Transplante de Medula Óssea: a luta pela vida e a importância da doação
O transplante de medula óssea pode salvar vidas, mas para isso é essencial que mais pessoas se cadastrem como doadoras Blogs e Colunas | Saúde em Dia 05/02/2025 11h18 - Atualizado em 06/02/2025 09h54O Transplante de Medula Óssea (TMO) representa, para muitos pacientes com doenças graves, a única chance de cura. Indicado principalmente para o tratamento de leucemias agudas, linfomas, falências medulares, hemoglobinopatias e imunodeficiências, o procedimento pode ser realizado com células do próprio paciente ou de um doador compatível. No entanto, a desinformação e o medo ainda afastam muitas pessoas da doação.
O coordenador da Central de Transplantes em Sergipe, Benito Oliveira Fernandez, destaca um dos mitos mais comuns: a confusão entre medula óssea e medula espinhal. “A medula óssea está dentro dos nossos ossos, enquanto a medula espinhal faz parte do sistema nervoso. Muitas pessoas acreditam que a doação envolve a coluna vertebral e acabam desistindo por medo, mas esse procedimento não afeta a coluna. Informação correta é essencial para salvar vidas”, enfatiza.
Cadastro e doação: como funciona?
O cadastro no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) pode ser feito no Hemocentro de Sergipe (Hemose). O processo é simples: o candidato preenche um formulário com seus dados pessoais e realiza uma coleta de apenas 5ml de sangue. Essa amostra é utilizada para um exame de HLA (histocompatibilidade), que analisa a compatibilidade genética entre doadores e pacientes.
Para se cadastrar, é necessário ter entre 18 e 35 anos. Já para efetivar a doação, o voluntário pode ter até 55 anos, desde que esteja saudável e não tenha doenças infecciosas, neoplásicas (câncer), hematológicas ou do sistema imunológico.
Uma experiência de doação
A advogada Marcelle Menezes Melo descobriu a doação de medula óssea de maneira inesperada, em 2018, quando era universitária. “Estava tendo uma campanha de cadastro para doadores de medula óssea na universidade. Eu estava com pressa, mas uma funcionária insistiu para que eu fizesse a coleta, então aceitei. Depois de um tempo, o Redome me ligou informando que havia um possível receptor compatível comigo e me pediu para fazer novos exames”, lembra.
O contato definitivo aconteceu em 2023. “Fiquei apreensiva porque sabia pouco sobre o procedimento e, na época, estava passando por um momento difícil com a perda de um familiar. Mas, ao conversar com médicos, entendi que a compatibilidade era algo extremamente raro e que, para aquela pessoa, eu representava uma verdadeira esperança de vida. Então decidi seguir adiante.”
Marcelle viajou para São Paulo, onde passou por exames no Hospital Albert Einstein. Após a aprovação, ficou 10 dias tomando uma medicação para estimular a produção da medula óssea e, então, realizou a doação. “A equipe médica foi muito atenciosa e me acompanhou de perto. O Redome arcou com todos os custos, incluindo passagens, hospedagem e alimentação. Seis meses depois da doação, ainda faziam contato para acompanhar minha recuperação. Foi uma experiência transformadora”, relata.
“Eu observava aqueles pacientes, de todas as idades, tomando quimioterapia, foram momentos de reflexão e aprendizado para mim. A doação é um ato muito gratificante e faz você amar o receptor e desejar a cura para ele mesmo sem conhecê- lo”
Marcelle Menezes Melo, advogada
A ciência por trás do transplante
De acordo com a hematologista Dra. Priscila Oliveira Percout, do Hospital São Lucas, o transplante pode ser autólogo (quando o próprio paciente doa suas células) ou alogênico (quando as células vêm de outro doador, familiar ou não).
A compatibilidade genética é o grande desafio do processo. “A chance de encontrar um doador compatível fora da família é de 1 em 100 mil, enquanto entre parentes esse número é de 1 em 100. No entanto, graças ao aumento de cadastros e ao avanço dos sistemas de busca, o tempo para encontrar um doador tem diminuído nos últimos anos”, explica.
Sobre a recuperação do doador, a médica esclarece que depende do método utilizado. “Na coleta de sangue periférico, a recuperação é rápida, ocorrendo em poucos dias. Já na coleta direta da medula óssea, que ocorre por punção, pode levar de uma a duas semanas”, afirma.
Os pacientes que recebem a medula transplantada precisam de acompanhamento contínuo. “Eles fazem uso de imunossupressores para evitar rejeição, o que os deixa mais vulneráveis a infecções. Por isso, são orientados a manter rigorosos cuidados com a higiene, usar máscara e evitar locais com aglomeração”, destaca a médica.
A importância do cadastro
O transplante de medula óssea pode salvar vidas, mas para isso é essencial que mais pessoas se cadastrem como doadoras. Se você tem entre 18 e 35 anos, procure o Hemose e faça seu cadastro no Redome. Um simples gesto pode ser a única chance de um paciente vencer uma doença grave.
André Carvalho é jornalista há mais de 20 anos. Formado pela Universidade Tiradentes (Unit), possui especialização em Marketing pela Faculdade de Negócios de Sergipe (Fanese). Foi apresentador de programa de rádio e televisão, e atuou como assessor de comunicação de vários órgãos públicos e secretarias municipais e estaduais. Atualmente, é editor do Caderno Saúde em Dia.
E-mail: jornalistaandrecarvalho@gmail.com
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