O resgate da identidade cultural ligada às raízes africanas e a promoção da autoestima de jovens em situação de risco é a proposta que vem sendo desenvolvida pelo Ponto de Cultura ‘Batuque de Angola’, localizado no Bairro Industrial, em Aracaju. Em 2010, a Associação Abaô de Arte-Educação e Cultura Negra foi uma das instituições contempladas pelo Edital do Ponto de Cultura, uma parceria da Secretaria do Estado da Cultura (Secult) e do Ministério da Cultura (Minc), através do Programa Cultura Viva.

O projeto começou a tomar forma em 2011, um ano de estruturação para o Ponto ‘Batuque de Angola’. Após encontrar o espaço adequado para o projeto, o imóvel alugado passou por uma reforma e hoje conta com laboratório de informática, escritório, salão para prática da capoeira e outras atividades e uma sala de leitura, que está em fase de implantação. Ter um espaço com o qual o grupo pudesse se identificar e realizar suas ações, sempre foi o sonho dos integrantes da Associação Abaô.

“Nós sentíamos muita falta de ter uma sede própria. Sempre dependemos muito dos espaços dos outros. Sempre tivemos vontade de ter um espaço nosso para por em prática nosso trabalho. O Ponto de Cultura está nos dando essa oportunidade”, explica Marina Ribeiro, coordenadora do núcleo de eventos e produções artísticas (NEPA) da Associação Abaô.

Localizado em um ponto estratégico para atrair os jovens da comunidade, em frente ao CAIC do Bairro Industrial, o Ponto de Cultura atende, atualmente, um grupo de 10 crianças. As atividades realizadas pelo Ponto de Cultura estão voltadas para a construção da cidadania, autoestima e fortalecimento da visão crítica dos jovens, ressaltando a sua importância enquanto protagonistas de uma sociedade melhor e mais justa.

As atividades tiveram início em 2012. Inicialmente, os trabalhos estão sendo realizados em parceria com a Legião da Boa Vontade, a LBV, que já realiza um trabalho socioeducativo no Bairro Industrial. Um grupo de adolescentes de 12 anos está sendo beneficiado com oficinas de capoeira, rodas de leitura e, em breve, com aulas de informática. No entanto, o objetivo é ampliar o número de beneficiados pelo projeto, que tem como público-alvo jovens entre 12 e 17 anos que estejam freqüentando regularmente a escola e que residam no Bairro Industrial.

Para Jaquelene Linhares, coordenadora do projeto Ponto de Cultura ‘Batuque de Angola’, possibilitar que a comunidade tenha acesso à cultura e à arte é o grande propósito do Ponto de Cultura. “Nós trabalhamos a capoeira como construção de conhecimento. A grande sacada do projeto é que a gente tem consciência do nosso papel dentro da comunidade”, destaca Jaquelene.

Arnaldo Conceição de Souza Neto é um dos freqüentadores assíduos das atividades do Ponto de Cultura e, para ele, todas as atividades têm sido prazerosas. “Uma das coisas que eu mais gosto é a Roda de Leitura. Eu gosto muito de ouvir as histórias e também das aulas de capoeira porque sempre aprendo coisas novas. Já aprendi a tocar atabaque, pandeiro e agogô. Não gosto muito do berimbau porque é o mais difícil de todos”, afirma.

O garoto de 12 anos conta que está muito ansioso para o início das aulas de informática. Apesar da pouca idade, Arnaldo tem consciência da importância que as aulas de informática irão representar para o seu futuro. “Minha mãe disse que vai ser muito bom para mim, vai ajudar na hora de fazer pesquisa da escola e para quando eu for pra faculdade”. 

Resgate da cultura negra

A capoeira angola sempre foi o carro-chefe da Associação, e no projeto do Ponto de Cultura está sendo possível divulgar ainda mais essa prática que alia atividade física e cultura tradicional de raízes negras. Sempre voltadas para as questões étnico-raciais, as atividades desenvolvidas pela Associação Abaô visam resgatar a autoestima de grupos menos favorecidos.

 “Admiro muito a proposta do Abaô porque valoriza muito a questão da identidade cultural e a nossa história ligada à cultura africana. Acho muito importante valorizar essa identidade que a política dominante é contrária. Hoje vivemos numa política de embranquecimento, por isso é importante tocar nessas questões para que a sociedade de modo geral possa alcançar a verdade sobre a nossa memória e identidade”, ressalta Lídia Anjos, assistente social da LBV. “Quando conheci o Abaô vi a possibilidade de compartilhar o trabalho que já vem sendo feito com esses jovens”, explica.
Para a coordenadora do projeto Batuque de Angola, ter o selo do Ponto de Cultura é para a Associação “algo fantástico”. “Hoje nós temos o poder de nos autogerir e de colocar nossa arte na rua, o que sem o Ponto de Cultura era um sonho quase impossível”, destaca Jaquelene. 

Associação

A Associação Abaô de Arte-Educação e Cultura Negra nasceu de um sonho antigo dos integrantes do Grupo Abaô de Capoeira Angola, que completou 18 anos no último dia 05 de abril de 2012. Para marcar a data, foi organizado um bazar na sede da Associação, o I Bazarte, que contou com diversas atividades culturais.

Em 2010, a Associação Abaô foi contemplada pelo edital de Ponto de Cultura, promovido pela Secult e Minc, com o projeto Batuque de Angola. É através desta iniciativa que o grupo vem recebendo recursos para potencializar o trabalho de disseminação da cultura e resgate da cidadania que vem desenvolvendo ao longo desses 18 anos.

A sede da Associação fica localizada na Rua Reis Lima, 193, em frente ao CAIC do Bairro Industrial. Além das oficinas do Ponto de Cultura, o espaço abriga o Grupo Abaô de Capoeira Angola que promove aulas semanais para o público em geral. Para mais informações sobre as atividades desenvolvidas pela Associação e Grupo Abaô basta ligar para o telefone (79) 8865-9093.

Pontos de Cultura

Em Sergipe, atualmente, 30 instituições são beneficiadas pelo ‘Pontos de Cultura’ - ação do Programa Mais Cultura, do Ministério da Cultura (Minc), adotado pela Secult. Através de recursos oriundos da parceria entre o Minc e a Secult, iniciativas e projetos culturais já desenvolvidos por comunidades, grupos e redes de colaboração, são potencializados. Os Pontos de Cultura tem por finalidade fomentar a atividade cultural, aumentar a visibilidade das mais diversas iniciativas culturais e promover o intercâmbio entre diferentes segmentos da sociedade.

Resgate da identidade e cidadania através da capoeira

Fonte: Divirta-se