Eu sou bonita. Eu só não sabia.
Blogs e Colunas | Amanda Neuman 11/10/2020 22h00Eu sou bonita. Uma pena nem sempre ter sabido disso. Quando tinha 7 anos, pedi tanto até minha mãe comprar uma bota que fazia eu me sentir uma Spice Girl. Usei pra ir num aniversário e todas as meninas riram de mim. Voltei pra casa chorando e foi meu pai que me ensinou uma das lições mais preciosas da vida: se eu me sinto bonita, ninguém pode me convencer do contrário. Usei a mesma bota nas dezenas de aniversários seguintes porque eu gostava dela. E pronto.
Adolescente, a fase terrível das espinhas, do cabelo enrolado e dos quilos a mais, eu era a menina inteligente que nunca tinha beijado na boca. Chorava todos os dias – não por não ter beijado na boca, claro, mas por não conseguir ter a pele sedosa e a cintura fininha. Mas eu era bonita, eu só não sabia.
Foi na faculdade que sofri bullying de verdade – acredite se quiser –, uma das colegas era loira, magra e modelo, saía em outdoors pela cidade e usava as roupas legais que eu ainda não podia comprar. Ela fez uma comunidade numa rede social e até enquete sobre o que era mais bizarro em mim, a tal modelo criou. A sala quase inteira votou. Chorei por não ser bonita o bastante. Mas eu era, eu só não sabia.
Anos depois, aos 23, com um diploma de jornalista na mão e prestes a subir ao altar – pra casar com um homem que me dizia todos os dias o quão bonita e incrível eu era –, ouvi a atendente da loja de noivas dizer que se eu perdesse cinco quilinhos até o grande dia, ficaria ‘perfeita’. Mas perfeita era uma palavra forte demais.
Eu me sentia realizada, escolhi um vestido lindo, tinha a profissão que eu decidi ter. Eu precisava mesmo ter uma aparência “perfeita”? Lembrei da frase do papai, dita tantos anos atrás: se eu me sinto bonita, ninguém pode me convencer do contrário. Depois dali, olhei no espelho e desisti de tentar ser tão boa pra os outros. Percebi que eu era boa pra mim mesma e era só disso que eu precisava.
Comecei a usar blusa de alcinha, entrei na academia porque gostava de dançar, comprei vestidos mais justos porque valorizavam minhas curvas, perdi a vergonha de usar biquíni, virei fã de praia e fui perfeita até não dar mais.
Porque se me sinto linda, ninguém me convence do contrário, já dizia meu pai. A verdade é que eu sou bonita, sempre fui. Só que hoje eu sei disso.
Jornalista (UNIT) há 10 anos, mestra em Comunicação (UFS), doutoranda em Sociologia (UFS), pesquisadora na área de redes sociais e influenciadores digitais, e mentora de marketing para empreendedores e Influenciadores. Na internet, como mulher plus size que descobriu o amor próprio e auto estima além dos padrões, compartilha sua vida e vivências com outras mulheres e as encoraja a se amarem como são.
E-mail: amandaneuman.an@gmail.com
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