Os jogadores Ari Moura e Rafael Vila, do Confiança, registraram Boletim de Ocorrência na tarde desta quarta-feira (30) na 4ª Delegacia Metropolitana, em Aracaju, após o episódio de agressões sofrido pelos atletas no aeroporto da capital sergipana na última terça (29), sob gritos e xingamentos de uma torcida organizada por conta das últimas derrotas do clube. O atacante Ari Moura foi um dos feridos e teve o supercílio cortado.

O clube, através do Departamento Jurídico, acompanhou os atletas até a delegacia para que relatassem todas as agressões sofridas durante o desembarque da delegação. Imagens das câmeras de segurança do aeroporto devem ser colhidas para o inquérito policial. 

"A autoridade policial iniciará as investigações com o auxílio das imagens do circuito interno de segurança do próprio aeroporto de Aracaju, diversos vídeos gravados por torcedores que lá se encontravam com o intuito de descobrir e identificar os agressores. O Confiança continuará prestando todo o apoio necessário visando a elucidação dos fatos", informou o advogado do Clube, Henrique Doria.

A quatro pontos da zona de classificação e diante da má fase recente vivida pelo Confiança, depois da quinta derrota consecutiva no Campeonato Brasileiro da Série B e de três jogadores lesionados que devem ser substituídos, o time agora tem à frente um jogo decisivo, de seis pontos, contra o Náutico, para permanecer na competição. Em entrevista à imprensa ontem, o presidente do clube, Hyago França, se pronunciou sobre o episódio das agressões e afirmou que adotou medidas para prevenir possíveis atos de violência no aeroporto, mas reconheceu não ter sido suficiente. Ele também ressaltou que reforçou a segurança no estádio Sabino Ribeiro para os atletas.

"Colocamos seguranças particulares no aeroporto, mas confessamos que foi numa quantidade não suficiente. Mas dobramos a segurança durante todo o dia no Sabino Ribeiro e também para acompanhar todos os nossos atletas para que tenham tranquilidade nessa semana muito importante. A gente vai dar essa segurança para todos os nossos atletas para que esses marginais, esses vândalos, não se aproximem mais e não aconteça o que aconteceu", declarou França. 

Ao longo da Série B foi o segundo caso de manifestações agressivas contra os jogadores. Ao F5 News, Hyago França relatou que, entre as medidas adotadas, vai tentar proibir que os responsáveis pelos atos tenham acesso ao estádio. O caso foi levado ao setor jurídico do clube, que prestou queixa. "Aquelas pessoas que estavam no aeroporto não podem ser chamadas de torcedores, e sim de marginais, de vândalos, e podem causar mais problemas futuramente. Não vamos descansar até que essas pessoas sejam localizadas e sejam responsabilizadas pelos seus atos", disse França, ressaltando ainda que nenhum atleta pediu rescisão após as agressões. "Isso mostra que todos têm compromisso com o clube. O que aconteceu ficou para trás e a gente vai trabalhar para voltar aos resultados positivos". 

Desde as últimas partidas começaram a circular nas redes sociais que os jogadores teriam pedido "bicho pelo acesso", uma espécie de quantia paga por fora para motivar os atletas, e que a diretoria teria negado, o que levou à queda de rendimento. O presidente Hyago França classificou a versão como "boato" e ressaltou que, apesar de ter menor investimento, os pagamentos de salários e gratificações estão em dia e até de forma antecipada. "Estou aqui desde 2014, toda vez que o Confiança perde ou passa por um momento ruim sempre criam diversas mentiras nesse sentido. Inclusive, até o bicho de acesso do ano passado os jogadores que não estão mais presentes no Confiança estão recebendo porque foi dividido por parcela. Isso mostra o nosso compromisso", afirmou. 

Ainda faltam sete jogos e, caso o Confiança consiga duas vitórias no campeonato, o time se livra da zona de rebaixamento e consegue a permanência na Série, segundo informou França. 

"Precisamos entender que o Confiança está retornando à Série B depois de 28 anos e nunca jogou nesse formato, temos o menor orçamento de todos os 20 clubes que estão na competição, a menor folha, então a gente se virou para fazer uma equipe competitiva e essa equipe mostrou que é, impressionou positivamente por todo o país. Fomos elogiados antes das últimas cinco rodadas. A gente não pode descartar o que conquistou até o momento", disse e completou - "Claro que não é normal, uma equipe como do Confiança não pode perder cinco jogos consecutivos, mas não tem nada perdido. Temos um confronto direto contra o Náutico, um jogo muito importante, vamos tratar como uma final. Agora é trabalhar, ter humildade de reconhecer onde a gente errou e ter a consciência que só depende da gente". 

Questionado sobre o planejamento para a formação do elenco considerado enxuto na Série B, devido às condições financeiras, e de uma possível mudança para o campeonato sergipano, até mesmo na equipe técnica, Hyago França enfatiza que o foco hoje é no campeonato brasileiro e que confia no trabalho do técnico Daniel Paulista, o qual vai continuar na equipe. Diante da necessidade de substituições de jogadores lesionados, o presidente também ressalta que não se arrepende de não ter feito novas contratações na reta final da Série B por conta da situação financeira.

"Cinco rodadas atrás, para todos, ele era um dos melhores treinadores do país e depois de cinco rodadas ele não presta? De hipótese nenhuma. Acredito na continuação, a gente tem que dar sequência. Contratação para esse momento não pode, a Série B já foi fechada, e não irá ser feita rescisão. Fizemos um orçamento dentro da nossa realidade, infelizmente pegamos um ano atípico de pandemia, a gente não teve a nossa maior fonte de renda, que é a torcida nos estádios, então a gente teve que se virar, se readequar", disse Hyago França

Segundo ele, foi feito um plano de pagamento de débitos trabalhistas, cuja expectativa é de quitação em três anos. "Será uma das poucas equipes do país que terá débitos trabalhistas zerados, com isso o Confiança tende muito a crescer. Não vamos fazer loucura para tentar resolver um problema agora e arrumar outro para o próximo ano ou até depois. Temos confiança nos que vão substituir. O time fez competição muito boa até as últimas cinco rodadas, elogiada por todo o país com todos os jogadores, não com a ou b, mas sim com o nosso elenco", finalizou Hyago.