Já reparou como a vida, às vezes, parece um desses trens de alta velocidade? Lá estamos nós, vagão após vagão, em trilhos tão bem traçados que nem questionamos o percurso. O apito soa ao longe e, sem perceber, entramos numa marcha automática, deixando que os dias passem numa pressa quase desenfreada, enquanto assistimos pela janela a paisagem borrada de um cotidiano que mal conseguimos tocar. Semanas vão, vêm, e parece que somos engolidos pelos dias.

Viver no piloto automático é como estar sempre dentro desse trem, mas com os olhos fixos em um ponto distante e imaginário. São as listas de tarefas, as reuniões que se sucedem, o trabalho que nunca termina – as demandas que nos envolvem, sugam, e de repente, os dias se tornam uma sequência de comandos programados: “acorde, trabalhe, corra, resolva, durma”. E entre essas ações automáticas, quase esquecemos que existe um lugar chamado presente.

Viver não deveria ser assim. A vida não é um checklist a ser cumprido, nem uma viagem sem paradas para admirar o trajeto. De vez em quando, deveríamos ser mais como veleiros ao sabor do vento, com as mãos firmes no leme e os olhos atentos ao horizonte. Porque, ao contrário de um trem preso aos trilhos, no mar a viagem só se revela de verdade quando sentimos a brisa no rosto, quando permitimos que a água nos guie.

Não vivemos no automático quando nos damos o direito de ser curiosos com os próprios passos, de admirar o caminho em vez de apenas se preocupar com o destino. Ancorar no presente, mesmo que ele não seja perfeito – ou talvez, justamente por isso. Que diferença faz perceber o aroma do café e prestar atenção nas risadas entre as conversas com quem amamos. São esses detalhes, tão sutis, que fazem o coração pulsar de um jeito diferente, como se ele se lembrasse de que está vivo, e não apenas funcionando.

Quando você perceber que está de novo no modo automático, pause. Somos capitães do barco, não uma peça de uma engrenagem sem fim. E desligar esse piloto automático pode ser um desafio, mas também é um convite para ver a vida como mais que uma sucessão de tarefas, mas como um presente no presente.