Paciência
Blogs e Colunas | Amanda Neuman 01/11/2020 18h00A palavra ‘paciência’ só me lembra a música da tartaruga que minha mãe cantava quando eu era criança e queria tudo com pressa demais. Quando eu chegava saltitante, tagarelando e eufórica porque deseja ter ou fazer algo imediatamente, ela me olhava e cantava: ‘era uma tartaruga que andava devagar...’. Aquele era o sinal de que a calma precisava se instalar. Eu respirava fundo e cantava junto: ‘paciência, paciência, se faltar paciência, vai encontrar perigo’.
A música contava a história de uma tartaruga muito lenta que não se abalava com nada, ainda que tudo ao seu redor parecesse andar rápido demais. ‘Besouros e formigas brigavam pra valer, mas essa tartaruga nem parava para ver’. É simples, mas de uma riqueza sem tamanho. Cresci, minha mãe parou de cantar a música da tartaruga, mas sempre que me apresso demais, a musiquinha da paciência toca na minha cabeça.
Paciência é uma virtude. Lenine, quando canta a música ‘Paciência’ – que não é a mesma da tartaruga –, diz que o mundo nos pede pressa e a gente finge ter paciência. A questão é que paciência fingida não é paciência. É só pressa disfarçada de calma.
Paciência me lembra a Rainha Ester que fez dois banquetes até pedir ao rei para livrar o seu povo. Ela poderia ter feito um banquete só, ou nenhum banquete, mas preferiu esperar a hora certa. Paciência me lembra Jó que viu sua vida revirar, sua riqueza acabar e as pessoas que amava morrerem, mas foi paciente para compreender que o mesmo Deus que dá é o mesmo que pode tirar e, ainda assim, Ele permanece bom.
Com Ester aprendi a paciência para esperar. Com Jó aprendi a paciência para compreender.
Ser paciente não é tarefa fácil, eu sei. Se você não consegue esperar calmamente a sua vez em uma fila do banco, quanto mais conseguirá esperar para ver um plano dar certo ou um sonho se realizar. Mas é preciso, não existe escolha. Quando não somos donos do tempo, precisamos aprender a nos curvar diante de quem é.
Enquanto o que você deseja não chega, exercite a paciência. Apreciar, pacientemente, a vista da janela enquanto vivemos essa jornada nos ajuda a perceber como a paisagem é bela. Pra quê correr se você pode passear? A vida é tão rara.
Jornalista (UNIT) há 10 anos, mestra em Comunicação (UFS), doutoranda em Sociologia (UFS), pesquisadora na área de redes sociais e influenciadores digitais, e mentora de marketing para empreendedores e Influenciadores. Na internet, como mulher plus size que descobriu o amor próprio e auto estima além dos padrões, compartilha sua vida e vivências com outras mulheres e as encoraja a se amarem como são.
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