O tempo fez muita coisa mudar aqui dentro e, quando me dei conta, eu já era alguém bem diferente do que era anos ou meses atrás. Aprender a deixar pra lá foi uma das coisas que o tempo me deu de presente. Ainda tem me dado, na verdade. Porque deixar pra lá é um processo contínuo. 
Quando a gente é adolescente existe um espírito de justiça que gosta de tirar satisfação, não leva desaforo pra casa, quer saber os detalhes. A gente alimenta rituais que nos fazem sofrer, perde tempo e se desgasta. Perde tempo demais. Falo por experiência própria.
Confesso que por muitos anos – no auge dos 18, especialmente – eu era aquilo que alguns chamam de ‘gênio forte’ ou ‘dona da verdade’. Olho pra trás e, sinceramente, nem me reconheço porque agora entendo que o tal gênio forte soava mais como indelicadeza e, até, uma grosseria desnecessária maquiada de impetuosidade. Quanto desperdício de energia!
Ah, o tempo... Ele nos ensina a respirar, nos ensina que contar até dez nem sempre resolve o problema. Às vezes a gente precisa contar até 100, às vezes precisa esperar 24 horas, sete dias, um ano ou até mais. Só que esperar faz bem, e como eu queria ter descoberto isso antes! Esperar e respirar são o passo que antecede o deixar pra lá. Isso faz pensar nas palavras antes de dizê-las, o que evita arrependimentos dispensáveis. Esperar e respirar nos faz viver de um jeito mais leve.
Deixar pra lá é um exercício diário que vai da resposta a um insulto, passa pela necessidade de agir por impulso numa situação cruel, e chega à falta de paciência com quem anda devagar na nossa frente. Nem tudo vale o nosso tempo, nem tudo vale as nossas forças.
Deixar pra lá nada tem a ver com ser apático e permitir que pisem no nosso pé sem ouvir um ai sequer. Eu estou falando de não depositar tempo no que só serve pra roubar a sua paz. A verdade é que você não precisa gastar sua energia em discussões intermináveis e sem futuro – você também não precisa perder tempo ensaiando o que dizer numa briga que, na maior parte das vezes, nem tem chance de acontecer –, não precisa argumentar exaustivamente pelo prazer de provar sua opinião a quem, claramente, não está nem um pouco interessado em mudar de ideia. Você não precisa se dedicar a situações que só testam o seu limite.
A gente não precisa de tanta coisa!
Funciona assim: hoje a gente respira, amanhã a gente conta até dez, semana que vem a gente decide que é melhor esperar 24 horas e, num dia, num belo dia, a gente percebe que deixou pra lá. Desse jeito leve. Do jeito que a vida tem que ser. Faça o teste, comece aos poucos. Todo dia, viver fica mais fácil. Fica melhor. Confie em mim e deixe pra lá.