De coadjuvantes a protagonistas, mulheres comandam empreendimentos em Sergipe | F5 News - Sergipe Atualizado

Empreendedorismo
De coadjuvantes a protagonistas, mulheres comandam empreendimentos em Sergipe
Levantamento aponta que mais de 105 mil mulheres estão à frente de uma empresa no estado
Economia | Por Victoria Costa 04/06/2023 22h00 - Atualizado em 05/06/2023 23h37


Busca pela equidade de gênero nos negócios, necessidade de independência econômica, possibilidade de adquirir novos conhecimentos e objetivos pessoais são motivos que podem explicar o crescimento do empreendedorismo feminino no Brasil.

O aumento de mulheres em cargos de comando - especialmente de pequenos negócios - é uma realidade e, em 2022, chegou a uma marca histórica: a última pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostrou que, no terceiro trimestre daquele ano, havia 10,3 milhões de mulheres donas de negócios no país. O levantamento teve como base dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Ainda segundo o estudo, as atividades com maior participação feminina são as de cabeleireiros e tratamento de beleza, comércio de vestuário, serviços de bufê e comida preparada, comércio de produtos farmacêuticos, de perfumes e de confecções.

A ascensão delas no empreendedorismo nacional, somada à força de setores, a exemplo do alimentício, colaborou para a constituição de um cenário no qual muitas mulheres se lançam a esse desafio.

A confeiteira Yasmim Almeida faz parte da estatística que investiu no comércio de alimentos. Ela começou a empreender ainda nova, sem grandes investimentos, com pouco dinheiro no bolso e, como muitas jovens mulheres, enfrentando uma dupla jornada: a faculdade e a produção dos doces que vendia nos intervalos entre as aulas.

“Queria muito trabalhar na época da faculdade, só que minha mãe tinha medo de eu começar a a trabalhar em algum local e deixar a faculdade de lado. Pensei que poderia agregar alguma coisa [empreendimento] com a faculdade enquanto fazia o curso de nutrição, para não atrapalhar. Cheguei à conclusão que poderia fazer brigadeiro e começar a vender na Universidade. Eu comecei com 30 reais: uma caixinha de leite condensado, um pacote de Nescau, um pacote de forminhas e granulado”, explica.

De acordo com um estudo da Serasa Experian divulgado no primeiro semestre de 2022, 40% das mulheres ouvidas afirmaram que, assim como no caso de Yasmim, a busca pela independência financeira foi o principal motivo que as levou a empreender. A maioria trabalha em casa, como a confeiteira, que começou na cozinha da própria residência. 

Segundo o Sebrae, em Sergipe, as mulheres comandam 34% dos negócios. O percentual coloca o estado como o décimo no ranking nacional e o quinto no Nordeste, em termos de empreendedorismo feminino. Os números, que levam em conta o terceiro trimestre de 2022, revelam que mais de 105.5 mil mulheres estão à frente de uma empresa em Sergipe. Os dados incluem aquelas que trabalham por conta própria e as que contam com empregados em seu negócio.
 

 
A importância da formalidade
A partir dessa vontade de ser independente, Yasmim começou a traçar o seu caminho no empreendedorismo, criou sua marca para divulgar os doces e um espaço de produção. Após dois anos mergulhada na atividade de confeiteira, decidiu formalizar o seu trabalho e se tornar Microempreendedora Individual (MEI). “Não me enxergo fazendo outras coisas. Quando vi que empreender seria o meu futuro, quando visualizei as coisas estavam dando certo e o trabalho estava ficando sério, decidi me tornar MEI. Eu já havia perdido muito tempo, já que não estava contribuindo”, relatou durante a entrevista.

Ela ainda complementa. “Se eu pudesse voltar atrás, eu teria aberto meu MEI no primeiro dia que eu comecei, porque, com certeza, eu perdi muito tempo. Para a gente que é microempreendedor, tempo é dinheiro”, pontuou.

Existe uma série de vantagens em formalizar o empreendimento, como a emissão de nota fiscal, direitos e benefícios previdenciários, Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) próprio, contribuição mensal de tributos com valores fixos, a possibilidade de contratar funcionários, entre outros.

Durante a entrevista, Yasmim ainda contou os motivos que a fizeram se tornar MEI. “Não abri lá atrás por falta de informação. Todo mundo falava que se fosse abrir o MEI seria uma burocracia, eu teria que pagar uma taxa a mais na prefeitura e em outros lugares. Eu pesquisei e percebi que não era nada do que as pessoas falavam. Depois disso decidi formalizar a minha empresa”, relata.

A estética é o ramo que mais cresce 

Um levantamento realizado pela Associação Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) e pelo Instituto FSB Pesquisa mostrou que, durante a pandemia de covid-19, o Brasil se manteve em 3º lugar no ranking de maior mercado do mundo no setor de estética, perdendo apenas para os Estados Unidos e para a China.

Diante de diversas histórias de determinação em empreender e a paixão pela inovações da estética, a empresária e professora universitária do curso de estética e cosmética, Andréa Vasconcelos, acredita que o setor evolui continuamente. "Sempre tem novidades, e hoje a gente observa uma segmentação cada vez maior dentro do mercado. Por exemplo, hoje você vê estética facial, mas tem uma profissional que cuida só de sobrancelha, outra só de cílios, então a gente percebe uma segmentação no mercado da beleza, é uma nova tendência, e isso faz com que o mercado cresça mais", explica.

Ela ainda aponta que o aumento de empreendedores na área da beleza é benéfico, mas que é necessário que os profissionais estudem e se capacitem para assumir a função. "A gente sabe que o melhor profissional para se destacar no mercado, precisa estudar independentemente da área. Tem oportunidade para todos, contanto que estudem, se dediquem e façam os seus planejamentos", considera.

Foi diante da necessidade de traçar um novo destino pessoal e profissional que Ângela Ferreira decidiu empreender na área da estética e buscou capacitação para isso. “Uma amiga me incentivou a fazer um curso técnico para começar a trabalhar na área. Quando eu terminei o curso, comprei os materiais e comecei a divulgar no Instagram os atendimentos a domicílio", diz.  

Desde criança, ela sente uma afinidade com o ramo da beleza, e, quando teve o primeiro contato com a estética, ainda no curso técnico, Ângela percebeu que aquilo poderia fazer parte da sua vida - não somente pela realização pessoal, mas também por transformar a vida de outras mulheres. 

"A gente vê, na prática, cada vez mais as pessoas vão procurando procedimentos estéticos como forma de se sentir bem, de fazer essas ações de autocuidado. Hoje em dia as pessoas andam muito corridas, mil coisas para fazer, então a estética tem essa proposta de trazer praticidade para o cotidiano", avalia Ângela Ferreira.

Por meio da especialização, a empreendedora conseguiu transformar a estética na principal fonte de renda. Hoje, ela trabalha com serviços como design de sobrancelhas e extensão de cílios, mas a caminhada até o próprio negócio foi longa: a esteticista começou de baixo até conquistar a independência financeira.

“Eu trabalhava em uma barbearia, comecei servindo café e depois eu fui para o cargo de recepcionista”, lembra. Ela pôde deixar a barbearia apenas cinco meses após passar a realizar o atendimento domiciliar.

Enquanto mulher empreendedora, ela sabe das dificuldades de gênero: “empreender é um desafio para qualquer pessoa, mas para mulher ainda é mais. Para as mulheres, o ramo da estética pode ser mais acessível, o que pode trazer para mulher uma independência financeira, tendo constância", pondera.

Muitos microempresários ainda não são formalizados. De acordo com um estudo realizado pelo Sebrae, baseado em dados do PNADC trimestral (2012 A 2020), somente no quarto trimestre de 2020 existiam cerca de 27,2 milhões de negócios não formalizados no país. Desse número, 8,8 milhões (32%) afirmavam ter CNPJ, enquanto 18,4 milhões (68%) não possuíam.

Ângela faz parte do percentual de pessoas não formalizadas. Apesar disso, ela entende a necessidade de tornar o seu negócio mais sólido e, segundo ela, esse será o próximo passo na sua carreira profissional. "É um objetivo que eu tenho de procurar saber mais sobre como funciona o MEI. Justamente porque entendo que tem vários benefícios, e por saber que é preciso começar a contribuir", finaliza.

Edição de texto: Ana Luisa
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