Como Sergipe se inspirou no Ceará para melhorar índices de alfabetização | F5 News - Sergipe Atualizado

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Como Sergipe se inspirou no Ceará para melhorar índices de alfabetização
Estado quer ajudar municípios no processo de aprendizagem das crianças
Cotidiano | Por Will Rodriguez 12/05/2021 06h01


Quando o Ministério da Educação fez a última avaliação de aprendizado em crianças de todo o país, descobriu que 8 em cada dez estudantes sergipanos tinham um desempenho insuficiente em português e em matemática. Foi a partir dessa realidade que a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) traçou estratégias com a meta inicial de, literalmente, inverter esse indicador, tendo como norte práticas exitosas do estado do Ceará.

A Avaliação Nacional de Alfabetização de 2016 revelou que só 20% das crianças na rede pública sergipana concluíam o 3º ano do ensino fundamental plenamente alfabetizadas, como deveria ser. Atualmente, a alfabetização tem que ser concluída no 2º ano do fundamental menor. 

“Essa criança que foi mal alfabetizada começa a ter muitas dificuldades de ler, entender, escrever e dominar números, começa um ciclo de reprovações e atrasos. Sem alfabetizar, ela não tem autonomia no processo de aprendizagem, há uma alta distorção idade-série, o abandono e, finalmente, nossos alunos não chegam ao ensino médio na idade ideal (15 anos)”, descreve o secretário da Educação de Sergipe, Josué Modesto dos Passos Subrinho. 

Desde 2007, o Ceará adotou o Programa de Alfabetização na Idade Certa, uma política de continuidade segundo a qual o Estado passou a investir na educação por meio de formação de professores, material para os alunos, gestão e um sistema de avaliação próprio. Em uma década, o Ceará mais que dobrou o percentual de alunos alfabetizados ao final do 2º ano do ensino fundamental. Eram 39,9% no primeiro ano do programa, número que passou para 89,6% em 2018. 

Em Sergipe, o programa desenvolvido em 2019 foi batizado de ‘Alfabetizar pra Valer’ e pretende estabelecer um trabalho articulado em uma rede de parceria com todas as cidades, que já detêm 80% das matrículas nas séries iniciais. 

Para além dos bons resultados, o modelo cearense foi adotado porque aquele Estado tem uma realidade socioeconômica bastante aproximada da sergipana. Nesse formato, o papel da família e da comunidade onde a escola está inserida é fundamental para se alcançar a universalização da educação básica, que deve ocorrer até 2023, conforme o Plano Nacional de Educação. “Sergipe quer chegar a 100% de alfabetização (dos estudantes), mas a meta intermediária é começar com 80%”, assinala o secretário. 

Outra carência é quanto ao material didático. A Seduc/SE fez uma releitura do que é usado pelo Ceará, adequando-o ao contexto sergipano, e disponibilizou kits com outros recursos escolares básicos, mas que às vezes são de difícil acesso para muitos estudantes, como um simples caderno com lápis e borracha. 

“As nossas escolas são diversas, mas nem tanto, elas têm majoritariamente um certo perfil socioeconômico. É possível utilizar material estruturado? Do meu ponto de vista, ajuda, mas não significa que ele substitua a interação do professor com o aluno. Não significa que você entrou numa linha de montagem onde pessoas diferentes saem iguaizinhas. O professor tem que ter sensibilidade porque as experiências dizem que material estruturado é importante para a maior parte dos estudantes, mas cada professor é que sabe como adequá-lo para cada aluno”, discorre Josué Modesto. 

Esta semana, as aulas presenciais estão sendo retomadas nas séries iniciais da rede estadual e na maior parte dos municípios sergipanos (Aracaju segue com aulas remotas). Dos 74 municípios sergipanos, apenas Amparo de São Francisco ainda não aderiu ao programa ‘Alfabetizar para Valer’. O F5News tentou ouvir a Prefeitura Municipal sobre a questão, mas não obteve êxito. O espaço segue à disposição.

Pandemia 

O secretário Josué Modesto lembra que o ano letivo de 2021 vai exigir dos gestores do ensino público um olhar atento às marcas deixadas pela pandemia de Covid-19. Por conta da crise sanitária que interrompeu as aulas presenciais em março do ano passado, o ‘Alfabetizar Pra Valer’ ainda não está plenamente implementado. 

  “É muito difícil o processo sem que seja presencial. Alguns municípios não tiveram atividades escolares durante todo o ano de 2020. Então, teremos sequelas educacionais gravíssimas porque, quando o aluno já tem alguma autonomia, a aula remota se torna mais eficaz. Mas, para a criança, (aula à distância) é difícil em qualquer circunstância”, aponta o secretário da Educação.

Na rede estadual, os estudantes de todas as séries estão passando por uma Avaliação Diagnóstica de Aprendizagem, que permitirá inclusive adequações no escopo inicial do programa. 

“A sociedade precisa entender o tamanho do desafio, precisamos envolvê-la, despertar para a gravidade do problema e comprometer os municípios. Se o município não estiver muito focado em resultados, em acompanhar a efetiva frequência do aluno, o retorno das famílias sobre dificuldades e avanços, não vamos ter êxito”, afirma Modesto. 

Educação inspiradora 

O PhD em educação e sócio do movimento Todos pela Educação Rafael Parente aponta quais estratégias indispensáveis para os estados que desejam aprimorar a política educacional de base. 

“É preciso ter um currículo claro, ter materiais e metodologias modernas e efetivos que possibilitem a implementação do currículo na ponta, a melhor política possível de formação continuada dos profissionais da educação e uma política de valorização e reconhecimento”, defende o educador e ex-secretário da Educação do Distrito Federal, em entrevista ao F5News

Segundo Parente, as transformações impostas pela pandemia vão exigir adequações na infraestrutura das escolas, adaptações para modelos híbridos, novos materiais, formações efetivas para professores e, em paralelo, uma ação voltada à saúde mental dos alunos, familiares e profissionais.

“Nós ainda não sabemos quanto tempo a pandemia vai durar e qual o tamanho do prejuízo, mas posso apostar que não nos recuperaremos completamente em menos de 10 anos”, diz o especialista.

Na reportagem especial desta quinta-feira, você vai entender como o investimento em ensino básico é determinante para reduzir desigualdades sociais.

Edição de texto: Monica Pinto
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