Dr. José Augusto Santos da Silva nasceu em 6 de fevereiro de 1954 na maternidade do Hospital de Cirurgia, em Aracaju. Seu pai, Nelson Moura da Silva (in memoriam) era maquinista e ex-funcionário da Estação Leste, e sua mãe, Maria José Santos da Silva, pensionista aos 96 anos de idade. Com Dr. José Augusto, eles tiveram cinco filhos, destes três já faleceram.

Ainda criança, aos dez anos de idade, José Augusto foi para o seminário Pedro Gonçalves em João Pessoa/PB juntamente com outras crianças, aos cuidados dos frades franciscanos. Passou dois anos em João Pessoa e mais seis anos em Campina Grande, totalizando oito anos de seminário. Essa passagem marcou a sua vida até os dias atuais, com amizades que se preservaram desde àquela época.

Casamento com sua esposa Luzinete Alves da Silva, na igreja do Santo Antônio em 1982 (Foto: Arquivo pessoal)

Aos 18 anos ele retornou após o seminário fechar as portas e estudou o terceiro ano científico no Colégio Castelo Branco. “Ele era o melhor aluno da sala. No seminário ele estudava alemão, inglês, latim e espanhol. Em 1974 ele fez o vestibular para odontologia e passou na Universidade Federal de Sergipe (UFS)”, conta sua esposa Dona Luzinete Alves da Silva.

 Eles se conheceram no antigo Hotel Palace, durante uma apresentação de repentistas. Um amigo de nome Maurício, hoje compadre, apresentou o jovem José Augusto a Luzinete, e ali começava uma linda história de amor. “Foram nove anos de namoro e a gente se casou em 1º de maio de 1982. Eu disse que só casaria depois de comprar uma casa, que é exatamente essa que nós estamos. Moramos aqui há 42 anos. Da união nasceu a filha única do casal, Laura Augusta Alves da Silva”, disse Luzinete.

Após a formatura, o cirurgião dentista adquire um consultório juntamente com outra colega dentista no Edifício Oviedo Teixeira, que foi durante muitos anos referência para muitos profissionais em Aracaju. Antes, ele havia sido aprovado em um concurso para o fisco estadual, mas pediu exoneração para se dedicar à odontologia.

Momento família em casa com sua esposa, Luzinete, sua filha Lara, suas netas Maria Clara e Mythe, e seu gento Aldemir (Foto: Arquivo familiar)

Dr. José Augusto também serviu ao Exército Brasileiro, realizando um sonho do seu pai, que faleceu em seus braços aos 59 anos. “Assim que ele terminou a faculdade, ele foi servir ao Exército. Sua mãe passava ferro na roupa de gala e acredito que a emoção foi tão grande ao ver a realização do seu sonho que seu pai acabou infartando no dia 31 de março de 1979”, descreve.

 Em 1985, Dr. José Augusto ingressa no Hospital de Cirurgia, onde deu a sua maior contribuição à saúde pública. Ele trabalhou com muito zelo, amor e dedicação em prol dos pacientes e do hospital, sendo um verdadeiro mestre-amigo para diversos profissionais que passaram pela Residência da instituição – setor que contribuiu de forma inestimável.

Ao longo de quase 40 anos de contribuição ao HC, Dr. José Augusto foi presidente da Fundação de Beneficência Hospital de Cirurgia (FBHC) – de 1999 a 2000 –, vice-diretor de ensino e chefe do Serviço de Bucomaxilofacial. Atualmente, no hospital, ele era cirurgião bucomaxilo, preceptor do Programa de Residência Multiprofissional em Terapia Intensiva e exercia a função de conselheiro do Conselho Deliberativo da FBHC.

Ao lado da sua mãe Dona Maria José, hoje com 96 anos (Foto: Arquivo familiar)

Além de seu intenso e dedicado trabalho no HC, Dr. Augusto presidia a Comissão de Odontologia Hospitalar do Conselho Regional de Odontologia de Sergipe e representava o estado, desde 2023, na Comissão de Odontologia Hospitalar do Conselho Federal da entidade de classe. “Foi o primeiro a trazer o tratamento através da laserterapia e foi o pioneiro em implantes dentários aqui no estado’, disse sua esposa.

 A interventora judicial do HC, Márcia Guimarães, lembra com carinho do amigo e colega de trabalho que tanto fez pela população. “O sentimento que me vem ao falar do nosso querido Zé Augusto é de profunda gratidão. Ele foi mais do que um grande amigo e companheiro de tantas jornadas; foi um exemplo de dedicação e humanidade. Durante quase 40 anos, o Dr. Zé Augusto foi entregue de corpo e alma ao Hospital de Cirurgia, cuidando de cada paciente com competência e empatia. Além de formar gerações de profissionais, fez isso com jeito acolhedor e humano que era só dele. E, como ser humano, ele era ainda mais especial: amoroso com a mãe, devoto à esposa, dedicado à filha e sempre disponível para quem precisasse de ajuda. Uma pessoa do bem, que irradiava paciência e generosidade”, disse.

Ela também lembrou do mestre competente, dedicado e sempre pronto para ajudar. “Além de formar gerações de profissionais, fez isso com jeito acolhedor e humano que era só dele. E, como ser humano, ele era ainda mais especial: amoroso com a mãe, devoto à esposa, dedicado à filha e sempre disponível para quem precisasse de ajuda. Uma pessoa do bem, que irradiava paciência e generosidade. Para nós, ele foi mais do que um cirurgião. Foi um mestre e uma fonte inesgotável de inspiração. Sempre tão generoso com seu tempo e conhecimento, ele conquistou o respeito e a admiração de todos que tiveram a sorte de aprender ao seu lado. Nos cargos que ocupou, seja Conselheiro da Fundação de Beneficência ou como Cirurgião do Serviço de Bucomaxilofacial, Zé Augusto sempre guiou com sabedoria e leveza, buscando o melhor para a nossa casa, o HC”, comentou Márcia.

Amigo e admirador, Dr. Carlos Humberto lembra quando conheceu Dr. José Augusto. “Eu o conheci em 2004 por intermédio do meu professor da Faculdade, Dr. Djenal Santana, pouco tempo depois de retornar do período de residência em Cirurgia Buco Maxilo Facial no Rio de Janeiro. Fui apresentado como indicação de Dr. Djenal para fazer parte do corpo clínico do Hospital de Cirurgia. Zeloso e criterioso em relação aos assuntos do hospital , ‘Zé Augusto’ reticente olhou pra mim e disse: “você está aqui por conta da indicação de nosso mestre comum Dr. Djenal (que além de professor era compadre de Zé Augusto) e porquê fui contemporâneo de seminário do seu Tio Edilton, portanto conheço a boa índole de sua família”, disse.

Última cirurgia realizada no HC ao lado do Dr. Carlos Humberto, o residente Dr Libório e uma instrumentadora (Foto: Divulgação)

“Ele disse que eu teria seis meses para me enquadrar ao ritmo e filosofia do Serviço. Trabalhamos juntos durante 20 anos no ambulatório de Cirurgia Buco Maxilo Facial e Odontologia Hospitalar Dr João Garcez e Centro Cirúrgico do Hospital Cirurgia. Também no Huse e por breve período no CEO (Centro de Especialidades Odontológicas de Aracaju). Posso dizer que uma experiência de muito respeito mútuo, troca de experiências e aprendizado. Zé Augusto foi meu coordenador por 15 anos e nos últimos cinco anos passou essa tarefa pra mim e se dedicou quase que integralmente ao ensino e luta pela Odontologia Hospitalar em Sergipe e Brasil a fora”, comenta Dr. Carlos Humberto.

Ao receber a notícia do do falecimento, Dr. Carlos Humberto lembra que foi um golpe duríssimo que até hoje não assimilou bem. “Na hora, pedi a compreensão do paciente, pois eu não estava na minha melhor condição para realizar o procedimento eletivo dele (o procedimento já foi realizado em outro momento). Parecia surreal pois na semana anterior ele tinha comentado que estava animado com a participação no Congresso Brasileiro de Cirurgia Buco Maxilo Facial (COBRAC) e chegou um dia antes a Belém do Pará para se encontrar com amigos ex-seminaristas como ele”, recorda.

O anestesista Dr Leonel Blanco também ficou muito abalado com a partida do amigo dos tempos de faculdade. “O conheci durante o segundo ano de Odontologia. A notícia do seu falecimento foi como uma bomba. Foi numa segunda e no dia seguinte teríamos cirurgia para realizar. Nos falamos pela última vez uma semana antes, por telefone, exatamente programando como seria a cirurgia”, disse Dr Leonel.

Um infarto tira a vida do Dr. José Augusto

O aeroviário aposentado, Dilson Cruz Menezes, era um amigo de longas datas. Eles estudaram no mesmo colégio nos anos de 1965 a 1970, o Colégio Seráfico de Santo Antônio, um seminário para formação para frades franciscanos, que fica localizado na cidade de Lagoa Seca/PB, a apenas 6 km de Campina Grande/PB. Eles estavam juntos no momento em que Dr. José Augusto sofreu um infarto fulminante durante uma viagem a Belém/PA, no dia 2 de setembro.

“Era segunda-feira, 02 de setembro, às 09h30.  Tínhamos acabado de visitar um pequeno museu: Memória de Nazaré. Pouco antes, entre 9h10 e  09h25, o Dr. José Augusto não apresentava nenhuma indisposição física. Seguia ao lado do nosso amigo paraense, Edson Elias Berbary, quando repentinamente cai a sua frente sofrendo o infarto fulminante, sem nenhuma reação. O óbito foi imediato. Tentamos com ajuda de algumas pessoas reanimá-lo com massagem cardíaca. Chamamos o Samu, que chegou uns 20 minutos depois, mas após examinar constatou o óbito. Tivemos que providenciar o Boletim de Ocorrência (BO) na próxima delegacia de polícia e aguardar por mais duas horas o carro do IML para o recolhimento do corpo para a necropsia. Estes foram os momentos mais longos e angustiantes”, disse Dilson Cruz.

Com muito orgulho, ele lembra do amigo de mais de 50 anos a quem considera um homem correto e trabalhador honesto. “O Dr. José Augusto Santos da Silva tinha como base da sua formação humana os princípios obtidos no Seminário franciscano. Foi um bom cristão, bom amigo, bom irmão. Honesto, trabalhador, cumpridor dos deveres, desprendido de vaidade, dedicado na profissão que exercia. Estava sempre pronto para ajudar ao próximo, principalmente aos mais necessitados da sua ajuda. Foi um bom cristão, um grande entusiasta na odontologia hospitalar. Que Deus o tenha em sua Glória”, se despede.

A história de Dr. José Augusto Santos da Silva não é apenas a trajetória de um renomado dentista e cirurgião; é o relato de um ser humano que, em cada ato e decisão, buscou fazer a diferença na vida das pessoas. Sua ausência deixa uma lacuna irreparável, mas o legado de cuidado, ética e compromisso com a saúde e a vida permanecerá vivo na memória de todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo e trabalhar ao seu lado.