an@gmail.com
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