Por que você vai escolher?
Blogs e Colunas | Amanda Neuman 15/11/2020 13h00Calma, esse não é um texto sobre campanha eleitoral.
Hoje é dia de escolher representantes, mas minha escolha pessoal começou antes. Vou contar como aconteceu.
Em 2013 eu fui pra rua e, desde então, tudo mudou. Hoje lamento, mas às vezes sinto que naquela época eu nadei apenas junto à corrente. Eu andava de ônibus e não queria que a passagem ficasse mais cara porque iria me prejudicar. A mim. Diretamente. E por isso eu fui pra rua.
Essa semana tive uma aula esclarecedora no doutorado. Um colega falou sobre como o clico de protestos de 2013 fez surgir novos atores sociais na política e como esses protestos marcaram um novo tempo de posicionamento social.
Me encontrei ali. Eu sou um desses atores.
Não me candidatei a um cargo eletivo, nem me candidatarei, mas desde 2013 eu passei a ver as coisas de um jeito diferente. Não porque eu escolhi ir pra rua, mas porque depois de mexerem na minha ferida - as passagens de ônibus -, eu escolhi. Escolhi estudar antes de falar. Escolhi entender antes de me posicionar.
Estudar e entender gastam tempo. Falar e se posicionar não gastam tempo nenhum. É rápido e, geralmente, está a apenas um teclado de celular e um “enviar publicação” de distância.
Meu pai sempre disse que lata vazia faz muito barulho e foi por isso que resolvi me encher. Eu não queria fazer barulho, eu queria saber falar sobre o que acredito, sobre o que defendo e luto. Então, eu fiz minhas escolhas pessoais.
Quando escolhi o conhecimento, entendi que nem tudo era sobre mim e minhas passagens de ônibus. Questões de raça, classe e gênero precisavam ser consideradas e mexiam muito comigo. Foi então que percebi que, em todo outubro - ou novembro -, a cada dois anos, eu precisaria me posicionar na urna (e na vida, se eu quisesse) sobre as questões que mexiam comigo.
Eu escolhi não acreditar nas manchetes sem ler a matéria.
Eu escolhi não compartilhar sem antes ter certeza.
Eu escolhi ler a mesma notícia em dois ou três veículos diferentes antes de expressar uma opinião.
E, claro, eu também escolhi não investir meu tempo em discussões intermináveis com quem não tem interesse de aprender e, se quiser, mudar.
Escolher entender nos ajuda a discutir no campo das ideias e abandonar ataques pessoais. Também nos dá paciência pra ensinar quem quer aprender (não quem precisa, porque nem todo mundo que precisa está querendo), porque conhecimento válido só é aquele que a gente devolve pra o mundo.
Eu escolhi faz tempo e tenho escolhido todos os dias.
Hoje, na prática e na urna, precisarei escolher. E, sete anos depois daquele ciclo de protestos, me vejo em um lugar que vai além do que pode diretamente me afetar, mas em lugar de convicção. Não porque me pediram voto, porque é meu parente ou porque me prometeram algo. Hoje eu escolho porque eu acredito na certeza das minhas escolhas. Eu escolho porque eu estudei e entendi.
E você? Vai escolher por quê?
Jornalista (UNIT) há 10 anos, mestra em Comunicação (UFS), doutoranda em Sociologia (UFS), pesquisadora na área de redes sociais e influenciadores digitais, e mentora de marketing para empreendedores e Influenciadores. Na internet, como mulher plus size que descobriu o amor próprio e auto estima além dos padrões, compartilha sua vida e vivências com outras mulheres e as encoraja a se amarem como são.
E-mail: amandaneuman.an@gmail.com
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