Já faz cinco anos que decidi me embrenhar nas histórias de mulheres. Livros que não são apenas páginas, mas janelas para vidas cheias de curvas, quedas, recomeços e conquistas. Entre tantas lições, uma frase dita por Luiza Helena, na biografia que narra sua trajetória, ecoou fundo em mim: Sou inacabada. Todo dia começo de novo. “Uau! É assim que me sinto”, pensei.

Ser inacabada não é um lamento; é um privilégio. É reconhecer que, mesmo sendo boa no que faço, há sempre algo novo a aprender, a experimentar, a construir. É como olhar para um quadro que, a cada dia, ganha mais cores, mais detalhes. E, ao invés de desejar terminá-lo logo, aprecio o processo de pincelar cada nova nuance.

Há um orgulho sincero em reconhecer nossa força, em saber que somos boas no que fazemos. Mas também há uma humildade corajosa em admitir: “Ainda não terminei”. Não porque eu seja insuficiente, mas porque a vida nunca para de me ensinar.

Ser inacabada é ter a curiosidade de uma aprendiz e a confiança de uma mestra. É aceitar que, mesmo no ápice, sempre há algo a afinar, um degrau a subir, uma nova direção a explorar. Não se trata de perfeição; trata-se de movimento.

A vida, para mim, é esse rascunho contínuo. Recomeço porque sei que posso mais, não por achar que falta algo. É encorajador viver no ciclo da inquietação criativa, do aprendizado constante, da renovação de quem entende que o amanhã é uma nova chance de ser melhor.

Nesses cinco anos de leituras, percebi que ser mulher é, muitas vezes, isso: abraçar a incompletude. Entendi que não há um manual pronto que me ajude a acertar sempre, mas também entendi que posso construir minha história com páginas recheadas de tentativas, erros, acertos e, acima de tudo, crescimento.

E assim sigo, inacabada. Todo dia, começo de novo. O que já fiz é, sim, suficiente, mas abrir espaço para o novo significa abrir espaço para ser mais de mim mesma. E eu amo ser quem sou. Inacabada.