MPF recomenda que Sergipe não regularize terras de territórios quilombolas
Órgão federal alerta para riscos de conflito e violência em Brejo Grande Cotidiano | Por F5 News 24/08/2024 08h59O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao governo de Sergipe a suspensão imediata do “Programa Minha Terra - Regularização fundiária rural e garantia de direitos”, que está sendo implementado no município de Brejo Grande. A região, que possui 70% de seu território reconhecido pelo governo federal como terras remanescentes de quilombo, abriga cerca de 486 famílias da comunidade Quilombola Brejão dos Negros, conforme dados do Censo 2022.
De acordo com o MPF, a ação do governo estadual pode aumentar o risco de violência devido a disputas de terras na região, onde há registros de conflitos há décadas. A recomendação foi entregue ao governador Fabio Mitidieri pela procuradora da República Gisele Bleggi, durante uma ação de cadastro de posseiros para regularização de terras realizada nesta sexta-feira (23) em Brejo Grande. O governador se comprometeu a encaminhar a recomendação à Procuradoria-Geral do Estado para uma resposta formal ao MPF.
O documento do MPF destaca que o território quilombola em questão já está em processo de titulação pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), além de integrar um procedimento administrativo da Secretaria do Patrimônio da União (SPU) para a demarcação de todas as áreas da União em Sergipe, incluindo as margens do Rio São Francisco. A previsão é que este procedimento seja concluído no segundo semestre de 2025. A recomendação enfatiza que há um interesse federal claro sobre o território.
A procuradora da República Gisele Bleggi ressaltou a preocupação do MPF em evitar conflitos na área e garantir a segurança das famílias de Brejão dos Negros. A comunidade quilombola tem lideranças incluídas no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), e os relatos de ameaças e invasões no território são frequentes há décadas, intensificando-se desde novembro de 2023, quando o Incra publicou a portaria que reconheceu o território e iniciou o processo de titulação definitiva para a comunidade.
Ainda segundo o MPF, a intervenção do estado de Sergipe na região pode agravar os incidentes entre as partes envolvidas. "A deflagração de uma campanha de regularização de terras na região pode aumentar o conflito fundiário e a violência contra povos tradicionais", afirmou a procuradora.
A recomendação também foi encaminhada para a Procuradoria Regional Eleitoral, para que investigue a possibilidade de crime eleitoral, considerando o período em que a ação de regularização fundiária está sendo realizada.
O governo do estado tem 15 dias corridos para se manifestar sobre o cumprimento da recomendação. O MPF alerta que, em caso de descumprimento sem justificativa, poderá adotar as medidas judiciais ou extrajudiciais necessárias.