Projeto de Simone corresponde uma reivindicação histórica dos bancários
José Souza: greve e fechamento de agência mostram que a luta faz a lei Economia 02/10/2011 15h57Por Joedson Telles
F5 News – Os bancários de Aracaju vivem um momento ímpar nos últimos dias, quando uma agência bancária é fechada por desrespeito à ‘Lei dos 15 Minutos’ no mesmo momento em que a categoria deflagra uma greve. Como o Sindicato dos Bancários avalia estes dois momentos?
José Souza – Penso que a questão do fechamento da agência por desrespeito à ‘Lei dos 15 Minutos’ teve mais fumaça do que resultado. A ação de fechamento terminou não acontecendo. Uma liminar de um juiz chegou primeiro e causou uma grande frustração na população. Nós não comemoramos fechamento de agência bancária. Esta semana o Itaú inaugurou uma agência e nós comemoramos. Mas, na vida às vezes a gente dá remédio amargo a quem mais amamos, nosso filho e depois ele fica bom. Se tem uma agência funcionando mal é preciso o remédio amargo para melhorar... Já o segundo momento, ou seja a greve, é uma decisão que tem os bancários no comando. Acontece quando se esgotam todas as possibilidades de entendimento. É o último recurso dos trabalhadores. Precisa ser bem utilizado. Estamos ingressando na segunda semana de paralisação com uma forte adesão ao movimento em todos os bancos e no estado inteiro. Temos que tirar lições dos dois momentos. Ambos mostram que o que faz a lei é a luta.
F5 News – A vereadora Simone Góis tenta aprovar uma lei na Câmara Municipal de Aracaju ampliando o horário de funcionamento dos bancos, sem, contudo, sobrecarregar os bancários. O senhor defende essa ideia?
J.S.- O projeto da vereadora Simone Góis corresponde a uma reivindicação histórica dos bancários que é a ampliação do horário de atendimento à população. O projeto obrigará os bancos a criarem dois turnos de trabalho, pois eles abrirão as portas mais cedo e fecharão mais tarde. Então, o primeiro turno terá que se iniciar às 8h e o segundo por volta de meio dia ou das 13 horas. Isso proporcionará conforto à população, segurança ao comércio e a criação de mais postos de trabalho para a categoria. Temos dialogado com a vereadora Simone no sentido de que o projeto saia com essas garantias. Quem não quer essa alteração no tempo de atendimento à população são os bancos. O projeto com essas características interessa aos bancários.
F5 News A vereadora Simone Góis também tenta aprovar uma emenda à Lei dos 15 Minutos diminuindo o tempo de fechamento das agências, mas aumentando o valor da multa punitiva. Segundo ela, fechar uma agência por seis meses acaba penalizando não só o cliente, mas também os trabalhadores das agências abertas, que trabalharão mais para dar conta da nova demanda. A vereadora está debatendo a ideia com o Sindicato dos Bancários?
J.S. - Penso que o parlamento municipal tem uma grande oportunidade de se valorizar, ainda mais. Exercer o seu papel de elaborar, de aperfeiçoar as leis. No caso dos bancos, eles nunca quiseram ver a sociedade exercendo o controle social sobre seus negócios. No nosso caso, achamos que o Sistema Financeiro é um assunto sério demais para ser tratado apenas pelo Banco Central. Acho que os aracajuanos já estão ganhando com a reabertura do debate sobre a Lei dos 15 minutos pela Câmara de Vereadores. A Lei foi aprovada em 1998. De lá para cá enfrentou muita polêmica. É uma Lei avançada. Mexe com aspectos culturais. Faltou campanha educativa de mídia. E ações fiscais ficaram a desejar.
F5 News - Ao ser entrevistado numa emissora de rádio, o senhor reconheceu a boa vontade da Câmara Municipal de Aracaju, mas ressalvou que os parlamentares precisam ficar atentos para não serem enganados. O senhor se refere à possibilidade de a conquista da Lei dos 15 Minutos ser colocada em xeque?
J.S. - Os bancos, agora, estão reclamando dos exageros da Lei. Mas quando ela estava sendo debatida na Câmara, eles não tomaram conhecimento, ficaram indiferentes. Agora eles estão chorando, mas são lágrimas de crocodilo. A proposta de emenda da vereadora Simone Góis pode aperfeiçoar os excessos da lei. Penso que tem que haver um equilíbrio. Aumento do valor da multa pecuniária e a preservação de possibilidade da cassação do alvará. Outros vereadores também poderão propor emendas no sentido de aperfeiçoar a lei.
F5 News – O senhor tem uma frase interessante: “banqueiro não tem coração, tem cofre”. O que quer dizer com essa expressão?
J.S. - Trata-se da insensibilidade dos banqueiros. Eles são frios e nunca se sensibilizam com nada que não seja a ideia de aumentar sempre os lucros dos seus negócios. Daí a frase. O coração é suscetível ao sensível e o cofre é sinônimo de sovinez.
F5 News - Além de questões salariais, o que pauta a luta de classes neste momento?
J.S. - O mote da campanha é valorização do bancário e respeito aos clientes. Reivindicamos mais bancários para atender melhor à população. Fim da cobrança abusivas de tarifas. Mais segurança. Recentemente o banco Itaú inaugurou uma agência e a Polícia Federal foi conferir o Plano de Segurança e constatou que ele estava irregular. Também consta da nossa pauta a ampliação do tempo de atendimento à população. Outra coisa que consta do diálogo dos bancários é o da taxa de juros. Os brasileiros são pentacampeões de futebol e campeões de taxa de juros. Um título triste. A taxa de juros é um fardo para os trabalhadores. Não só nos bancos, mas também no comércio.
F5 News – O senhor acredita ser menos difícil negociar com os bancos federais, privados ou com o Banese?
J.S.- Não tem negociação fácil. Os executivos dos bancos privados são mais originais. Alguns têm a ideia de banco na própria origem, no DNA. Os executivos dos bancos públicos pensam que são banqueiros. Mas, não importa se privados ou públicos. O que é importante na negociação é a força da categoria organizada. Não acredito em negociação sem mobilização dos trabalhadores.
F5 News – Se pegarmos o bancário de 30 anos atrás e compararmos com o bancário de hoje, é exagero afirmar que o capitalismo corroeu os vencimentos deste importante trabalhador?
J.S. - É da lógica do sistema transformar todos os trabalhadores em proletários. Vamos pegar um exemplo. Um médico. É uma profissão vista pela maioria das pessoas como nobre, mas a divisão do trabalho, vai tirando dele a essencialidade e aos poucos ele se torna um sub-assalariado que tem que trabalhar em vários locais para manter essa áurea de nobreza. O bancário de trinta anos atrás não existe mais, exceto na cabeça de algum nostálgico.
F5 News – Ainda é grande o assédio moral nas agências bancárias?
J.S. - Muito grande. Os bancos travam uma competição darwiniana. O foco é consumo, o mercado. Predomina a idéia de que tudo é mercadoria. Os bancários viraram vendedores, embora nas agências bancárias não se enxergue produtos, como nas lojas ou nos supermercados. Os bancários vendem produtos fictícios, papéis. E têm que convencer os clientes que os produtos são coisas boas. Se fossem boas precisariam ser oferecidas? Os bancários são monitorados no dia a dia. Venderam produtos, fizeram negócios? Os nomes são divulgados nos murais da copa e até em banheiros. O assédio moral é, portanto, brutal.
F5 News - O que o Sindicato já tem marcado para esta semana, além do protesto conjunto com os servidores dos Correios?
J.S. - Estamos instalando a greve. A semana será muito difícil, pois inicia com pagamentos de folhas, de tributos e outros compromissos. Faremos assembleia de avaliação na terça, dia 4. Estamos programando algumas atividades no decorrer da semana. Nossa greve é muito complexa. Envolve uma grande logística. São várias empresas, públicas e privadas. Vamos procurar os companheiros dos Correios para combinarmos atividades conjuntas. Eles também estão enfrentando uma batalha complexa e merecem a solidariedade de todos os trabalhadores.
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