O desabastecimento de carne nas feiras livres e mercados municipais em Sergipe causou transtornos aos consumidores nas primeiras horas da manhã deste sábado (16). F5 News recebeu fotos e vídeos de alguns internautas mostrando a situação em Itabaiana, Areia Branca, Boquim e Cristinápolis, mas a estimativa é que o problema esteja afetando cerca de 20 municípios.

Foto: Cedida ao F5 News

A crise envolvendo a carne abatida em Sergipe começou em 2018 com operações deflagradas pelos Ministérios Públicos Estadual e Federal, Vigilância Sanitária de Sergipe e Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema), com apoio de outros órgãos.  As ações foram realizadas com objetivo de fechar matadouros públicos e particulares, seja por irregularidade na administração envolvendo desvio de verba pública, como aconteceu em Itabaiana, ou por questões sanitárias, como falta de higiene e/ou das devidas licenças, entre outras.

Desde novembro, o matadouro de Itabaiana está fechado, após a prisão do prefeito afastado Valmir de Francisquinho e de secretários, investigados por desvio de taxas do estabelecimento.

De lá pra cá, marchantes e fateiras realizaram vários protestos, alegando que os órgãos de fiscalização e controle estão levando em consideração as questões sanitárias ou de desvios financeiros, mas em paralelo esquecendo algo também importante: a questão social e cultural. “Vários trabalhadores tiram desses estabelecimentos o único sustento da família. São pessoas que estão nessa atividade há anos e dependem dela para sobreviver”, destaca o representante dos marchantes de Itabaiana, Otacílio José Góis.

Desde a quinta-feira (14), um grupo de marchantes e fateiras realiza protesto na BR 235 e nas vias de acesso ao Frigorífico Serrano, apontado pelos trabalhadores como o “responsável” por tudo que vem acontecendo com os matadouros no estado. Os trabalhadores estão acampados nas proximidades do frigorifico e garantem que seguem unidos na perspectiva de forçar a reabertura do matadouro municipal de Itabaiana

"Do jeito que estamos não podemos mais permanecer. Estamos há mais de três meses sem poder trabalhar por uma culpa que não é nossa e por esse motivo queremos deixar claro que vamos continuar protestando até que a situação dos marchantes e boiadeiros seja finalmente resolvida”, alertou Otacílio. Ele antecipou que os manifestantes também pretendem impedir o acesso a outro frigorífico na cidade de Propriá (SE), mas não disse quando.

Segundo a Adema, em Sergipe apenas dois frigoríficos possuem licença ambiental para funcionar: o Serrano, em Itabaiana, e o Nutrial, em Propriá.

Por meio de nota, o Frigorífico Serrano falou sobre as perdas e prejuízos que vem tendo desde que iniciaram os protestos. Segundo a empresa, carne de 600 animais está parada na câmara fria sem poder ser entregue aos clientes. Também não podem receber animais para o abate, pois todos os acessos ao estabelecimento estão fechados. Os currais, que têm capacidade para receber 800 animais por dia, estão vazios. Duas carretas com subprodutos destinados à graxaria e 600 couros, estão apodrecendo. Quem passa próximo ao local já sente o forte odor de carne em decomposição.

Segundo o gerente do Frigorífico Serrano, Diogo Teles, medidas judiciais já estão sendo tomadas, mas ele apela para que autoridades do Governo tomem providências. "Nós estamos falando do desabastecimento de carne em 20 cidades do estado. Nas feiras e mercados está tudo parado. O prejuízo é enorme para o comércio", disse.

De acordo com Diogo, a indústria contratou, recentemente, mais de 200 funcionários e ampliou o curral para atender a demanda do estado. "É lamentável tudo isso que está ocorrendo. Nós estamos com 240 funcionários de braços cruzados desde ontem. Não temos nada a ver com o fechamento de matadouros. Somos uma empresa privada, estamos prestando os nossos serviços. Só queremos trabalhar. É lamentável uma situação dessa", disse.

No final da tarde a Justiça concedeu liminar determinando a desobstrução do acesso ao Frigorífico Serrano em caráter de urgência. O Comando Geral da Polícia Militar deve ser informado nas próximas horas para que encaminhe efetivo policial para a área. A PM tem 48 horas para retirar os manifestantes assim que for notificada. A previsão é que o funcionamento do estabelecimento seja normalizado na segunda-feira (18).

Confira a relação de alguns matadouros interditados em operações do MP e MPF em Sergipe

Maio/2018 - a Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) interdita abatedouros em Muribeca, Nossa Senhora da Glória e Nossa Senhora das Dores

Agosto/2018 - foram interditados os matadouros municipais de Cristinápolis e Tomar do Geru.

Setembro/2018 - os matadouros dos municípios de Arauá, Pedrinhas e Boquim, no Centro Sul de Sergipe,

Novembro/2018 - Itabaianinha, Tobias Barreto e Itabaiana

Fevereiro/2019 – Itaporanga D´Ajuda e Estância