Sergipe tem maior taxa de mortes por consumo de álcool do Brasil, diz estudo
Pesquisa “Álcool e a Saúde dos Brasileiros - Panorama 2021” detalha o problema Cotidiano | Por Laís de Melo 15/07/2021 11h20 - Atualizado em 15/07/2021 11h49Uma pesquisa realizada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), intitulada “Álcool e a Saúde dos Brasileiros - Panorama 2021”, revela que Sergipe tem, em todo Brasil, a maior taxa de óbitos associados de maneira parcial ou totalmente ao uso de álcool: são 39,3 mortes por 100 mil habitantes. A média nacional de mortes por essa razão é de 32,6 óbitos/100 mil. Os dados foram obtidos em primeira mão pelo F5 News.
Já com relação ao índice de internações atribuíveis ao uso de álcool, seja de maneira parcial ou total, Sergipe apresenta uma taxa menor do que a média nacional, que é de 172.88/100 mil, com 119.9 por 100 mil habitantes. Neste caso, o estado mantém a quarta menor taxa do Nordeste, ficando atrás da Bahia (108.9/100mil), Maranhão (115.2/100 mil) e Alagoas (115.5/100 mil).
Com as altas taxas de internações, a pesquisa observou também um impacto financeiro e econômico com custos hospitalares. Segundo os dados, o aumento das internações parcialmente atribuíveis ao álcool no Brasil foi o principal fator para o aumento de despesas, que passou de 3,5% para 3,8%, no recorte dos custos das internações totais entre 2010 e 2019.
“Ressalta-se que, para além da análise do custo de internações TAA e PAA, o impacto econômico do álcool ocorre de forma direta e indireta, desde despesas com hospitais e outros dispositivos do sistema de saúde, bem como gastos públicos com os sistemas judiciário e previdenciário devido aos afastamentos do trabalho, perda de produtividade, absenteísmo e desemprego”, informa a pesquisa.
A capital sergipana está entre as cidades com o maior índice de pessoas que consomem álcool de maneira abusiva, com 19,58. O índice é maior do que o do Nordeste, que é de 18,96, e superior ao do Brasil, de 17.80.
Os problemas envolvendo o consumo abusivo de álcool são diversos e podem interferir de maneira significativa na saúde física e mental das pessoas, podendo levar até mesmo à morte. De acordo com o estudo do CISA, os riscos de agravos de saúde totalmente atribuíveis ao álcool podem ser de dependência, envenenamento, intoxicação, miopatia alcoólica e transtorno mental, entre outros.
Além disso, outros problemas podem ser causados pelo consumo do álcool mesmo que de maneira parcial, como doenças cardíacas, cânceres, AVCs, e até mesmo mortes por acidentes de trânsito, um fato que chama atenção não só no Brasil, mas no mundo todo. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde, cerca de 1,35 milhão de pessoas morrem a cada ano em decorrência de acidentes de trânsito, conforme divulgou a pesquisa.
Com esse número, os acidentes de trânsito ocupam a nona posição entre as principais causas de morte no mundo. Ainda segundo o estudo, a condução sob influência de álcool ou outra substância psicoativa figura entre os principais fatores de risco ligados aos acidentes de trânsito. Isso ocorre porque, mesmo em pequenas quantidades, o álcool é capaz de alterar os reflexos do condutor.
A pesquisa trouxe ainda um capítulo específico sobre a relação do consumo de álcool e a pandemia da covid-19, já que o consumo de álcool se acentuou durante a crise sanitária como uma tentativa de aliviar os percalços comuns a esse período. Dados da Fiocruz apontam que 24% dos entrevistados que relataram sentimentos de tristeza e depressão aumentaram seu consumo de bebidas alcoólicas. Inclusive, em abril de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que os países limitassem o consumo de bebidas alcoólicas na pandemia, porque além de danos à saúde, o álcool gera aumento da violência.
“O álcool é consumido por cerca de 43% (OMS, 2018) da população mundial com 15 anos ou mais, que, às vezes, o utiliza equivocadamente como “válvula de escape”, ainda que seja uma substância psicoativa, com propriedades que podem levar à dependência. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estabelece como nocivo o padrão de consumo de álcool associado a maior risco de danos à saúde ou à ocorrência de consequências sociais e de saúde — tanto para quem consome quanto para as pessoas próximas a ele e a sociedade em geral”, aponta a pesquisa.
Foi observada também uma tendência de aumento significativo de consumo de álcool entre as mulheres, apesar de ainda ser inferior ao índice masculino. "As mulheres são biologicamente mais sensíveis aos efeitos da substância, apresentando maior probabilidade de desenvolver problemas relacionados ao uso com níveis de consumo mais baixos e/ou idades mais precoces", alerta o estudo.
O índice de consumo abusivo de álcool entre homens em Aracaju é de 29.79, e se mantém acima da média nacional deste público, que é de 26.03. Já as mulheres aracajuanas apresentam índice de consumo abusivo de 11.29. No entanto, uma previsão global apresentada nessa pesquisa aponta que haverá uma redução progressiva da diferença entre homens e mulheres que bebem até 2030, ou seja, com o aumento no consumo de bebidas alcoólicas por pessoas do sexo feminino, a tendência é que a diferença entre homens e mulheres nesse sentido se reduza, um dado preocupante.
“Os dados mais recentes da pesquisa Vigitel mostram uma diminuição da prevalência de mulheres abstêmias nos últimos anos e um correspondente aumento do consumo abusivo de álcool entre elas. A análise temporal mostrou tendência de aumento do Beber Pesado Episódico (BPE), com 5,08% ao ano, e de redução de abstenção (-1,98% ao ano) entre as mulheres na faixa etária de 18 a 34 anos no período de 2010 a 2019”, diz o texto da pesquisa.