A menina da praia
Blogs e Colunas | Amanda Neuman 17/01/2021 21h00 - Atualizado em 17/01/2021 21h05Manhã de segunda-feira e eu estava sentada na areia, envolta pelos brinquedos de praia da minha filha que tinha ido com o pai ao mar. Absorvendo o vento no rosto e a atmosfera que mais amo em dias de férias – sol na pele, cheiro de protetor solar e gosto de água salgada –, olhei pra frente e foi, então, que a vi. Vinte e poucos anos, maiô de mangas compridas e cores vibrantes, cabelo amarrado no alto e um sorriso meio bobo no rosto. Ela parecia feliz. Mais que isso, parecia animada. E estava.
Um vendedor ambulante passou por perto e ela logo se levantou curiosa da espreguiçadeira. “Caixa de som que cabe na palma da mão, cores variadas, só 20 reais”, gritava ele enquanto caminhava ali por perto. Ela chamou o vendedor, pagou pela caixinha e mexeu no celular. Conectou, colocou uma música agitada pra tocar e começou a dançar. Ali, na areia da praia, sozinha com sua caixa de som. Um homem, que parecia ser o namorado, olhou pra ela e sorriu. Ela o chamou pra dançar, mas ele continuou sentado tomando uma bebida e a admirando. Ele tinha mesmo o que admirar.
“Essa menina tem um tique nervoso, escuta um solinho e começa a mexer o corpo”, começou a tocar na caixinha de som que ela segurava em umas das mãos enquanto dançava. Meus ouvidos se aguçaram. “Eu gosto dessa música”, pensei. Pelo visto ela também gostava, mas, diferente de mim, aumentou o volume e começou a fazer a coreografia. Na mesa ao lado, uma família inteira olhava pra ela e sorria. Era impossível não sorrir, era nítido que ela estava feliz. “Amor, vem dançar, a gente está no Nordeste! Que sonho!”, dizia ela com sotaque gaúcho, mas sem parar a coreografia.
Ninguém estava dançando, mas o som era dela, então se só ela dançasse parecia estar tudo bem assim mesmo. Se alguém olhou torto eu não sei, até porque eu estava concentrada demais em ouvir a música, curtir o clima e admirar a alegria da menina que nem sei o nome. A música acabou e outras tocaram. Ela continuou a dançar. “Que sonho! A gente está no Nordeste!”, repetia com seu sotaque diferente do meu e um sorriso que não se dissipava.
Ela estava feliz, animada e isso bastava. Não importava se não tinha companhia para dançar, a música era dela. Só quem já se sentiu feliz dançando a própria música sabe que sensação é essa. Não importa se tem gente olhando, não importa se quem você convida não topa a dança, não importa se só você está de pé curtindo o som. Se você está feliz, a música é sua e você dança.
Que bom é tornar momentos como esse não tão raros: ter música tocando sempre ou quase sempre, dançar sem depender dos outros e curtir nossa própria felicidade, assim como a menina da praia que deixou meu começo de semana mais feliz. Aqui, falando sobre ela, sorrio de novo. Amanhã é segunda-feira mais uma vez e, talvez, a menina da praia seja eu ou mesmo você. Então, alguém vai nos olhar e se sentir inspirado e feliz, assim como eu me sinto agora enquanto escrevo sobre ela.
Jornalista (UNIT) há 10 anos, mestra em Comunicação (UFS), doutoranda em Sociologia (UFS), pesquisadora na área de redes sociais e influenciadores digitais, e mentora de marketing para empreendedores e Influenciadores. Na internet, como mulher plus size que descobriu o amor próprio e auto estima além dos padrões, compartilha sua vida e vivências com outras mulheres e as encoraja a se amarem como são.
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