Vera Ferreira, o livro “Bonita Maria do Capitão”e o Memorial do Cangaço
Neta de Lampião e Maria Bonita fala sobre exposição e temas polêmicos Entretenimento 14/07/2012 10h39Por Sílvio Oliveira
Vera Ferreira, neta de Maria Gomes de Oliveira (Maria Bonita) e Virgulino Ferreira da Silva (Lampião), filha de Expedita Ferreira, única filha viva do casal de cangaceiros, recebeu a equipe do F5 News numa pausa da curadoria da exposição “Bonita Maria do Capitão”. Ela revelou o porquê ter trazido só agora à tona a mulher no cangaço, de ter divido o livro em duas biografias: Maria Bonita e Expedita Ferreira; além de falar como era a vida da mulher no cangaço, das inverdades de filmes e histórias e da falta de patrocínio para implantar em Sergipe o Memorial do Cangaço.
Por que resgatar a história da mulher no cangaço? Mais especificamente de Maria Bonita? A mulher era importante no movimento ou era coadjuvante?
Incomodava muito as pessoas saberem pouco da minha avó (Maria Bonita). Há histórias que não são verdadeiras. Acho que demorei muito, mas com o centenário é o momento... hoje se ela estivesse viva estava com 100 anos. Três a quatro anos antes, sentei com Germana, professora da Universidade Federal de Sergipe, que fez o livro do meu avó. Foram mais de três anos recolhendo, porque a gente não queria um livro comum, mas o livro. Dividimos a biografia em duas partes; a biografia dela (Maria Bonita) a de minha mãe (Expedita Ferreira), porque todo mundo pergunta por Expedita. As pessoas querem saber a continuidade. Incomoda não saber da continuidade. Queria mostrar às pessoas a riqueza do que é o cangaço. Que as pessoas percebam que as mulheres do cangaço não foram mulheres comuns. Em 1930, minha avó já tinha sido casada, larga a tranquilidade de um lar dos pais dela, para viver o grande amor. Não me canso de dizer: se não fosse esse grande sentimento, o amor verdadeiro, meu avô não teria aceitado a minha avó e nem minha avó teria ido ao encontro dele. Então quero passar tudo isso. Poucas pessoas sabem da origem dela, da cangaceira, como era a mulher, a gravidez no cangaço.
A mulher do cangaço era submissa? Foi proposital resgatar Maria Bonita como protagonista do cangaço?
Se eu não fizesse isso, as pessoas não iriam ler o livro. Se colocasse uma pitada de meu avô, Lampião, as pessoas iriam direito para o meu avó.
A história é simplesmente para o livro ou realmente houve o protagonismo de Maria Bonita?
Houve. A partir do momento que minha avó entrou no cangaço, foram mais de 50 mulheres. As pessoas pouco sabem disso. As pessoas não sabem o que era parir no cangaço. Pensam que costuravam, cozinhavam, lavavam, limpavam. As mulheres eram companheiras. A história, para entendermos, temos que ler e saber como era o ciclo. A gente focou nela, porque focando nela, mostra todas as mulheres do cangaço. Tudo que estamos fazendo é dela, para ela e é ela a figura principal.
Há uma grande parte do livro destinada a vida de Expedita.
As pessoas perguntam muito sobre ela. Recebemos muito e-mail. As pessoas lêem um livro sobre meu avô e falam que teve uma filha e essa filha onde está? As pessoas acham que ela foi criada no cangaço. Mas criança no cangaço não acompanhava os pais. Era dada. Minha mãe foi dada aqui em Sergipe a um casal de vaqueiros. A Dadá teve seis filhos no cangaço e todos foram dados. A Cira teve filho e não resistiu. Quando ela voltou para buscar o filho, ele já tinha morrido. Maria teve quatro gravidezes, três morreram e a sobrevivente, onde está? Mostro que minha mãe esta viva e é a única herdeira de Lampião e Maria Bonita. Temos que contemplar a história, com inicio meio e fim.
Maria Bonita e o Cangaço estão atuais por serem inspiradores da moda, da arte, em diversos seguimentos.
A biografia do Cangaço é extensa e impressiona. É uma das biografias maiores do mundo: quantidade de filmes, de livros, muitos não são verdadeiros. Mas é um assunto que até hoje é apaixonante. Desde 69 quando Zuzu Angel foi para Nova Yorque e levou um desfile inspirado na minha avó. É isso que quero mostrar. 1969, hoje, amanhã, o Cangaço está inspirando. Essa moda, a musicalidade do Cangaço é impressionante. O assunto vai continuar.
Por que o Memorial do Cangaço ainda não saiu do papel?
São mais de 10 anos. Há uma promessa de montar aqui em Aracaju, mas tivemos o apoio de Salvador e estamos levando para lá. Estamos com o apoio da Secretaria de Cultura de Salvador, da Universidade Estadual da Bahia, e a Bahia faz acontecer e quero que aconteça. A Bahia é palco do cangaço também, minha avó é baiana, a entrada das mulheres no cangaço é na Bahia. Então acho que é um local onde vou ter apoio, mais divulgação. Lutei muito, sou sergipana, minha mãe é sergipana, meus avós morreram em Sergipe, mas precisamos crescer. A gente não faz nada sozinho. Para se fazer a exposição, entramos num edital do Banco do Nordeste Cultural, quero levar essa exposição para o país e também para fora dele. O Instituto Banese nos apoia. O livro também vai seguir, o Banese patrocina e lutamos para ter mais patrocinadores sergipanos. Encontramos apoio na Chesf Recife, Universidade Estadual da Bahia e Assembleia Legislativa da Bahia.
Será que agora, com o resgate da história de Maria Bonita, surgirá um novo personagem principal do Cangaço, desvendando um mundo que era de Lampião. Novas pesquisas?
Espero que sim, mas que seja um enfoque honesto, com responsabilidade para com a história. A gente cansa de ver irresponsabilidade. A partir do momento que for um trabalho sério, vou dar o maior apoio. Tem gente procurando fazer documentários sobre minha avó. Estamos com um projeto de um livro infantil. Essa nova geração tem que conhecer através de um livro menos didático e mais prazeroso para a criança aprender. Contando a história como aconteceu. Estamos com o projeto do Memorial do Cangaço. Depois que o Zoroastro (diretor) conseguir fazer o filme que a gente está apoiando do jeito que aconteceu e quando acontecer o Memorial, pego o boné e falo para os meus avós: Missão cumprida. Estou em paz.
Foto: Sílvio Oliveira
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