Dia do Rock: bandas sergipanas ainda enfrentam a desvalorização | F5 News - Sergipe Atualizado

Cultura
Dia do Rock: bandas sergipanas ainda enfrentam a desvalorização
Falta de público e incentivo são queixas frequentes entre artistas do gênero
Entretenimento | Por Ana Luísa Andrade 13/07/2022 13h40


No dia 13 de julho, é comemorado no Brasil o Dia do Rock. A data foi escolhida em homenagem ao Live Aid, concerto que aconteceu simultaneamente na Inglaterra e nos Estados Unidos nesse mesmo dia em 1985.

O evento foi transmitido em mais de 100 países e reuniu artistas consagrados como Paul McCartney, Queen, Madonna, U2, Bob Dylan, Elton John, além de outros grandes nomes do rock e do pop mundiais. 

O rock'n'roll surgiu por volta da década de 1950, a partir de influências de outros gêneros, como blues, soul e country. Desde então, passou por várias modificações, reunindo movimentos ao redor do mundo todo.

No Brasil, os anos 1980 foram marcados pelo surgimento de grandes nomes da cena musical do rock nacional, representada por bandas como Legião Urbana, Titãs, Capital Inicial, Barão Vermelho e muitas outras.

Em Sergipe, isso não é diferente. Atualmente, o estado conta com um forte cenário da música independente dedicada ao gênero. 

De São Cristóvão para o mundo
Um dos nomes mais conhecidos é a banda The Baggios, criada em 2004 em São Cristóvão, município da Grande Aracaju. O grupo já foi indicado duas vezes ao Grammy Latino na categoria “Melhor álbum de rock ou música alternativa” - em 2017 com o álbum “Brutown” - também indicado ao prêmio Bravo! e Prêmio APCA 2017 - e em 2019 com o “Vulcão”.

Mesclando o rock psicodélico com outros subgêneros musicais, como o desert blues e o tropicalismo, The Baggios já tocou em festivais como o Lollapalooza Brasil e o tradicional Festival de Artes de São Cristóvão (FASC).

Atualmente, a banda é composta por Julio Andrade - o Julico - na guitarra e nos vocais, Gabriel Perninha na bateria e Rafael Ramos nas teclas. O grupo já conta com cinco álbuns de estúdio e quatro EP’s.

Música de protesto
Uma característica intrínseca ao rock é o viés de protesto presente nas músicas, a partir de movimentos como o punk rock, que conta com letras a abordarem ideias anarquistas.

É nesse contexto que surge outra banda fundamental para o cenário do rock sergipano: a Karne Krua, criada em 1985 por Silvio Campos, que até hoje comanda os vocais. Atualmente, a banda é composta também por Afonso Ramalho na bateria e vocal, Ivo Delmondes no baixo e vocal e Lilo na guitarra e vocal.

Em entrevista ao F5 News, o roqueiro conta que seu interesse pela música surgiu ainda na infância, por influência de seus irmãos. Ao longo dos anos, foi se envolvendo cada vez mais com a arte, começando pelo hábito de colecionar discos de vinil. 

Não por coincidência, há mais de 20 anos Silvio também é proprietário da loja de discos e outros artigos de rock “Freedom”, no centro de Aracaju, ponto de encontro tradicional dos aracajuanos amantes do gênero musical.

Mas Silvio conta que, com o tempo, ser um apreciador do rock não foi mais suficiente: ele sentiu a necessidade de viver todas as histórias que lia em revistas sobre o assunto. “Já não bastava mais escutar, eu queria sentir a emoção de fazer música, fazer rock”, disse.

Assim, no início dos anos 1980, ele passou a se movimentar para criar a Karne Krua, originalmente intitulada “Sem freio na língua". A proposta era produzir um som de punk rock, a música de protesto, linha seguida pela banda até hoje e que causa certa aversão a alguns públicos.

“A gente não tem acesso a casas de show em geral porque nosso som é muito agressivo. As letras também têm uma tendência política-social e isso às vezes incomoda”, disse Silvio Campos ao F5News.

Ao longo desses quase 40 anos, a Karne Krua reúne diversos discos de música autoral e um nicho de fãs e ouvintes fiéis. “As pessoas que vão aos nossos shows não vão para pedir música de outras bandas, vão para pedir música da Karne Krua”, afirma o vocalista.

De lá para cá, Silvio percebe que houve um crescimento da cena em Sergipe. Ele relata que hoje há muitas bandas de rock no estado, inclusive produzindo trabalho autoral. 

Entretanto, ele observa também que as bandas com mais visibilidade da população são aquelas que reproduzem o som de artistas já consolidados do rock nacional e mundial. “Para as bandas autorais, é mais difícil ter acesso às casas de shows. A maioria que consegue entrar está replicando o que já é reproduzido na mídia por grandes bandas”, considera.

Faça você mesmo
Silvio se queixa também da falta de apoio do poder público não só ao gênero do rock, mas à música local como um todo. “A gente vive de uma cena muito independente, muito ‘faça você mesmo’”, lamenta.

O F5 News também conversou sobre essa questão com o baterista da Karne Krua, Afonso Ramalho, que começou a se interessar pela música ainda na infância e se dedica ativamente à área há 12 anos. 

Para ele, o cenário musical de rock sergipano só existe por conta da própria dedicação. “São as pessoas que fazem parte das bandas que organizam eventos, trabalham com a distribuição e divulgação, tanto dos eventos, como dos materiais produzidos”, resume.. 

 O baterista acrescenta que, quando há incentivo de alguma parte, esse não vem do poder público, mas sim de outras pessoas que têm interesse em fomentar a cena artística. Assim como Silvio, ele enxerga que existe um desrespeito com os artistas que produzem trabalho autoral. 

“Existem alguns bares e casas de show que contratam bandas que fazem um repertório com músicas de artistas internacionais ou nacionais, mas o único lugar da cidade onde tem show de bandas de rock autoral na cidade é o Taberna Rock Bar”, aponta.

Cenário independente
Algumas outras bandas do cenário independente de rock em Sergipe têm conquistado visibilidade ao longo dos anos, como a Snooze, Nucleador, Plástico Lunar e Maria Scombona, entre outras. 

Esse também é o caso da Taco de Golfe, que surgiu em 2017. Com uma proposta de som instrumental, a banda é composta por Gabriel Galvão na guitarra e Alexandre Damasceno na bateria, e já conta com 3 álbuns e participações no FASC e em outros festivais de música pelo Nordeste. A primeira apresentação pública da banda foi a abertura de um show da são cristovense The Baggios em 2017.

Em entrevista ao F5 News, Gabriel Galvão conta que sua paixão pela música teve início por influência do seu pai, que também é músico. Já o interesse pelo rock, especificamente, veio do irmão mais velho, que colecionava CDs e discos de bandas como Rush, Black Sabbath e Metallica.

Assim como os colegas de profissão, ele acredita que, em Sergipe, apesar de haver diversas bandas que se dedicam às mais variadas vertentes do rock, ainda falta espaço para a música autoral. “São poucos os espaços que abraçam esse tipo de som”, analisa.

Gabriel Galvão acrescenta que todas essas bandas, em algum momento da carreira, tiveram que fazer tudo por conta própria, atuando não só como músicos, mas também como produtores de eventos, técnicos de som e até mesmo designers. 

Galvão acredita que essa dificuldade se deve à falta de público atraído pelo gênero. Consequentemente, outros gêneros mais populares são os que acabam atraindo investimento.

Lei Aldir Blanc
A Lei Aldir Blanc, por outro lado, mudou um pouco essa realidade. O incentivo liberou recursos emergenciais para minimizar os impactos da pandemia de Covid-19 no setor cultural. 

Galvão aponta que esse foi o último recurso público recebido pela Taco de Golfe. Fora a lei, não há muitos outros tipos de incentivo. “Sergipe não tem grandes festivais de rock, por exemplo, como um Forró Caju, o Rasgadinho ou algo parecido”, lamenta o guitarrista

Edição de texto: Monica Pinto
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