Fernando Carvalho: “Política é um marco civilizatório; fora dela só resta a barbárie”
Confira algumas ideias do diretor do Grupo Multserv, falando ao JLPolítica & Negócio Economia 03/09/2023 17h00 - Atualizado em 03/09/2023 21h53O portal JLPolítica & Negócio, do jornalista Jozailto Lima, fez uma entrevista com o empresário Fernando Carvalho, diretor do Grupo Multserv - do qual faz parte o F5 News -, e segue republicada na íntegra:
O empresário Fernando Carvalho, 60 anos, um dos mantenedores do Grupo Multserv, não esconde de ninguém que adora a atividade política. Gosta tanto que fez do seu único sócio Laércio Oliveira três vezes deputado federal e agora senador. Dizem os mais afoitos analistas que sem Fernando não existira politicamente Laércio.
Fernando Carvalho gosta tanto de política que desde quando sequer tinha barba já estava envolvido com eleições de entidades de classe - foi de presidente do sindicato da área em que atua, limpeza e asseio, da velha Associação Comercial e Empresarial do Estado de Sergipe à Fecomércio sergipana, para a qual foi eleito de novo, numa eleição tampão e de urgência na semana passada enquanto se resolve o impasse que se deu em torno da eleição de Marcos Andrade, anulada pela Justiça.
Mas Fernando Carvalho, que responde por um grupo que emprega cerca de cinco mil pessoas diretamente, transita pela política com pés de lã. Conciliador e cordial, é mais de bastidores do que da ribalta.
Filiado ao PP do parceiro senador - ou dele mesmo -, partido que já chegou a presidir em Sergipe, Fernando Carvalho sai de cena e fica mais nas coxias, onde se sente mais à vontade. Mas teoriza bem o papel e a importância da política na vida das pessoas, das democracias e das economias. “É tudo. É um marco elementar civilizatório. Eu acho que fora da política só resta a barbárie. Então qualquer sociedade precisa dessa movimentação no aspecto do desenvolvimento da política para encontrar quais são as suas saídas”, diz ele.
Desde a segunda-feira da semana passada, dia 28 de agosto, mais uma batata quente da política - só que agora classista - arde nas mãos de Fernando Carvalho. Eleito presidente interino da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Sergipe - Fecomércio -, Fernando tem 15 dias para convocar uma eleição definitiva e entre 30 e 60 dias para realizá-la.
Mas não parece se apoquentar com isso. Diz que fará tudo em seu tempo e ainda aposta que o grupo liderado por ele e pelo amigo Laércio tem tudo para sair da nova eleição de novo com um nome do seu grupo eleito, que pode ser o próprio Marcos Andrade, hoje no estaleiro por determinação da Justiça.
“Eu vejo o grupo que foi vencedor muito coeso e votou de novo assim agora nessa eleição da semana passada. Não vejo ninguém com queixas internas, então não tenho nenhuma razão para achar que será diferente numa eleição definitiva. Não vejo sinais de dissidência no grupo”, diz. Mas sonha e admite uma composição de consenso entre os grupos conflagrados. Não exclui nem mesmo o brigão Walker Carvalho.
Essa convicção de Fernando Carvalho, de que ganham a eleição, vem de uma outra. “Laércio foi o maior presidente que a Federação do Comércio de Sergipe já teve. Além de ter realizado a maior gestão da Fecomércio/SE, no aspecto de construção de equipamentos novos e de modernização do funcionamento das entidades, fez algo importantíssimo, que foi ter acabado com aquela história de presidentes que pretendiam se eternizar na presidência de um órgão de classe”, diz ele.
Fernando se coloca ali no contexto da Fecomércio nessa hora apenas como magistrado. Nem lhe passa pela cabeça disputar a eleição definitiva que está vindo aí. “Eu estou com outros focos na minha vida e não pretendo disputar a eleição”, diz.
Mas não é só de Fecomércio que o empresário Fernando Carvalho falará nesta Entrevista - aliás, esse tema é minoritário. Ele vai emitir boas opiniões sobre política, sobre o PP, as eleições municipais de 2024, os mandatos de Edvaldo Nogueira, de Fábio Mitidieri e de Luiz Inácio Lula da Silva.
Vai abordar sua orientação política - “Na verdade, me considero um centro-direita” -, os erros do PT, as divergências em relação aos pontos de vista de Bolsonaro. Vai falar da posição do mandato de Laércio Oliveira frente ao Governo de Lula, da existência e da condução da Multserv em seus 40 anos. Tudo de forma muito branda e sem radicalismos, como é da natureza dele.
Antônio Fernando Pereira de Carvalho nasceu no dia 24 de outubro de 1962, em Aracaju. Ele é filho de Otoniel Viana de Carvalho e de Josefa Batista Pereira de Carvalho.
Fernando Carvalho é casado com a empresária Maria Tereza Ávila Fontes Carvalho, com quem é pai de três filhas - Fernanda Ávila Fontes de Carvalho Franco, de 27 anos, Isabela Ávila Fontes de Carvalho, 24, e Júlia Ávila Fontes de Carvalho, 20.Na década de 1980, Fernando abandonou no meio a faculdade de Engenharia Civil para seguir a sina de empreendedor. Já começou gregário: no primeiro empreendimento, arrastou como sócio Aroldo José de Souza Silva, o Aroldo da La Tavola.
JLPolítica & Negócio - Afinal, dá para dizer a que a eleição de Marcos Andrade em maio do ano passado sofreu algum vício ou mácula em sua realização?
Fernando Carvalho - Na minha ótica, não. No entanto, foi anulada pela justiça, mas sob questões meramente formais dos opositores, do tipo um certo privilégio de impugnações que foram tomadas sob conhecimentos primeiro dos membros de uma chapa do que da outra. Por isso que não reputo como vício ou mácula - alegação dos opositores tem um caminhão, mas quando o prazo para interposição de recurso foi visto era de 15 dias. Se um soube uma hora antes do outro, ou teve acesso, isso não afetaria em nada o resultado da eleição.
JLPolítica & Negócio - Os atos administrativos de Marcos Andrade de julho de 2022 até a semana passada estão validados?
FC - Sim. Embora haja uma anulação de uma eleição, não anulam-se os atos da gestão. Vamos transpor isso para uma outra esfera: imagine se quando um governador perde um mandato. Todos os seus atos administrativos estariam perdidos? É claro que não.
JLPolítica & Negócio - A eleição tampão da semana passada na Fecomércio-SE se deu de forma irretocável?
FC - Sim, inclusive por orientação da própria Justiça, foi uma eleição acompanhada por um membro do Ministério Público do Trabalho que vai, inclusive, acompanhar todo o processo da eleição definitiva.
JLPolítica & Negócio - A sua Presidência interina terá quantos dias para providenciar uma nova eleição?
FC - Pela decisão judicial também, a partir do dia da eleição e posse, se for imediata, 15 dias para convocar a eleição.
JLPolítica & Negócio - E quantos para realizá-la?
FC - Aí vai seguir as normas estatutárias. Mas creio é entre 30 e 60 dias.
JLPolítica & Negócio - É um prazo suficiente para realizar?
FC - Tranquilamente. Na próxima semana eu devo convocar.
JLPolítica & Negócio - Marcos Andrade perdeu os direitos políticos ou poderá ser um dos candidatos?
FC - Não perdeu os direitos políticos e poderá ser candidato.
JLPolítica & Negócio - O senhor não pretende disputar a eleição definitiva?
FC - Não. Não me vejo hoje disputando. Eu estou com outros focos na minha vida e não pretendo disputar a eleição.
JLPolítica & Negócio - O senhor acha que, por enquanto, está garantida a paridade dos sete votos a cinco na disputa?
FC - Eu acho que sim. Eu vejo o grupo que foi vencedor muito coeso e votou de novo assim agora nessa eleição da semana passada. Não vejo ninguém com queixas internas, então não tenho nenhuma razão para achar que será diferente numa eleição definitiva. Não vejo sinais de dissidência no grupo e vamos eleger o novo presidente de novo.
JLPolítica & Negócio - Mas não é possível fazer uma aliança com os oponentes e gerar uma eleição e uma futura Diretoria de consenso para a Fecomércio?
FC - Esse eu acho que é meu maior desejo e meu grande desafio. Eu creio, sinceramente, que essa disputa é ruim para a Federação e é ruim para a classe que ela representa. Então vou tentar buscar esse consenso, embora reconheça que a missão não é fácil. Isso é muito difícil, porque tem tido comportamentos da parte adversária ao grupo dominante que tem machucado muita gente. Tem havido algumas grosserias, aleivosias levantadas na imprensa, daí eu achar que não é fácil. Mas não quero nem devo me ater muito a isso porque quem quer trabalhar pelo consenso e pela harmonia não pode estar evocando dificuldades. Pelo contrário: vou tentar aparar essas arestas, porque acho essa é minha missão e também a minha vontade.
JLPolítica & Negócio - O senhor vê algum equívoco na atitude, no modo de vocês fazerem a política? Não teria erro, também, da parte de vocês?
FC - Não enxergo isso, senão eu teria agido diferente.
JLPolítica & Negócio - Quem mais entesa é Walker Carvalho ou Hugo França?
FC - Hugo França não tem participado, pelo menos diretamente. Ele hoje não é nem conselheiro e já tem algum tempo que não o encontro. Então, Hugo França não é problema.
JLPolítica & Negócio - Na busca do consenso que o senhor aspira tem espaço para Walker Carvalho? Ele poderia ser um ente da futura Diretoria?
FC - Olha, quem quer construir um consenso não começa vetando ninguém. Então não acho que tenha que ser excluído ninguém.
JLPolítica & Negócio - Mas ambos dizem que Laércio Oliveira não é líder de palavra. Erram ou acertam nisso?
FC - Enganam-se redondamente. Porque não tem o que apontar que não foi cumprido por Laércio Oliveira.
JLPolítica & Negócio - A atitude de Laércio Olivera na política da Fecomércio tem sido escorreita, legal, limpa?
FC - Completamente. Além de ter realizado a maior gestão da Fecomércio/SE, no aspecto de construção de equipamentos novos e de modernização do funcionamento das entidades, fez algo importantíssimo, que foi ter acabado com aquela história de presidentes que pretendiam se eternizar na presidência de um órgão de classe. Laércio sugeriu e o Conselho aprovou que a Federação passaria a ter direito a apenas uma reeleição de seu comandante - e assim foi feito. Quanto à questão do processo eleitoral de 2022, ele fez tudo com completa lisura e transparência. Isso é bem ao contrário do que seus e nossos adversários andam falando pela imprensa. O que a justiça acatou foram erros formais. Burocráticos. É uma chapa composta de 42 pessoas, com documentação vasta de cada um e aí vazam alguns equívocos. São questões miúdas. São pormenores, e de maneira alguma afetam a lisura e a transparência da condução de Laércio à frente da Fecomércio. Laércio foi o maior presidente que a Federação do Comércio de Sergipe já teve.
JLPolítica & Negócio - Comparada com espaços públicos de poder como Aracaju, Itabaiana e Lagarto, qual é o poder orçamentário da Fecomércio de Sergipe?
FC - Confesso que não disponho de informações sobre os orçamentos destas prefeituras citadas, mas o orçamento de custeio do Sistema Fecomércio de Sergipe para 2023 é da ordem da R$ 180 milhões.
JLPolítica & Negócio - Qual é o seu histórico pessoal de participação em entidades de classe?
FC - Eu comecei na atividade empresarial muito jovem, muito cedo e logo comecei a participar de entidades de classe. Comecei pelo Sindicato da minha área, o das empresas de limpeza e conservação - Seac.
JLPolítica & Negócio – E a partir daí o senhor passou por onde?
FC - Fui vice-presidente e depois presidente do sindicato. Fui para a Fecomércio, fui vice-presidente dela, durante o período em que era o vice-presidente da Fecomércio, fui presidente da Associação Comercial por dois mandatos. Posteriormente tive um mandato também tampão na Fecomércio a partir de uma renúncia de Walker Carvalho. E aí fui eleito também pelo conselho. Talvez por esse meu perfil mais conciliador, em momentos de dificuldade eu acabo sendo chamado - embora esta agora não se trate de um consenso. Mas fui, salvo engano, presidente acho que por 10 meses.
JLPolítica & Negócio - Mas onde o senhor vê esse traço de conciliador na sua personalidade?
FC - Vejo em todo meu comportamento. Sou uma pessoa que dificilmente encontra arestas intransponíveis com alguém.
JLPolítica & Negócio - Hoje o senhor parece mais afeiçoado à política partidária ou é ilusão de ótica?
FC - Na verdade, eu sempre gostei da política partidária e sempre acompanhei a política, sempre li sobre ela, tanto a nacional quanto a local. E claro que estar num partido é um envolvimento direto, mas também nunca tive vontade de ingressar em disputas. A partir da entrada de Laércio Oliveira na política eu passei a acompanhá-lo nesse aspecto. Passei inclusive a colaborar bastante com ele, tanto em campanhas quanto nos próprios mandatos que ele obteve, porque eu gosto dos bastidores da política. Eu gosto de ler sobre e de estudar sobre o assunto, embora não tenha mesmo muita aptidão para me envolver diretamente.
JLPolítica & Negócio - Uma pergunta elementar: o que é política para o senhor?
FC - É tudo. É um marco elementar civilizatório. Eu acho que fora da política só resta a barbárie. Então qualquer sociedade precisa dessa movimentação no aspecto do desenvolvimento da política para encontrar quais são as suas saídas, quais os aspectos de desenvolvimento e quais são as regulações dentro dela. Isso vale, inclusive, para uma atividade de classe, para uma política estudantil e para a política partidária.
JLPolítica & Negócio - Foi fácil aceitar o convite para uma segunda suplência de senador ou o senhor relutou?
FC - Repare esse aspecto: isso não estava programado. Isso foi uma coisa muito de última hora. Existiam alguns outros contatos, algumas possibilidades de aliança e tal e, na última hora, algumas dessas não deram certo e eu acabei cedendo ao apelo de Laércio e participando. Mas devo dizer que a minha participação na campanha seria a mesma se eu também não fosse candidato a segundo suplente.
JLPolítica & Negócio - Mas o senhor gostou de estar na suplência ou isso não tem qualquer inferência sobre a sua pessoa?
FC - Não ter qualquer inferência seria algo muito forte, talvez. É claro que, de alguma forma, você está agraciado com alguma coisa, mas eu digo que não era algo que eu desejava e muito menos que lutava por tê-lo.
JLPolítica & Negócio - Dizem no “mercado político” que o senhor é o alter ego de Laércio Oliveira? Ele é fácil de lidar ou é teimoso?
FC - Todas as pessoas têm seus pontos de vista e podem estar sendo perseguidos ou podem sofrer discordâncias em algumas coisas, mas não acho e não classificaria Laércio como teimoso. Pelo contrário. Ele é fácil de escutar e de dialogar.
JLPolítica & Negócio - O senhor opina no mandato mais como suplente ou como amigo e sócio empresarial dele?FC - Opino de todas as formas. Há uma ligação umbilical e muito grande entre a gente - então opino sobre qualquer coisa.
JLPolítica & Negócio - O senhor nunca parou para medir quem tem maior inferência, se é o amigo ou o suplente?
FC - Eu acho que é o amigo, obviamente.
JLPolítica & Negócio - Com toda a sua suspeição, qual o conceito que o senhor tem deste início de mandato dele?
FC - Eu acho que tem sido muito proveitoso. Ele está mantendo a característica que já vinha se manifestando nos outros mandatos, muito dedicado a uma busca do desenvolvimento econômico e buscando caminhos que possam servir de uma certa redenção econômica para o Estado de Sergipe. Embora Laércio trabalhe pelo desenvolvimento econômico e a defesa do setor produtivo e tal, que é no que ele acredita - isso mesmo na esfera nacional, mas com atenção muitíssimo especial ao que pode ser conquistado, ao que se pode trazer para o Estado de Sergipe, para que possa mudar a realidade da sociedade sergipana.
JLPolítica & Negócio - Como tem sido a sua relação com a coordenação e a estruturação política do PP de Sergipe?
FC - Eu passei um período, inclusive, como presidente do partido, mas não sou mais. Laércio é um presidente de honra e o presidente efetivo é João Adalberto. Mas participo, até por delegação deles e tal e pela minha experiência. Eu recebo a delegação de estar sempre estruturando campanhas, e funciono como uma espécie de coordenador-geral de campanhas do PP. Fiz isso com Laércio, fiz de certa forma na campanha municipal passada e certamente estarei fazendo na próxima campanha municipal também.
JLPolítica & Negócio - Mas o PP está bem em Sergipe hoje do ponto de vista de estruturação?
FC - Sim. Mas sempre menos do que a gente espera e deseja, é claro. Vamos, no entanto, continuar trabalhando pelo crescimento do partido nas eleições municipais vindouras para que chegue mais forte ainda na eleição seguinte, a de Governo do Estado em 2026.
JLPolítica & Negócio - O senhor subscreve as queixas do deputado federal Thiago Carvalho, de que no mando político no PP Laércio Oliveira é autoritário?
FC - Não subscrevo de modo algum. O que eu vi alegado por ele na imprensa, inclusive em Entrevista aqui, foram queixas sobre alguns municípios - e se referiu, por exemplo, a Nossa Senhora do Socorro, reclamando que negávamos a candidatura do Capitão Samuel a prefeito. Vou até voltar a conversar com Thiago sobre isso e colocar que é muito cedo para se definir ainda quem é candidato. Segundo, ele precisa entender que no caso de Socorro o prefeito Padre Inaldo é um Progressista - se vai ficar lá ou não, aí é uma outra história. Mas é um Progressista e também teria direito de opinar nessa situação, e obviamente até conduzir o processo caso continue no PP e tendo um candidato pelo PP. O vereador Elmo Paixão, da mesma Socorro, é um aliado histórico de Laércio de muitos anos, e também demonstra interesse em disputar essa eleição. O Capitão Samuel, que não é de Socorro, não tem raízes ali, também teria esse direito de pleitear, mas não teria uma preferência para se que diga fechadamente “não, ele quer ser, tem que ser”. Não vejo isso. Em relação ao próprio município de Thiago, Itabaianinha, lá Laércio sempre esteve à disposição. O prefeito Danilo Carvalho, que é irmão dele, foi convidado algumas vezes para ingressar no PP e nunca veio. Mas o diretório de lá continua sempre à disposição. E é claro que se Thiago ou Danilo quiserem um candidato à eleição dentro do PP, eles teriam completa preferência. Um como prefeito da cidade e o outro como deputado federal do partido teriam total preferência. Quanto a isso, não vejo problema.
JLPolítica & Negócio - Mas com que roupa o PP pretende ir às eleições municipais de Sergipe do ano que vem?
FC - O PP pretende ir às eleições de 2024 com roupa de gala. O PP vai se estruturar no Estado inteiro. Onde for possível ser cabeça de chapa, será. Onde não for possível e precisar compor, participando, inclusive, da chapa majoritária, também comporá. Porque eu acho que, em qualquer estrutura partidária, existe um grupo político de outros partidos aliados que pode ter apenas chapa proporcional em alguns municípios.
JLPolítica & Negócio - Haverá uma preponderância de foco na Grande Aracaju em detrimento da do resto do estado?
FC - Não há perspectiva de desconsiderar o resto do Estado, em hipótese alguma. Temos muitos municípios e todos são importantes, mesmo sendo menos populosos, mas que têm neles lideranças que, historicamente, estão ligadas e receberão atenção redobrada. Mas é claro que a Grande Aracaju, pela própria expressão aritmética do eleitorado no Estado, sempre tem uma preponderância e não é só na esfera do PP.
JLPolítica & Negócio - Como é que o senhor acha que deve ser a eleição de Aracaju: o PP vai ter que participação, vai tentar indicar um candidato ou vai respeitar alianças do governador e com o prefeito?FC - Entendo que indicar candidatos não é desrespeitar alianças. Todo partido quer sempre chegar ao poder. Inclusive já existe hoje dentro do PP pretendentes à candidatura de prefeito de Aracaju. O vereador Fabiano Olivera se interessa pelo assunto e já se pronunciou. Diria que o PP, portanto, vai querer sentar à mesa e discutir junto aos aliados qual é a composição da chapa. Desejo de estar na chapa majoritária o partido tem. Não será intransigente, obviamente. Vamos discutir com todos os partidos aliados quais candidatos terão a melhor chance de vitória e o que interessa é que esse grupo político logre êxito e ganhe as eleições.
JLPolítica & Negócio - O senhor se admite disputando algo eleitoralmente no futuro na esfera partidária?
FC - Não me vejo. Nunca tive essa vontade e nem me vejo com muita característica para o embate direto, para o pedido de voto ali no corpo a corpo. Não é esse o meu ponto forte. Prefiro me dedicar ao que acho que atuo melhor, que são os bastidores, o planejamento de campanha, e por aí vai.
JLPolítica & Negócio - Qual é a sua visão dos mandatos de Edvaldo Nogueira, Fábio Mitidieri e de Luiz Inácio Lula da Silva?
FC - As próprias eleições e reeleições de Edvaldo Nogueira em Aracaju demonstram que ele fez boas gestões - a última, de 2017 a 2020, notadamente pelas condições de saúde do ex-prefeito de João Alves, quando assumiu a cidade em uma situação muito ruim e conseguiu, até em tempo bastante exíguo, botar de novo o trem nos trilhos. Edvaldo desenvolve gestões exitosas, sem dúvidas. A prova disso também está no fato de que na eleição do ano passado ele liderava pesquisas de intenção de votos para o Governo, fazendo reverberar no Estado inteiro a popularidade que conquistou em Aracaju.
Fábio Mitidieri tem oito meses de gestão, mas acho que começou muito bem, com muito gás e muita vontade de fazer. Ou seja, é um governador que tem trabalhado diuturnamente sobre o assunto. Tem viajado, buscando possibilidades de investimento para o Estado, inclusive agora tem discussão com temas ligados ao desenvolvimento econômico, estando em evento nos Estados Unidos.
Ele tem lançado outros programas de alcance social, como a questão do Opera Sergipe, o Programa do Primeiro Emprego, e acho que, para oito meses de mandato, ele já fez muito e aponta que vai conseguir fazer muito mais. Eu acho que o presidente Luiz Inácio Lula Silva não começa bem esse terceiro mandato. Ele teve um primeiro mandato exitoso, sem dúvida, embora já manchado um pouco com as questões de corrupção. Mas, mesmo assim, com a economia boa, que geralmente é o que mais pesa - quando se tem pleno emprego, a economia crescendo, quase todo governante é reeleito -, ele foi bem. O segundo mandato eu acho que já teve muito mais dificuldades e nesse agora mais do que o primeiro e o segundo. Esse está com uma dificuldade grande, talvez até de não-compreensão por ele do momento político. Ao meu ver, ele está cometendo um dos erros que o imputam ao Bolsonaro, que é o de levar a coisa muito para um confronto o tempo inteiro. Isso se dá inversamente diferente do primeiro mandato, onde ele chegou ali com o tal do “Lulinha paz e amor”, muito mais conciliador.
JLPolítica & Negócio - Via Centrão, o mandato de Laércio Oliveira já é lulista desde criancinha?
FC - Não. Laércio não tem nenhuma afinidade política com o presidente Lula e nem com o Partido dos Trabalhadores - nem com o mandato dele. Agora, isso não quer dizer que ele será sempre uma oposição por oposição em qualquer tema. Essa nunca foi a postura dele, que trabalha muito, como eu disse, em prol do desenvolvimento do Estado e do Brasil. Estejam certos de que Laércio não será um voto de oposição apenas para ser do contra. Para que o outro não dê certo. Não é da matriz política dele.
JLPolítica & Negócio - O senhor e Laércio Oliveira, enquanto entes políticos, se dão por contentes com os espaços ocupados dentro do Governo de Fábio Mitidieri?
FC - Qualquer partido político almeja sempre crescer o seu espaço político, mas nesse caso não há nada aquém do que foi combinado. Tudo que foi combinado foi cumprido, então estamos republicana e devidamente aquinhoados.
JLPolítica & Negócio - Aos 40 anos, o que é hoje o Grupo Multserv no mercado nordestino?
FC - É um Grupo que surgiu e ainda é muito mais conhecido dentro da área de serviços terceirizados e que tem uma atuação diversificada. Mas não é só isso. Dentro da área de serviços terceirizados, que é mais conhecido como serviços de limpeza e restauração predial, a Multserv é uma empresa de facilities, termo de origem inglesa, mas que foi adotado no mundo inteiro como sendo todos aqueles serviços complementares à atividade de uma outra empresa, facilitando a vida de outras empresas. Nisso se incluem manutenções hidráulica, elétrica, de ar-condicionado, de limpeza. Manutenção predial. E na segurança, aí já com outra empresa por uma obrigação legal. A Multseg é a empresa específica, porque a atividade de segurança é regulamentada pelo Ministério da Justiça e precisa ter uma razão social em separado.
JLPolítica & Negócio - As empresas da matriz Multserv estão em quantos Estados do Nordeste hoje e geram quantos empregos?
FC - O Grupo como um todo gera hoje cerca de cinco mil empregos diretos. Estamos em oito Estados. Temos atividade muito menor, mas temos em São Paulo e no Paraná, temos clientes e vamos atendê-los aonde estão e onde houver necessidade. Para isso, somos escolhidos por um processo de contratação e vamos ocupar esse espaço.
JLPolítica & Negócio - As empresas sofrerem percalços durante a pandemia?
FC - Sofreram muitos e até hoje se ressentem. Repare: ninguém imaginava, no início, a duração da pandemia. Surgiu legislação do Governo Federal que assumia, para que as empresas não desempregassem, até 100% do salário - no caso de micro e pequenas empresas -, e não se criasse um caos social. Isso com recursos do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador. Para as empresas que não estão caracterizadas como micro e pequenas, como era o nosso caso, adotava-se 70% do salário pago pelo programa governamental e 30% pela empresa. Quem trabalha com a quantidade muito grande de pessoas e tem o seu faturamento atrelado a isso - imagine vários contratantes nossos que tiveram que fechar seus estabelecimentos e devolveram esse pessoal -, em um primeiro momento nós não fizemos demissão. Por que o que se esperava? Que de 30 dias a 60 dias isso (a pandemia) tivesse resolvido. Dentro desse programa você tinha que pagar 30% do salário e, ao mesmo tempo, para cada mês que tivesse nesse programa, você gera um mês de estabilidade, e isso durou, em alguns contratos, seis ou sete meses.
JLPolítica & Negócio - E no pós-pandemia os contratos suspensos voltaram?
FC - Não voltaram no mesmo volume. Então você imagine ter disponibilidade de caixa, que certamente não era próprio, era caixa com recursos do sistema financeiro, para bancar folha de um contingente grande de empregados, mesmo que em 30% dela! Então é preciso dizer aquilo foi um reflexo que, para você recuperar isso, imagino que sejam necessários de cinco a seis anos, e voltar para a situação anterior.
JLPolítica & Negócio - Ter aderido à política partidária e eleitoral com o sócio Laércio Oliveira facilitou ou dificultou a vida da Multserv?
FC - Eu não acho que facilitou e nem que dificultou. Eu nunca tive benefício a propósito disso. Mas também nunca me senti perseguido por nenhum grupo político, mesmo quando temos oposição dentro do Governo do Estado. Sob qualquer circunstância, o Estado sempre foi um cliente importante dentro do nosso portfólio.
JLPolítica & Negócio - O senhor e seu sócio conseguem separar as coisas políticas das coisas da empresa?
FC - Conseguimos separar, sim. E, de um tempo para cá, a empresa vem sendo muito mais profissionalizada em termos de gestão. Por exemplo, Laércio já está fora dela há muitos anos. Desde o primeiro mandato, ele não participa da gestão. É apenas acionista. E eu mesmo venho diminuindo a minha participação no dia a dia da empresa. Estamos fazendo uma reestruturação da Multserv. Criamos uma holding. A tendência é que eu fique mais livre. Guardando as proporções, que não somos nenhuma megacorporação, mas tenho ido muito mais para um Conselho de Administração, porque é esse o desenho que vem acontecendo. Sem dúvidas, estamos profissionalizando mais a empresa.
JLPolítica & Negócio - Com esta nova realidade do gás em Sergipe e os recursos do PAC para Estado, qual é a sua perspectiva para a Multserv até 2030?
FC - Diria que não só para a Multserv, mas para o Estado como um todo, Sergipe vai experimentar um ciclo de desenvolvimento muito maior do que o que teve com a chegada da Petrobras, que tem importância fundamental na história de Sergipe nos últimos 50 anos. A proporção de agora é muito maior. Talvez dez vezes mais do que o volume de gás e óleo que foi extraído em Sergipe dentro do período áureo dessa primeira fase da Petrobras. Certamente vai haver muito mais negócios para a economia como um todo.
JLPolítica & Negócio - O senhor nasce em berço empresarial ou se torna um empreendedor depois?FC - Não nasci em berço empresarial. Sou filho de funcionários públicos, de classe média. Sou o terceiro e último de três irmãos. Todos eles foram, dentro do que era a principal orientação da família, preparados para se tornar profissionais liberais. Foram cursar suas faculdades e se tornarem isso. Eu é que, desde muito jovem, fui nutrindo esse desejo de empreender e passei a desenvolver essa atividade. Mas ressalve-se: começando do zero.
JLPolítica & Negócio - Quando é que o senhor e Laércio se conhecem?
FC - Começamos com empresas concorrentes e nos juntamos depois. Nos conhecemos no sindicato da categoria. Eu iniciei a Multserv com outro sócio, o Aroldo José de Souza Silva, que era meu colega na Faculdade de Engenharia - o da La Tavola. Começamos a empresa no começo da faculdade. Aroldo ficou muito pouco tempo. Um ano.
JLPolítica & Negócio - E conheceu Laércio no sindicato?
FC - O conheci no sindicato. Fomos do mesmo sindicato. Ele, também com uma empresa concorrente, e eu fomos a um congresso mundial de serviços terceirizados no Rio de Janeiro. Nós dois lidávamos com empresas muito pequenas e nascendo ali. Começando as empresas, também muito jovens, fomos a esse congresso com o apoio, inclusive, do Sebrae, que não tinha esse nome. Acho que era Seag. De tão duros, nós rachamos o custo apartamento no hotel em que ficamos. Ali já nos conhecemos e conversamos bastante. Vê-se que ele e eu tínhamos já essa característica de empreendedores. Voltamos de lá com um negócio em comum, que era uma empresa ligada refeições coletivas e industriais. Começamos primeiro em sociedade com essa empresa e logo em seguida juntamos as nossas atividades como um todo.
JLPolítica & Negócio - As brigas entre vocês dois são constantes, espaçadas ou nunca ocorrem?
FC - Acredite: nunca ocorreram. Nós nunca brigamos. Embora tenhamos características completamente diferentes, mas sempre nos respeitamos. Sempre chegamos a um acordo. O fato é que nós sempre tivemos predisposição à sociedade, que não é todo mundo que tem. Numa relação societária, se você não souber abrir mão dos seus pensamentos e entender que aquilo é uma decisão coletiva, que alguém vai puxar os seus argumentos e vai convencer o outro, se você não tem essa predisposição, se você quiser todo sob uma visão de você só, ser imperial, você não conseguirá ter sócio.
JLPolítica & Negócio - Por que o senhor se afina tanto com o pensamento de direita?
FC - Eu acredito que a mudança que se faz dentro do crescimento econômico é a mola propulsora da sociedade. Essa é a questão. Mas se me perguntarem: “você se rotula inteiramente pelo pensamento liberal?”, eu diria que mais ou menos. Na verdade, me considero um centro-direita. Porque, dependendo do tamanho do desenvolvimento de um país, de um estado e de uma determinada região, vou defender determinadas políticas que não são as de um liberal puro. Acredito muito nisso. Por exemplo, eu não sou contra programas sociais. Muito pelo contrário. Acho que, na situação em que estamos, no país que temos, inclusive no Nordeste, precisa-se. São imprescindíveis. Agora, que você crie, também, as condições para que as pessoas tenham uma porta de saída. Você não pode ficar nisso a vida inteira.
JLPolítica & Negócio - O que é que a direita tem, que lhe seduz tanto, que a esquerda não tem?
FC - À esquerda falta essa compreensão de que as coisas não vão ser sempre dadas. Achar que é por aí, que esse não é o caminho. Porque acho que é justamente da forma inversa, que você precisa assistir, sim, aqueles que precisam dessa assistência, mas precisa fomentar o desenvolvimento e precisa de educação para que você crie condições de empregabilidade.
JLPolítica & Negócio - Então o seu direitismo não é alinhamento incondicional com Bolsonaro?
FC - Não. Tenho divergências muito grandes com a postura de Bolsonaro. No entanto, votei nele e votaria de novo nas mesmas condições que o mantivessem, porque acredito que o modelo predominantemente aí não é bom. Bolsonaro vai ter muitos erros - 30% de erro e 70% de acerto, dependendo do ponto de vista. Mas não acredito no outro modelo.
JLPolítica & Negócio - Tirando Fábio Mitidieri e Edvaldo Nogueira, quem é que o senhor vê ocupando bons espaços nos horizontes futuros da política de Sergipe?
FC - Acho que Laércio Oliveira (risos). É um senador da República, aliás, por muitos e até por alguns analistas considerado uma zebra, não se imaginava que chegasse lá, que fosse eleito. Mas nós estamos em uma mudança de geração, com alguns de idade mais avançada e outros que foram levados precocemente, como é o caso de Déda. Acho que Rogério Carvalho já mostrou, algumas vezes, uma capacidade de liderança e de força eleitoral grande, e não pode ser excluído. Tem o André Moura, da mesma forma. Esses aí são os principais sinalizadores de que estarão nos próximos dez anos pelo Estado de Sergipe. Agora, é claro que as surpresas sempre existem e sem dúvida pode ter alguém vindo aí que a gente não captou.
JLPolítica & Negócio - O histórico pessoal de Horácio Fontes, seu sogro, lhe deixou algo de positivo como espólio no modo de ver a vida e a política?
FC - Sim. Seu Horácio Fontes é uma pessoa muito querida e admirada não só por mim, como por boa parte da sociedade sergipana que o conheceu. Você mesmo eu sei que teve uma boa convivência com ele. Seu Horácio é um homem extremamente íntegro, expressamente dedicado ao que ele mais gostava na vida pública, que era dar atenção ao município dele, Boquim. Nunca foi um político que tivesse pretensões e aspirações a outros cargos, a não ser a Prefeitura da sua cidade, por onde desenvolveu bom trabalho por três vezes e até hoje é muito lembrado. A construção e as principais obras na cidade de Boquim ainda hoje são legados dos mandatos de Horácio Fontes.JLPolítica & Negócio - É possível dizer que era um modelo de homem público?
FC - Sem dúvida. Extremamente sério, extremamente honesto, zeloso com a administração ao extremo, e deixa o exemplo de lealdade com as pessoas, com os amigos. Uma dedicação muito forte à família, mas não só a do seu núcleo menor, de esposa e filhas, mas em um núcleo muito mais amplo, uma grande família pública que ainda hoje lembra e gosta dele.