'Reforma Tributária deveria simplificar operações', diz presidente da Acese
Maurício Vasconcelos comenta as expectativas do Comércio em SE para um futuro breve Economia | Por F5 News 02/07/2023 18h30 - Atualizado em 03/07/2023 10h13O empresário Maurício Vasconcelos, 52, tem uma ligação ancestral não apenas com a atividade do Comércio no estado, mas também com uma das entidades que representa os interesses do setor: a Associação Comercial e Empresarial de Sergipe (Acese).
Negócios da família ocupam há quase 100 anos um espaço no coração de Aracaju, coincidentemente ao lado da sede da Acese. O empresário Manoel Prado Vasconcelos, avô de Maurício, começou lá vendendo secos e molhados e se integrou à diretoria da entidade vizinha.
Ao assumir a loja, seu filho José Alcides ampliou o escopo de produtos vendidos, adentrando o segmento supermercadista. Maurício, por sua vez, da terceira geração de comerciantes a atuar naquela loja, voltou a alterar o perfil do negócio, quando o pai lhe passou o bastão, e focou no comércio de variedades, de armarinhos a utilidades domésticas.
José Alcides foi vice-presidente da Acese, na gestão de Manuel Barreto Filho (1965/67) e este ano, seu filho Maurício Vasconcelos chegaria ao cargo máximo na entidade que passou a integrar, como conselheiro, no início da gestão de Jorge Santana, em 2005.
Na entrevista exclusiva ao F5 News, o empresário e líder classista, casado e pai de dois filhos, avalia o quadro econômico no Brasil e em Sergipe, com ênfase no setor comercial. Confira.
F5 News - Os dados mais recentes do IBGE indicam um crescimento de 5,4% do varejo sergipano este ano, bem acima da expansão nacional do setor 0,1%. A quais fatores o senhor atribui esse bom desempenho?
Maurício Vasconcelos - Observando o extrato de crescimento atribuído ao varejo, podemos observar que esse índice positivo foi puxado pelo setor de combustíveis e lubrificantes (8,7%). Imputo esse fato ao aumento dos preços nesse setor, decorrente do retorno de alguns tributos que haviam deixados de serem cobrados, os quais são imediatamente repassados ao consumidor final. Em seguida, vêm artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (3,0%) e supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (3,1%).Observando outros setores, vemos uma queda, por exemplo, em tecidos, vestuário e calçados (-11,0%), livros, jornais, revistas e papelaria (-5,7%) e material de construção (-7,6%). Não podemos nos esquecer que, além dos impostos sobre os combustíveis, tivemos um aumento na alíquota estadual do ICMS, que também foi repassado nos preços das mercadorias vendidas. Assim, podemos chegar à conclusão que esse desempenho se deve, possivelmente, a um aumento de preços e não ao aumento do consumo em si.
F5 News – O Comércio em Sergipe perdeu 244 postos de trabalho desde o começo do ano, num movimento completamente oposto ao do setor de serviços que gerou mais de 3,2 mil novas vagas no estado. Como o senhor avalia este cenário e a perspectiva futura?
Maurício - Atribuo a queda nos empregos do comércio justamente à variação negativa nos números de vários setores do varejo, como exemplificado acima.
Por outro lado, tivemos esse ano o retorno de todos os festejos, desde o Ano Novo, passando pelo Carnaval e Semana Santa, chegando agora ao São João, o que incrementou bastante os investimentos ligados ao setor de turismo, viagens e eventos.
F5 News - Acompanhar a evolução do mercado de trabalho é importante para entender a capacidade de consumo das famílias. Nesse sentido, de modo geral, Sergipe está com saldo positivo este ano. Quais as projeções do comércio para o seu desempenho no segundo semestre?
Maurício - Passadas as expectativas da entrada do novo governo, esperamos um leve aquecimento nas vendas no segundo semestre, tendo em vista que a política econômica ainda não está completamente definida e clara.
F5 News - Comércio e Serviços têm divergido sobre o texto do GT da reforma tributária. A CNC, por exemplo, defende que sejam adotadas alíquotas diferenciadas não só para segmentos específicos, mas também para todo o setor de serviços. Qual a sua visão a respeito dessa questão?
Maurício - Entendo que a reforma Tributária é necessária e urgente, porém devemos ter o máximo de cuidado para que essa reforma não venha para aumentar ainda mais a nossa pesada carga tributária, nem trazer burocracias desnecessárias.
Ela deveria vir para simplificar as operações, obrigações e dar segurança jurídica, com o intuito de possibilitar um ganho produtivo para as empresas, que será imediatamente revertido em bons números para o nosso país.
Friso, também, que é necessária a discussão ampla da reforma, com a participação dos diversos setores presentes em nossa economia.
F5 News - A requalificação do nosso centro comercial, visando estimular seu melhor aproveitamento, é uma demanda antiga. Algumas iniciativas pontuais já foram adotadas, nos últimos anos. Qual movimento da Acese nessa direção atualmente?
Maurício - Temos que olhar e cuidar do centro observando os seus problemas e suas oportunidades. Vejo mais oportunidades do que problemas. Estamos elaborando um material para despertar esse olhar para o centro, tão logo esteja pronto iremos convidar diversos setores da iniciativa privada e representantes do poder público para um bate-papo lá na Acese.
F5 News - Sergipe voltou a ter uma intensa atividade cultural neste período junino, com incremento do setor de turismo. O comércio tem sentido os reflexos desse movimento que busca reposicionar o estado a partir dos seus atrativos culturais? De que maneira?
Maurício - Importante o retorno dos festejos juninos, mas faço uma analogia ao uso de um remédio. A dosagem deve ser olhada com cuidado, principalmente quanto aos recursos públicos investidos, para que não falte para outros setores durante o restante do ano.
No tocante aos reflexos no comércio, vemos um incremento nos setores de vestuário, alimentação, bares, restaurante, turismo e eventos. Alguns setores sofrem um pouco, mas ao final acredito que o dinheiro circula para todos.
F5 News - A taxa básica de juros segue estagnada em 13,75% ao ano. Qual o entendimento do senhor a respeito do movimento de manutenção da Selic que tem sido adotado pelo Banco Central?
Maurício - A taxa de juros está nesse patamar devido, em primeiro lugar, à necessidade de se controlar a inflação, que sofreu uma grande pressão das consequências da pandemia, bem como da guerra entre Rússia e Ucrânia. Tal fato não foi exclusividade do Brasil, mas sim um fenômeno global.
Em segundo lugar, a falta de uma política econômica clara, aliada a falta de controle nos gastos por parte do poder público, fazem com que a taxa de juros se mantenha alta por mais tempo. Acredito que o primeiro problema já tenha arrefecido, precisamos agora focar no segundo para criar um cenário propício à redução dos juros.