UFS identifica caso de síndrome de Guillain-Barré associada à covid-19 em Aracaju
Esse é o 1º relato científico que identificou RNA do vírus no fluido cerebrospinal Cotidiano | Por F5 News 18/05/2021 09h25Um estudo desenvolvido pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) documentou um caso inédito de síndrome de Guillain-Barré associada à covid19 em uma paciente de Aracaju. Segundo a publicação na revista científica The Pediatric, esse é o primeiro relato científico no mundo em que o material genético do SarsCoV-2 foi identificado no fluido cerebrospinal, também conhecido como líquor, da adolescente de 17 anos com a complicação neurológica.
O intervalo entre o início dos sintomas da covid-19 e o surgimento de condições neurológicas provocadas pela Guillain-Barré foi de apenas uma semana. A identificação do RNA do vírus causador da infecção no líquor – responsável por proteger, lubrificar e nutrir o sistema nervoso, preservando as estruturas cerebrais e medulares – confirmou, pela primeira vez, a hipótese de que a doença pode desencadear a síndrome rara por invasão viral direta no tecido nervoso.
“Alguns casos dessa doença rara têm sido diagnosticados em pessoas com covid-19 em todo o mundo, mas o entendimento até o momento é de que a patogênese desta condição neurológica quando associada à covid-19 era apenas imunomediada. Este estudo acrescenta informações importantes sobre a forma como o novo coronavírus pode levar a alterações no sistema nervoso”, explica o chefe do laboratório de Patologia Investigativa da UFS, professor Paulo Ricardo Martins Filho, que coordenou a pesquisa.Ao todo, sete pesquisadores participaram do estudo. Eles já conseguiram identificar 42 casos de pacientes com a síndrome rara associada à covid-19 no mundo. Porém, diferentemente do caso relatado em Sergipe, os 25 pacientes submetidos à coleta do líquor tiveram o resultado negativo para a presença do RNA do Sars-CoV-2 no líquido cerebroespinhal.
“Esses dados são extremamente relevantes para que possamos compreender a capacidade de neuroinvasividade do coronavírus e melhorarmos a forma como os pacientes são tratados,” acrescenta o professor Paulo Martins.
A médica neurologista do Hospital Universitário de Aracaju (HU-UFS), Lis Campos Ferreira, está acompanhando o quadro clínico da paciente que ficou hospitalizada durante 15 dias em fevereiro deste ano.
“Ela já teve alta e está clinicamente muito melhor. Ainda tem fraqueza muscular, mas já consegue andar sem ajuda. Continua em seguimento neurológico ambulatorial e reabilitando na fisioterapia,” afirma a médica.
Doença rara
Guillain-Barré é um distúrbio autoimune, no qual o sistema imunológico ataca os nervos do próprio corpo, tendo origem geralmente por uma infecção anterior à síndrome. O risco provocado pela doença se eleva quando ocorre o acometimento dos músculos respiratórios, podendo levar a pessoa à morte ao comprometer o funcionamento do coração e dos pulmões.
Há cinco anos, o Brasil sofreu um aumento expressivo no número de diagnósticos da doença por causa da associação à epidemia do zika vírus. Porém, ainda não há registros oficiais sobre a incidência da síndrome rara na população brasileira.