Comissão resgata memórias de sergipanos da década de 50
Cotidiano 26/04/2018 09h42
Relatos e muitas lembranças do período de perseguição política na década de 1950 foram apresentados no auditório do Museu da Gente Sergipana em uma Sessão Especial da Comissão Estadual da Verdade ocorrida ontem (25). Com emoção, os familiares detalharam histórias de toda a luta e militância de pais e tios que foram presos e torturados à época. O vereador Antônio Bittencourt Júnior, filho de Antônio Bittencourt, 93 anos, ferroviário aposentado, membro do Partido Comunista Brasileiro e ex-preso político, foi um depoentes na sessão e destacou a importância deste encontro.
"Foi uma época em que a repressão prejudicava o sonho de muitos trabalhadores que lutavam por um Brasil mais humano e igualitário. Por pensar diferente e acreditar nos ideais de democracia, meu pai foi preso e sofreu todas formas de violência e tortura durante meses. Esse tempo remete à tristeza, ao sofrimento e à angústia por sabermos o que ele e todos os amigos passaram. Hoje, temos muito orgulho. Meu pai é um vitorioso", afirmou Bittencourt.
Nascido em Santo Amaro da Purificação, Bahia, em 1925, Antônio Bittencourt foi funcionário da Leste Ferroviária, onde iniciou a militância política sindical. Ao ingressar no Partido Comunista, atuou ao lado de grandes líderes, como Carlos Marighella. Em 1952, quando era líder dos trabalhadores da Leste em Sergipe, foi preso e torturado. No golpe militar de 1964, voltou novamente a ser preso, sofreu torturas e teve seus direitos políticos cassados, sendo enquadrado na Lei de Segurança Nacional com subversivo. Já em 1970 foi preso no Quartel Militar da Bahia e, em 1976, sob alegação de tentar reestruturar o Partido Comunista em Sergipe, foi preso pela Operação Cajueiro.
“Meu pai sofreu as consequências de quem militava no Partido Comunista desde a década de 40. Coloco todas as cartas e documentos da época à disposição da Comissão da Verdade. Meu pai e todos os seus amigos queriam um Brasil melhor. Mesmo sendo torturado por décadas, meu pai tem hoje um coração sem rancor, ódio ou mágoa", disse.
Nos anos 50, os militantes comunistas eram compostos por trabalhadores que lutavam por ideais de democracia e queriam avanços para o Brasil. Eram ferroviários, barbeiros, professores, jornalistas, porteiros, alfaiates. Além de Bittencourt, participaram da Sessão Especial da Comissão da Verdade Clovis Menezes, filho de Gilberto Burguesia; Edgard Ribeiro Filho, filho de Edgard Barbeirinho; Mirailton Oliveira, filho de Juca Pintor; Ana Maria Rosa, sobrinha do jornalista e advogado José Rosa; Luiz Eduardo Oliva, filho do jornalista João Oliva; Reginaldo Freire, filho da professora Ofenisia Freire e Filemon Freire.
Segundo Andreia Dipieri, coordenadora da Comissão, todos os depoimentos serão catalogados para complementar o Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade, que ficará pronto no final deste ano. "Nosso foco é elucidar as graves violações aos Direitos Humanos ocorridas no Brasil e em Sergipe, envolvendo sergipanos, de 1946 a 1988, garantindo o direito da memória e da verdade histórica, contribuindo para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito. São lembranças que perduram mesmo 30 anos após a Constituição de 1988. Muitas das conquistas que temos hoje, são frutos de ideias discutidas nos anos 50. A Comissão já possui um grande levantamento documental de homens e mulheres vítimas da repressão política. Foram presos por defender princípios que não eram admitidos naquele período", comentou.
Para o assessor especial da Comissão da Verdade, Elito Vasconcelos, "a sessão pública examina e esclarece. A sociedade tem direito à verdade histórica."
O ex-vereador Marcélio Bonfim também participou da Sessão Especial. Ele também foi um dos sergipanos que lutou contra a ditadura militar e pela democratização do Brasil, sendo preso e torturado. Também privou do convívio familiar, passando três anos na Rússia, na época da ditadura.
"Tenho muita gratidão a Antônio Bittencourt, que sempre esteve de braços abertos para cuidar de todos os militantes. Os comunistas naquela época eram muito unidos e fraternos. Havia preocupação de um companheiro para o outro. Hoje as coisas estão diferentes. Antônio Bittencourt era parceiro e se preocupava com todos", recordou.
Fonte: Assessoria de Imprensa
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