Confira como a tolerância pode melhorar inclusive a sua vida profissional
Linguista Igor Gadioli mostra também que, apesar de bem vinda, a tolerância tem limites Cotidiano | Por Monica Pinto 16/11/2024 18h12Neste sábado, 16 de novembro, é comemorado o Dia Internacional para a Tolerância, instituído pela Organização das Nações Unidas. "A tolerância é um pilar fundamental da capacidade de uma sociedade global para coexistir harmoniosamente, respeitando as diversas crenças e promovendo a compreensão mútua”, conceitua o portal da Unesco [United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization], braço da ONU. A entidade registra ainda que a tolerância é a responsabilidade que defende os direitos humanos, a democracia e o Estado de direito e exige que os poderes públicos invistam nas pessoas e na realização do seu pleno potencial através da educação, da inclusão e das oportunidades.
Se a tolerância já se revelou um pressuposto civilizatório basilar nas relações humanas, na vida profissional ela pode impulsionar carreiras, em paralelo estabelecendo também menos percalços na caminhada laboral, ao promover a cooperação mútua e o respeito. É o que defende o mestre em Linguística Aplicada Igor Gadioli, terapeuta em Comunicação com abordagem sistêmica, que envolve a dedicação a disciplinas como Linguística, Sociologia, Psicologia e Filosofia.
Depois de atuar por dez anos como professor efetivo na Universidade Federal de Sergipe, ele se voltou a um projeto de desenvolvimento pessoal e, a convite da Editora Planeta, está escrevendo um livro sobre Comunicação Assertiva. Hoje, por meio de cursos e canais gratuitos, Gadioli cuida de uma comunidade com mais de 170 mil pessoas e de mais de 1.200 alunos que se mostraram e mostram dispostos a buscar uma comunicação mais consciente.Nessa entrevista dele ao F5 News, confira como tolerância e maiores chances de sucesso profissional se mesclam nessa trajetória.
F5 News - No que a tolerância pode impactar direta e positivamente o mundo dos negócios?
Igor Gadioli - Ser tolerante permite exercitarmos as várias habilidades sociais. Quem não é tolerante não consegue lidar com a diferença e termina por descambar para a agressividade ou a reprimir o seu julgamento sob a máscara da passividade. Sem tolerância, fica muito difícil atuar plenamente num mundo profissional que espera muito da inteligência emocional de seus colaboradores, desde os mais simples conflitos em breves atendimentos até decisões estratégicas de grandes governos ou corporações com impacto sobre populações inteiras.
F5 News – Como atuar de modo a incentivar essas habilidades sociais?
Igor - Vivemos num mundo de exacerbada velocidade, e muitos ambientes profissionais exigem esse ritmo nas respostas a reuniões, entregas e serviços; isso condiciona as pessoas a reagir aos eventos - o que implica em atitudes automáticas e irrefletidas -, quando o ideal seria que elas tivessem tempo para respirar e responder, o que implica em uma comunicação mais sensata e consciente.
F5 News – Como fazer disso uma prática cotidiana?
Igor - De maneira mais prática, a tolerância permite que possamos lidar assertivamente com atritos ou mal entendidos, desenvolvendo um espaço mental para sair da ofensa e da impaciência para dar ao outro o benefício da dúvida num momento de desconforto. Com a tolerância, podemos lidar com o ruído de comunicação de um lugar de empatia, curiosidade e calma, ao invés de um lugar de egoísmo, julgamento e raiva.
Se quisermos desenvolver a tolerância e oferecê-la aos outros e a nós mesmos, precisamos abrir mais espaço nas relações para que, ao invés de simplesmente dizer o que temos vontade no calor de um momento de conflito, possamos respirar, ponderar e esperar para nos expressarmos com mais serenidade. A tolerância nos convoca a respirar fundo, a fazer uma pausa antes de falar e a procurar abrir mão de nosso julgamento ou raiva em nome de um sentimento mais compassivo e cooperativo.F5 News – Há como definir limites para o exercício da tolerância?
Igor - Há de se fazer essa importante ressalva: naturalmente, nem toda maneira diferente de ser é digna de tolerância, pois há limites para o que devemos suportar - e um desses limites é a violência. De acordo com Karl Popper, “se formos de uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendermos a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados, e com eles, a tolerância.” Ou seja: ser tolerante é uma prática que constrói a paz, mas ela precisa terminar diante da violência. Tal como qualquer outra virtude, portanto, a tolerância também tem um limite saudável a ser observado.
Outra ressalva se faz necessária: ser tolerante em nada tem a ver com ser passivo, submisso ou viver se reprimindo; antes, implica em sermos ativos no gerenciamento das nossas próprias emoções e opiniões com a intenção de enxergar o outro – e a nós mesmos - de maneira compassiva e ponderada.