Uma matéria do F5 News expôs algumas lendas urbanas ou do campo que circularam por Sergipe mas, entre meias verdades e o imaginário popular, vicejou no estado uma lenda criada e produzida como alicerce de uma grande campanha publicitária.

Na década de 80, o publicitário Nairson Menezes tinha a conta da Empresa Sergipana de Turismo, a Emsetur. Corria o governo de João Alves Filho, o jornalista Raymundo Luiz era, então, secretário de Comunicação, e conta como tudo começou. "Uma agência de publicidade criou uma campanha chamada 'Pedrinha da Sorte' e essa pedrinha da sorte abarcava uma lenda de um cacique sergipano, que vivia às margens do rio Japaratuba, e ele se chamava Cajuieba. Ele se deslocou para São Cristóvão, encontrou as pedrinhas, mandou encastroar e, com isso, todo visitante que chegava em Aracaju, no aeroporto ou na rodoviária, recebia essa pedrinha, como se ela desse sorte", relatou ele ao F5 News.

A jogada de marketing, que incluia um folder com a lenda das tais pedrinhas da sorte, teve boa repercussão entre os turistas, mas deu-se o contrário no bojo das áreas da cultura e da história de modo geral.

O ex-vice reitor da Universidade Federal de Sergipe, no periodo de 92 a 94, José Paulino da Silva, doutor em História da Educação, publicou um artigo em dezembro de 2020, no Jornal do Dia, em que recorda a polêmica. "A Secretaria de Turismo do Estado de Sergipe publicou um folder equivocado sobre a origem da palavra Aracaju. Entre outras ‘invenções’, aquele folder dizia que, antigamente, em terra onde hoje é Aracaju, vivia um cacique de nome Cajuieba, que dava uma pedrinha para quem passasse por aqui dizendo que este local dava sorte. Daí Aracaju, segundo o folder, passou a significar terra que dá sorte", narrou.

E prossegue: "Esta falsa versão, antes de ser amplamente divulgada, chegou ao conhecimento do Departamento de História da UFS. Ela foi amplamente debatida em reunião extraordinária do Departamento. Resumo: foi aprovado por unanimidade o encaminhamento de um expediente ao governador propondo a imediata retirada de circulação do folder, mostrando que, em nome da verdade histórica, o erro não deveria persistir. O então governador, João Alves Filho, ordenou de imediato que fosse retirado de circulação o tal folder".

O jornalista Adiberto de Sousa também relembrou a polêmica em uma coluna publicada em 2012, onde trata do assunto em seu estilo bem-humorado: "Na década de 80, historiadores sergipanos tiveram que ir a publico desmentir a existência da lenda do cacique Caju Ieba, criada por marqueteiros do governo para divulgar o turismo estadual. A falsa história dava conta que, para guiar seus guerreiros, o valente cacique deixava pela mata pedrinhas conhecidas como Ieba. Depois, descobriu-se que as ditas pedrinhas davam sorte a quem as encontrasse. Simultaneamente à falsa lenda, o governo mandou confeccionar milhares de chaveiros de pedrinhas brancas que eram distribuídas pela Empresa Sergipana de Turismo (Emsetur) a quem visitava Sergipe. Para evitar que a 'lorota' ganhasse mais corpo, historiadores foram à imprensa e desmentiram a existência de tal cacique em Sergipe, assim como das pedrinhas da sorte. Encabulado, o governo colocou a viola no saco e a Emsetur destinou ao lixo os chaveiros de pedrinhas, sepultando a história que nunca existiu".