É proibido! Uso de celulares em escolas no Brasil pode acabar; entenda
Dois estados já aderiram a essa medida que já está sendo discutida nacionalmente Cotidiano | Por F5 News 17/12/2024 18h00As últimas semanas ficaram marcadas por uma discussão efervescente no país: a proibição do uso de celulares nas escolas. Esse debate passou pela Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) e foi sancionada pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, no início deste mês. O estado do Mato Grosso seguiu o mesmo caminho. A medida também está em discussão no âmbito nacional.
A partir de agora, escolas públicas e privadas dos estados paulista e mato-grossense passam a proibir a utilização de aparelhos eletrônicos com acesso à internet durante todo o período de aulas, inclusive durante os intervalos.
As exceções ficam nos casos em que se torna necessária a utilização dos meios tecnológicos e para os alunos com deficiência que precisem do aparelho. Os colégios deverão criar canais de comunicação com os pais e os alunos.
O F5 News conversou com a pedagoga sergipana Kátia Valéria da Silva Santos. Ela defende que o uso exclusivo a atividades pedagógicas é essencial para que os alunos se mantenham concentrados durante as atividades escolares.
“Para aprender nosso cérebro precisa de foco, precisa de leitura, precisa de atenção para que a memória sustente o conhecimento e a aprendizagem aconteça. O uso extremo das telas nos faz perder tudo isso. Então, não utilizar pode melhorar o desempenho dos alunos”, afirma a profissional, que também atua como técnica pedagógica na Secretaria de Estado da Educação (Seduc).
“Para muitos pode parecer uma medida extrema, mas para quem está diariamente com eles em sala de aula sabe o quanto é necessária e fará bem a todos”, acrescenta Katia.
A jovem Rubia Naate Brito Garcia, que atua como trainee na área jurídica, contou ao portal como foi ter seu celular restrito em uma ordenança da direção da escola onde estudou. A restrição durou uma semana.
“De certa forma, foi uma coisa pioneira. O celular dentro da sala de aula sendo usado para a parte da educação. Durou bem pouco tempo, porque todo o mundo foi contra, inclusive os pais”, descreve a formada em Direito.
Ela ainda acredita que a decisão dos dois estados é propícia, mas restringe a liberdade do aluno.”A mídia poderia ser usada ao lado do celular para a liberdade dentro da própria educação, dentro da própria escola”, disse ao F5 News
A questão defendida pelos governos que aderiram a essas medidas - que também estão sendo debatidas no Congresso Nacional - é a do malefício provocado pelo uso dos celulares no que se refere ao desenvolvimento do aluno no contexto escolar.
O portal conversou também com a psicóloga Bianca Galindo, terapeuta com foco em gestão/regulação emocional e relacionamento. Ela conta que uma pesquisa conduzida por Gloria Mark, da University of California, Irvine, sobre o uso de telas, revelou que, após uma interrupção, leva-se em média 23 minutos para que haja recuperação total da atenção.
“Durante os estudos ou aulas, o uso desordenado de telas digitais pode comprometer significativamente a criatividade, a capacidade de absorver conteúdos e, de forma preocupante, influenciar negativamente a construção de uma autoestima saudável”, afirmou ao F5 News.
A psicóloga sergipana ainda orientou que o apoio dos responsáveis é essencial para minimizar as consequências da utilização dos celulares na escola.
“Entendo que o uso de celulares por crianças deve ser acompanhado de regras claras e supervisão constante por parte dos adultos responsáveis em sala de aula e em casa”, orienta Bianca.
“Para crianças de até 10 anos, não vejo sentido no uso do celular em sala de aula, exceto quando for diretamente relacionado ao conteúdo escolar e com objetivos pedagógicos bem definidos”, acrescenta ao portal.
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação e da Cultura de Sergipe, por meio do Departamento de Apoio ao Sistema Educacional (Dase/Seduc), informou que o estado sergipano não possui legislação que proíba a utilização de celulares na escolas.
“A Seduc tem por princípio atuar por meio de normativas e orientações legais e constitucionais quando recomendadas quaisquer medidas para a rede de educação”, comunicou a pasta.
O projeto de lei que pode trazer a proibição a nível nacional foi aprovada pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados no último dia 30 de de outubro e passou a ser discutido na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com o apoio do Ministério da Educação (MEC).
“O excesso do uso de celulares por crianças e adolescentes é algo que deve ser discutido não somente no contexto escolar, mas também familiar e social. Muitas pessoas não conseguem mais ficar sem este aparelho por muito tempo, parece que se tornou uma extensão do nosso corpo, estamos tão viciados e não percebemos. Vale a pena a discussão”, aponta a pedagoga Kátia Valéria ao F5 News.