3 perguntas sobre conservação de alimentos para microbiologista do ITPS
Rejane Batista aponta erros mais comuns entre sergipanos e como evitar intoxicações Cotidiano | Por Monica Pinto 24/08/2024 17h00Esta semana, os brasileiros descobriram que inclusive produtos alimentícios industrializados podem apresentar contaminação pela bactéria Salmonella, responsável por intoxicação alimentar que, em casos mais graves, pode levar à internamento e até à morte. A informação ganhou corpo na mídia após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária proibir a comercialização de 30 lotes de balas sortidas da marca Dori Alimentos. A Anvisa foi avisada pela própria empresa do “potencial risco de presença de Salmonella muenchen”.
A intoxicação por Salmonella é muito associada a ovos contaminados pela bactéria, mas, como se viu, o arco de risco é bem maior. Conservar alimentos adequadamente é ainda um desafio para a maioria, sobretudo por recomendações desencontradas – não raro opostas – que recaem sobre o tema.
Para tirar algumas dúvidas recorrentes entre a população, F5 News conversou com a microbiologista Rejane Batista, do ITPS (Instituto Tecnológico e de Pesquisas do Estado de Sergipe), doutora em Biotecnologia. Confira:
F5 News - Quais são os principais erros que sergipanos cometem na hora de guardar alimentos?Rejane Batista - Entre os principais deslizes na hora de armazenar alimentos, destaca-se a falta de higienização adequada dos alimentos e recipientes antes do armazenamento, o que pode favorecer a proliferação de micro-organismos. Além disso, a escolha de locais inadequados para guardar os alimentos também é um erro frequente, assim como a falta de atenção à integridade das embalagens, que, se não estiverem bem fechadas, podem facilitar a contaminação.
Outro erro comum é o uso de recipientes inadequados, que podem não garantir a proteção necessária aos alimentos, ou ainda misturar alimentos crus com alimentos prontos para consumo, o que aumenta o risco de contaminação cruzada. Superlotar a geladeira ou a despensa é igualmente prejudicial, pois impede a circulação adequada de ar, comprometendo a conservação dos produtos. Descongelar e recongelar alimentos é outra prática arriscada, uma vez que pode levar à proliferação de bactérias.
Além disso, não rotular os alimentos e não respeitar a data de validade são falhas que podem resultar no consumo de alimentos impróprios, colocando a saúde em risco.
F5 News - Tem gente que lava cada ovo antes de colocá-los na geladeira. Isso é correto?
Rejane - Não é recomendado lavar os ovos antes do armazenamento. Na natureza, nada é por acaso: a casca do ovo possui uma camada natural protetora chamada "cutícula". Essa cutícula desempenha um papel crucial ao controlar a perda de umidade, regular a passagem de gases e manter a integridade física do ovo. Como resultado, ela ajuda a preservar as características físico-químicas e microbiológicas dos ovos, o que contribui para estender seu prazo de validade e manter seu valor nutricional.
Portanto, se os ovos estiverem sujos, o ideal é limpá-los com um pano seco ou levemente úmido imediatamente antes do uso, e não antes de armazená-los. Além disso, é importante guardar os ovos na geladeira para manter sua frescura e segurança por um período mais longo.
F5 News - Um frango fresco deve ser lavado antes de ser congelado ou resfriado? E carne fresca, a chamada “carne verde”?
Rejane - Um tema um tanto polêmico: o manejo correto da carne na cozinha. Embora muitos acreditem que lavar a carne fresca antes de prepará-la seja uma boa prática, essa ação pode, na verdade, aumentar o risco de contaminação cruzada.
Ao lavar a carne, as bactérias presentes em sua superfície, como Salmonella ou Campylobacter, podem se espalhar não apenas pela própria carne, mas também por outras áreas da cozinha, como a pia, bancadas e utensílios. Além disso, a água pode facilitar a absorção dessas bactérias para o interior da carne, o que pode piorar a situação.
A forma mais segura de eliminar essas bactérias é cozinhando a carne de forma adequada, em temperaturas e tempos corretos, garantindo assim a destruição dos microrganismos patogênicos que causam doenças infectocontagiosas.
E lembre-se, boas práticas de higiene são essenciais: lave as mãos antes e depois de manusear a carne; use utensílios e tábuas de corte separados para carnes cruas e outros alimentos; e sempre limpe e desinfete as superfícies de preparo após o contato com carne crua. Essas medidas são comprovadamente eficazes para garantir a segurança alimentar e evitar contaminações indesejadas.