De um lado, brasileiros e alemães. Do outros, os argentinos. Era assim que se dividia a torcida na arena da Fifa Fan Fest, na Praia de Copacabana, durante a partida final da Copa do Mundo. Com a vitória da Alemanha, muitos brasileiros comemoravam ao lado dos europeus, enquanto os argentinos, apesar de tristes, se mostravam conformados, trocando abraços e chorando. Cerca de 20 mil pessoas lotaram o espaço, que atingiu sua capacidade máxima duas horas antes do jogo, realizado no Estádio do Maracanã. No quiosque Tor, ponto de encontro da torcida alemã, na Praia do Leme, cerca de cinco mil torcedores acompanharam a partida. Entre eles uma senhora de 92 anos. Leda Braunsghweiger foi casada com um alemão e, segundo ela, viu todas as Copas. De uma cadeira de rodas, ela passou a tarde toda torcendo.

— Essa foi a melhor Copa de todos os tempos — celebrou a idosa.

O estudante de medicina alemão Hendrik Heyes também comemorou bastante a vitória da Alemanha. Roendo as unhas durante o jogo, ele deixou a felicidade extravasar quando o juiz deu o apito final.

— Estava muito nervoso pela nossa seleção, afinal essa era a última chance de muitos os jogadores. Foi um grande Copa. Não estou muito animado com a Copa na Rússia, não vai ter muita graça. A atmosfera aqui foi melhor — elogiou o turista.

Com o fim da partida, muitos brasileiros se juntaram à celebração do tetracampeonato no Leme. A festa é animada com o som da banda Craques da Copa, que se misturou às batidas do DJ alemão Oliver Pocher.

TORCIDA CONTRA A ARGENTINA

A torcida brasileira, em grande parte, torcia para que a Argentina não levasse o título, Um dos que torciam para a seleção da Alemanha era o estudante Raphael Barbosa, que compareceu à arena da Fifa Fan Fest vestido com a camisa do Flamengo. No intervalo do jogo, ele disse que acreditava que em vitória alemã, por um a zero, e acabou acertando o placar.

— O primeiro tempo foi muito disputado, com chances para os dois lados. O jogo ainda está aberto — disse o rapaz, que, apesar de ser minoria entre tantos torcedores argentinos, não tinha medo de torcer pela Alemanha. — A zoação está saudável, não aconteceu nada de agressivo.

Rivalidade: torcedores alemães, com a camisa rubro-negra, provocam a torcida argentina na Avenida Atlântica - Domingos Peixoto / Agência O Globo

Perto de um grupo de argentinos, que agitavam a bandeira azul e branca próximo à Fifa Fan Fest, um grupo de brasileiros, muitos deles com a camisa do Flamengo, provocavam os “hermanos”, enaltecendo os mais de mil gols feitos por Pelé, para desqualificar a atuação de Maradona. Os argentinos respondiam contando até 7, numa referência aos gols sofridos pelo Brasil na partida contra a Alemanha, pela semifinal da Copa.

A quantidade de torcedores argentinos reunidos em Copacabana para assistir à final da Copa ofuscava os alemães. Mas, apesar de em menor número, os portadores das bandeiras nas cores amarela, vermelha e preta estavam muito confiantes, como Nicolai Schwald, que chegou ao Brasil para acompanhar o Mundial há duas semanas.

— Espero um jogo difícil, mas com vitória da Alemanha — disse o alemão, antes do pontapé inicial.

Argentinos eram a maioria entre os torcedores que compareceram à arena da Fifa Fan Fest - Domingos Peixoto / Agência O Globo

 

Para o empresário Andreas Maladinski, que vive há seis anos em Porto Alegre, a Copa no Brasil foi a “Copa das surpresas”. Apesar disso, ele também se mostrava otimista com uma vitória alemã.

— Acho que a Alemanha vai ganhar. Em 2006, fomos desclassificados em casa. Hoje, vamos ter a compensação — previa o estrangeiro.

A expectativa de vitória dos alemães quase foi por água abaixo aos 20 minutos do primeiro tempo, quando o argentino Higuaín conseguir balançar a rede. Mas os alemães respiraram aliviados quando o juiz Nicola Rizzoli anulou o gol do argentino. Muitos “hermanos” reclamaram, levaram as mãos à cabeça, gritaram, mas se conformaram com a anulação.

— O impedimento foi bem marcado. Tinham dois jogadores argentinos em situação irregular. Por isso, a torcida não reclamou tanto, foi por pouco — disse o jornalista da província de Santa Fé Juan Jose Tuma.

Enquanto a bola rolava, os argentinos consideravam o jogo equilibrado, apostando num placar final enxuto. Mas eles reagiram com incredulidade ao gol de Götze, que acabou garantindo o tetracampeonato alemão, no segundo tempo da prorrogação. Morador da província de Entre Ríos, Gastón Gonzales Feser, achava que a partida fosse terminar um a zero, mas para a Argentina, com um gol de Di María, que não chegou a entrar em campo.

— As seleções são iguais, é um jogo difícil, mas Di María vai resolver — apostou Gastón, que também considerou o gol da Argentina bem anulado. — Os jogadores estavam impedidos mesmo.

Agentes do governo da província de Buenos Aires, Marcelo Lopes Camello, de 38 anos, foi com a mulher e o filho à Copacabana. Ele acreditava num placar de três a dois para Argentina.

— Vai ser uma partida muito difícil porque a Alemanha hoje é o melhor time do mundo. Mas temos coração, garra, Messi, Mascherano e Di María — listou ele, antes do jogo, que tinha o rosto pintado com a cores da bandeira argentina.

Torcedores tomam as areias de Copacabana, num mar de azul e branco - Márcio Alves / Agência O Globo

 

A concentração dos torcedores era absoluta durante a transmissão do jogo. O silêncio só se quebrava quando Lionel Messi tocava a bola. Com a Fifa Fan Fest lotada, muitos torcedores acompanharam a partida do lado de fora da arena, por meio de outro telão instalado na área externa. Eles se espremiam no calçadão e nas areias da Praia de Copacabana. Segundo a organização do evento, 40 mil pessoas, no total, comparecerem à Praia de Copacabana.