A vida não imita a arte
Blogs e Colunas | Amanda Neuman 06/02/2022 23h53O filme começa e, em menos de cinco minutos, a gente já sabe qual vai ser o fim. Tudo vai dar certo no final e, ainda que o casal principal não tenha aparecido de cara, a gente já consegue identificar um dos protagonistas. Eu amo filmes assim. É aquele tipo clichê em que tudo, aconteça o que acontecer, sempre vai dar certo.
É clichê e eu gosto de clichês mesmo que eu saiba o que vai acontecer no final porque a graça está em ver o desenrolar das coisas.
Em uma das minhas aulas de produção textual, a professora – Ester, minha preferida – explicou que toda boa narrativa tem o momento que chamamos de ‘conflito’. É quando o casal do romance se separa, ou o filho foge de casa, quando uma notícia ruim abala todos os personagens, ou uma tragédia acontece pra mudar o rumo da história. Mas no fim, no fim mesmo, a narrativa encontra o rumo e volta a desenrolar. Às vezes com mais drama, às vezes com mais romance, suspense ou comédia. Tudo depende do enredo escolhido pelo autor.
Hoje eu não consigo ver um filme sequer ou ler livro que seja sem identificar o momento do conflito. É aquele momento em que espero o auge do problema pra que depois, como em um passe de mágica, em poucos minutos ou páginas, surja o desenrolar da solução.
Quem dera a vida fosse assim.
Já me deparei inúmeras vezes diante de cenas da minha vida pensando: acho que esse é o momento do conflito! Daí, espero um tempo – pouco ou não tão pouco assim – e o desenrolar da solução começa. Nunca em um passe de mágica, confesso. A vida não imita a arte. Não imita mesmo. Tanto que já perdi as contas de quantos momentos de conflito já identifiquei na minha própria narrativa real. Sem contar que o gênero nunca foi definido.
A vida real é uma mistura de romance, comédia, suspense e drama. Algumas vidas reais têm mais drama que outras, me parece. Mas os conflitos são sempre intensos porque eles só afetam quem é o personagem da história.
Às vezes quem assiste nem entende o porquê de tanto drama pra o protagonista se descabelar daquele jeito se, olhando de fora, como meros telespectadores, a solução está tão clara. O conflito sempre será mais intenso pra quem é protagonista e não plateia. Conflitos, porém, são sempre conflitos.
Na vida fora da tela ou das páginas, infelizmente – ou não -, não dá pra acelerar ou pular parágrafos pra que a solução chegue mais rápido. Só nos resta, então, esperar o desenrolar da narrativa, a história encontrar seu rumo e tudo voltar a se encaixar. Isso vai acontecer, pode ter certeza. Como boa leitora e contadora de histórias que sou, posso garantir que, depois de um conflito, nenhuma história fica sem final. O que pode acontecer é que não ter final seja realmente o fim e só o personagem não tenha percebido. Mas aí começa uma outra história...
Jornalista (UNIT) há 10 anos, mestra em Comunicação (UFS), doutoranda em Sociologia (UFS), pesquisadora na área de redes sociais e influenciadores digitais, e mentora de marketing para empreendedores e Influenciadores. Na internet, como mulher plus size que descobriu o amor próprio e auto estima além dos padrões, compartilha sua vida e vivências com outras mulheres e as encoraja a se amarem como são.
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