Não sou uma pessoa ansiosa. Isso é um fato sobre mim. E sei que nos tempos modernos, é um baita privilégio abrir a boca pra dizer isso. Mas essa é a verdade. Não estou falando que não tenho momentos de ansiedade, mas é daquela ansiedade comum, típica de todo ser humano vivo que, vez ou outra, parece se dar conta do quão pequeno é no mundo e do quanto não pode controlar as coisas. 

Porém, tempos atrás me peguei entrando numa onda de pensar a longo prazo que fugia de mim. Não era algo da minha personalidade, mas o excesso de ocupações prévias com o futuro ficava rondando minha mente de tempos em tempos.

Levei pra terapia. Pronto. Agora, o que era uma sementinha plantada lá no fundo, sem luz e sem água, começou a brotar. É isso que colocar pra fora o que ocupa espaço do lado de dentro faz: somos obrigados a nos ouvir, nos enxergar e, claro, pensar a respeito. 

Numa dessas, ouvi da psicóloga a frase que repito a mim mesma sempre que preciso: o futuro não existe.

Não, não existe mesmo. Essas palavras que escrevo agora podem não ser lidas. Posso nunca saber o fim da série que tenho assistido nos últimos dias. O encontro com aquele casal de amigos que não vejo há tempos e está marcado para daqui a duas semanas pode nunca acontecer. Porque tudo é incerto, o tempo é um sopro e aqui, para esta terra, não há garantia.

(Digo “para esta terra” porque minhas convicções espirituais me fazem crer que existe uma eternidade pra mim. Mas essa eternidade não é o futuro, não é disso que falo aqui.)

De fato, fazer planos faz parte de quem somos. Sonhar e ter projetos de vida são uma baita motivação pra acordar todo dia, fazer o que precisa ser feito, se dedicar a algo e querer mais. Mas o agora… ah, o agora. Só ele, de fato, é real.

Entender que o futuro não existe tirou de mim um peso que eu estava começando a carregar. Garanto isso a você. Porque perceber que me sentir plena hoje, estar alegre hoje, ser feliz hoje, amar aos outros hoje, amar a mim mesma hoje, isso é o que me mantém viva.

Continuarei sonhando. Meus sonhos, inclusive, são imensos. Porém, no futuro que não existe, eles podem nunca se realizar. E compreender isso fez mudar minha visão - e minhas emoções - a respeito de muita coisa sobre quem sou hoje, agora, no presente momento da minha existência nesta terra. 

Desde aquele dia na terapia, quando algo vem do futuro pra encher minha mente, repito a mim mesma: o futuro não existe. O hoje, sim. O agora existe e a escolha de não viver em prol do que não está sob meu controle é um decisão. Então, eu decidi isso.