Combate dos Lambe-sujo e Caboclinhos acontece no domingo
Entretenimento 10/10/2012 10h47O município de Laranjeiras se prepara para receber mais uma grande celebração da cultura popular. No próximo domingo, dia 14, acontece o tradicional combate entre os Lambe-Sujo e Caboclinhos, manifestação cultural que toma conta da cidade durante todo o dia.
A programação tem início às 5h com a alvorada festiva. Por volta das 8h os participantes se pintam e em seguida recebem as bênçãos do padre em frente à Igreja Matriz. O combate, composto por diversos atos, segue até o final da tarde e conta com a participação de centenas de pessoas que acompanham passo a passo o cortejo pelas ruas da cidade histórica.
O mestre Zé Rolinha, responsável pelo Lambe-Sujo, participa do combate há mais de 40 anos. Ele conta que no dia do cortejo a cidade de Laranjeiras é tomada por um verdadeiro arrastão, com pessoas de várias partes do Estado e turistas, curiosos por conhecer a tradicional guerra entre os negros e os índios.
“O que nós fazemos é resgatar a história do Brasil Colônia através da cultura popular. A guerra entre o Lambe-Sujo e Caboclinhos é passada de geração a geração desde a década de 40. É uma das manifestações mais populares do nosso estado”, explica o mestre.
A história da festa
Dos livros de história do ensino fundamental às páginas dos folhetins globais, a história de um Brasil que colocou de lado os índios e do outro os negros aqui ganha novos ares. Ainda é uma luta, mas com toda uma lúdica simplesmente bela que o fato histórico merece.
No município de Laranjeiras, uma vez por ano, na primeira semana de outubro, trabalhadores e estudantes se transformam em reis e rainhas e protagonizam momentos de êxtase onde opera a alegria mais sincera que os olhos estrangeiros poderiam um dia presenciar.
O auto popular da contenda dos lambe - sujos contra os caboclinhos é realizado no segundo domingo de Outubro e atrai muitos curiosos, sejam eles turistas ou pesquisadores. A beleza das indumentárias e a folia dos maracatus são atrativos unânimes, além da divertida brincadeira de “melar” e das corridas dos chicotes dos taqueiros.
O início da festa se dá cerimonialmente na madrugada do domingo, com a alvorada de foguetes de artifício e o primeiro encontro do grupo dos negros, os lambe - sujos na casa do rei. O maracatu começa aos poucos, na mesma medida que a cidade acorda e que seus visitantes chegam. Nas primeiras horas da manhã, também os caboclinhos começam o seu ritual.
A tinta xadrez vermelha colore de um rubro fosco os corpos dos brincantes que com cocares, pulseiras e tornos se ornamentam para o desfile de um dia todo. Em fileiras indianas, comportados e atentos aos toques da caixa que marca seus passos, os caboclinhos são em sua maioria caboclinhos mesmo, com idade média de 10 anos de idade.
Os lambe - sujos se reúnem nas horas mais altas da manhã para começar às veras a brincadeira. As bacias com o mel de cabaú e tinta xadrez se amontoam na calçada e o brilho do sol “encandeia” a vista de quem presencia. Mais difícil do que não sambar com os negros é ficar limpo durante todo o dia. O primeiro conselho para quem vai à festa é: “Use roupas velhas”. Você pode correr e se esconder, mas em algum momento um lambe - sujo vai te dizer: “Dá, dá, iô iô” e mesmo que você dê o dinheiro que ele pede, o agradecimento será sempre um abraço bem melado. De short vermelho, gurita de flanela também vermelha e os adereços pessoais de cada brincante.
A partir de então os dois grupos estão devidamente paramentados a desfilar pelas ruas de Laranjeiras. Em alguns momentos do dia, os dois grupos se encontram e seus líderes travam embaixadas.
À tarde, é vez das figuras reais dos grupos entrarem em cena. Enquanto os lambe - sujo buscam seu Rei, o Pai Juá e sua Mãe Susana, os caboclinhos buscam seus príncipes e princesas. Daí então, entra-se na fase crucial que são as embaixadas na região do quilombo, montado pelos negros. Enquanto o inimigo não vem a festa é grande. O samba está no seu auge. Pode-se ver o negro vigilante nas nuvens a avisar da chegada dos índios. E eles chegam. Uma luta. Duas lutas. Três lutas e vitória dos índios. O castigo para os negros é terem que pedir esmolas ao público para dar ao seu algoz.
E assim termina a saga de nossos ancestrais. A guerra existe, mas a alegria da festa não é ofuscada por nenhuma convenção social.
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