A influência negra na construção do Patrimônio Histórico de Sergipe
Traços da arquitetura e tradições populares revelam contribuição e resistência africana Cotidiano 20/11/2024 16h11Em 20 de novembro, é celebrado o Dia da Consciência Negra, em homenagem ao Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra contra a escravidão e líder do Quilombo dos Palmares, uma das maiores comunidades de escravos refugiados no Brasil Colonial. Trata-se, também, de uma data que representa um marco para reflexão sobre a importância da cultura e da história afro-brasileira na formação da identidade nacional. Em Sergipe, o legado deixado pelos negros contribuiu para fortalecer o turismo cultural.
O Dia da Consciência Negra impulsiona debates e atividades que buscam valorizar o legado africano, assim como refletir sobre os desafios ainda enfrentados pelos negros no Brasil. Portanto, é um momento para lembrar a luta contra o racismo e a discriminação, assim como reconhecer a influência negra na cultura brasileira e reforçar a importância da igualdade e da inclusão.
A presença negra em Sergipe contribuiu para a formação de uma identidade cultural única que vai além da aparência, porque também é evidenciada nas tradições populares e na religiosidade. É, ainda, reconhecida pelo patrimônio histórico e cultural, que pode ser visto, por exemplo, em dois municípios: Laranjeiras, na região do Vale do Cotinguiba, e São Cristóvão, cidade-mãe de Sergipe. Essas duas cidades são espaços de memória e resistência afro-brasileiras profundamente marcadas pela contribuição do povo negro devido às influências africanas na arquitetura e nas tradições culturais.
Traços de memóriaConhecida pelas celebrações populares, Laranjeiras, a 21 quilômetros da capital, Aracaju, preserva marcas do trabalho e da resistência da população negra, pois, durante o Período Colonial, os negros trazidos da África ajudaram a moldar a cidade não apenas com a força de trabalho, mas, também, com as práticas religiosas, como o candomblé e o culto aos orixás, que resistem até hoje em terreiros preservados no município.
Com relação às manifestações culturais, os Lambe-sujos e Caboclinhos, Taieira e as celebrações de Reisado são heranças diretas das tradições afro-brasileiras. Essas festividades representam um momento de reconexão com a ancestralidade, além de simbolizarem uma forma de resistência cultural. Já na arquitetura, construções religiosas contam parte dessa história, evidenciando o papel do povo negro na construção do patrimônio arquitetônico local.
Também a 21 quilômetros de Aracaju, a cidade de São Cristóvão, primeira capital de Sergipe e uma das mais antigas do Brasil, carrega uma forte influência da cultura africana. Os negros que trabalhavam nas construções do município deixaram um legado que pode ser visto na arquitetura colonial e nas manifestações culturais que resistem ao tempo.
O município, que tem a Praça de São Francisco como Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), possui, ainda, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Igreja de São Francisco e o Convento de São Francisco, onde o trabalho negro foi essencial. Além disso, São Cristóvão preserva tradições culturais com raízes africanas, como a Festa de Nossa Senhora da Piedade, em que as danças e os cânticos lembram a herança negra e o sincretismo religioso.
No âmbito da gastronomia, o exemplo mais emblemático da culinária sergipana que tem herança afro-brasileira é a queijadinha. Doce típico de Portugal, chegou com as freiras carmelitas a São Cristóvão há mais de 200 anos. Teve o ingrediente principal, o queijo, substituído por coco ralado pelos escravos. Assim, a iguaria tradicional combina o doce do coco com o toque salgado do queijo, criando uma textura macia e um sabor único. Por carregar a história e a tradição do povo sergipano, esse símbolo da culinária local foi considerada Patrimônio Cultural e Imaterial de Sergipe por meio de um decreto em 2011.
Vale destacar, portanto, que a influência negra no patrimônio cultural e imaterial de Sergipe é uma herança que pulsa na cultura e nas tradições do estado, inspirando gerações e enriquecendo o presente. Portanto, reconhecer e valorizar essa contribuição é essencial para preservar a história e fortalecer a identidade que se constrói a partir da resistência.
Fonte: Setur