O papel dos exames de imagem na identificação precoce de doenças neurodegenerativas
Dr. Rafael Midjej Brito, médico nuclear da Climed, explica como esses avanços tecnológicos auxiliam no diagnóstico Blogs e Colunas | Saúde em Dia 16/12/2024 08h03 - Atualizado em 16/12/2024 09h26Até que ponto os exames de imagem, como a ressonância magnética ou a tomografia, contribuem para a identificação precoce de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson? Para esclarecer essa e outras questões, conversamos com o Dr. Rafael Midjej Brito, médico nuclear da Climedi, que explicou como esses avanços tecnológicos auxiliam no diagnóstico, permitindo uma intervenção mais ágil e eficaz, além de possibilitar um melhor acompanhamento da progressão dessas condições. Confira!
Quais exames são essenciais para o diagnóstico de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson?
O diagnóstico destas doenças é algo complexo e envolve não somente exames de imagem, mas também uma avaliação clínica detalhada e associada com testes neurológicos. Além disso, exames laboratoriais sanguíneos, embora não sejam utilizados para o diagnóstico em si, servem descartar outras causas que podem provocar sintomas semelhantes, como deficiência de vitamínicas e distúrbios hormonais, metabólicos ou infecciosos, por exemplo.
Até que ponto os exames de imagem, como a ressonância magnética ou a tomografia, ajudam a identificar precocemente essas doenças?
Esses exames podem detectar atrofias no cérebro, especialmente numa área denominada hipocampo, região relacionada à memória, comum no Alzheimer, sendo mais evidente na Ressonância Magnética do que na Tomografia, no entanto tal alteração nem sempre estará visível. Além disso, podem ser usados para excluir outras causas, como AVC e tumores, por exemplo. Esses exames são excelentes para mostrar mudanças estruturais no cérebro (como a atrofia), mas não fornecem informações sobre a função cerebral, sendo as Cintilografias Cerebrais (SPECT) e o PET-CT Cerebral os exames indicados para tal avaliação, ambos capazes de detectar essas doenças ainda num estágio inicial. Para a avaliação da doença de Alzheimer e de outras doenças neurodegenerativas que causam demência, utiliza-se a Cintilografia de Perfusão Cerebral e o PET-CT Cerebral, ambos com a mesma funcionalidade, embora o último seja mais acurado. Estes exames são capazes de demonstrar áreas com redução do metabolismo/função nas regiões comumente comprometidas nesta doença. Além disso, o PET-CT também pode ser utilizado com um marcador de proteínas beta-amiloides, sendo ainda mais específico para o diagnóstico. Para a doença de Parkinson, a Cintilografia Cerebral com TRODAT é o exame mais específico, pois permite avaliar indiretamente a quantidade de receptores de dopamina nos núcleos da base, que estarão reduzidos nessa doença. O PET-CT sempre é realizado juntamente com Tomografia acoplada no mesmo equipamento, mas a Cintilografia Cerebral também pode ser realizada desta forma (SPECT-CT), aumentando ainda mais a acurácia diagnóstica.
FOTO: Dr. Rafael Midlej Brito, especialista em medicina nuclear
Qual é a importância dos testes neuropsicológicos na avaliação de pacientes com suspeita de demência?
Os testes neuropsicológicos são realizados para avaliar a perda de memória e raciocínio, alterações na linguagem (forma de comunicação) e mudanças de comportamento, como agressividade e desinibição, por exemplo. Tais alterações costumam estar mais presentes em alguma doença demencial do que em outra.
Que tipo de alterações nos testes cognitivos podem sugerir o início de Alzheimer ou Parkinson?
Na doença de Alzheimer, os testes cognitivos irão demonstrar alterações relacionadas com a perda gradual da memória recente, dificuldades com a linguagem e comprometimento das funções executivas, que envolvem habilidades como planejamento, organização e tomada de decisões. Na doença de Parkinson, também pode haver comprometimento da memória, função executiva, atenção e fluência verbal, porém tais manifestações costumam ser mais tardias, geralmente após o início dos sintomas motores, caracterizados por tremor de membros em repouso, que pode vir associado com rigidez, instabilidade postural e batimentos cardíacos lentos.
Como os exames ajudam a diferenciar Alzheimer, Parkinson e outras formas de demência?
Através da localização das áreas que estão comprometidas no exame, geralmente configurando um padrão relacionado a cada doença. O PET-CT Cerebral, por exemplo, ao demonstrar redução do metabolismo/função na porção lateral posterior do cérebro (região temporoparietal, cíngulos posteriores, pré-cúneos e hipocampo), indica forte relação com a doença de Alzheimer, distinguindo de diversas outras causas de demência, como a demência por corpos de Lewy, na qual adicionalmente haverá comprometimento da região mais posterior do cérebro (occipital), bem como a demência frontotemporal, que compromete a região cerebral mais anterior e parte da lateral (frontal, temporal e cíngulos anteriores). Já a Cintilografia Cerebral com TRODAT permite avaliar indiretamente a quantidade de receptores de dopamina nos núcleos da base, sendo a diminuição destas células uma característica dessa doença.
Existem exames específicos para identificar se os sintomas são causados por uma doença neurodegenerativa ou por outra condição?
Sim, nas doenças neurodegenerativas os exames funcionais de PET-CT Cerebral ou Cintilografia Cerebral irão demonstrar a localização das áreas com função comprometida, indicando um padrão geralmente relacionado com algumas dessas doenças. Nas condições em que não há doença neurodegenerativa, esses exames podem ser normais ou demonstrar um padrão atípico.
Com que frequência os exames devem ser repetidos para acompanhar a progressão da doença?
Isso varia de acordo com cada caso, incluindo fatores como a fase da doença e mudança dos sintomas clínicos iniciais. Mas, de um modo geral, esses exames não são repetidos rotineiramente, sendo mais utilizados para ajudar na confirmação diagnóstica. Após o diagnóstico, o acompanhamento da progressão da doença costuma ser feito regularmente através da avaliação clínica.
Quais exames ou avaliações podem ser realizados como forma de prevenção ou detecção precoce?
Como forma de prevenção não há, embora se suponha que algumas estratégias podem ser adotadas para reduzir o risco ou adiar o início da doença, como alimentação equilibrada, atividade física regular, estimulação cognitiva e controle de doenças crônicas. Para a detecção precoce, os exames que avaliam a função cerebral, como as Cintilografias Cerebrais e o PET-CT Cerebral.
André Carvalho é jornalista há mais de 20 anos. Formado pela Universidade Tiradentes (Unit), possui especialização em Marketing pela Faculdade de Negócios de Sergipe (Fanese). Foi apresentador de programa de rádio e televisão, e atuou como assessor de comunicação de vários órgãos públicos e secretarias municipais e estaduais. Atualmente, é editor do Caderno Saúde em Dia.
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