Laudo aponta que menino de 11 anos morto em Canindé foi baleado pelas costas
Vitor foi ferido num confronto entre PMs e traficantes e morreu no hospital Cotidiano | Por Aline Aragão 01/06/2021 19h30Vitor da Silva Santos, de 11 anos, foi alvejado nas costas. A informação consta no Laudo Pericial Cadavérico, do Instituto Médico Legal de Sergipe (IML), ao qual o F5 News teve acesso nesta terça-feira (1). O menino foi ferido durante um suposto confronto entre policiais militares e traficantes no bairro Olaria, em Canindé de São Francisco, Alto Sertão sergipano, no dia 23 de maio.
O exame pericial necroscópico foi requisitado pela delegada do município de Canindé de São Francisco, Marília Miranda, no dia 25 de maio, e assinado pelo médico legista George Queiroz. De acordo com o documento, o corpo de Vitor possuía dois ferimentos perfurocontuso, sendo um localizado na região lombar esquerda, de bordas regulares e invertido, indicando ser o orifício de entrada; e o outro localizado na região mesogástrio (periumbilical), de bordas irregulares e evertidos, que indica ser orifício de saída.Ainda de acordo com o laudo, a vítima teve como causa mortis choque hipovolêmico decorrente de hemoperitônio por trauma abdominal transfixante.
Entenda
Segundo informações do 4º Batalhão da Polícia Militar (4º BPM), na tarde do domingo, dia 23 de maio, os policiais foram até o bairro Olaria averiguar uma ocorrência de disparos de arma de fogo e, no local, teriam sido recebidos a tiros por três suspeitos e revidaram. Os suspeitos fugiram em seguida, deixando para trás o menino ferido. Próximo à criança os PMs encontraram um revólver calibre 38, com quatro munições deflagradas. No hospital, Vitor teria dito que estava acompanhado de dois traficantes, identificados como Magrão e Bebê.
F5 News também teve acesso ao relatório policial do dia da ocorrência, com o relato dos dois policiais militares, de patente inicial, que participaram da ação. No documento também consta o depoimento de Betânia, apontada como tia que detinha a guarda de Vitor. Na delegacia, ela informou que o menino era usuário de drogas e andava no meio dos traficantes.
Durante os últimos dias vários protestos foram realizados no município, gerando um clima de comoção. Familiares pedem por justiça, acusando a PM pela morte do menino, afirmando que Vitor não tinha ligação com o tráfico, que era trabalhador; vendia cocadas pelas ruas e era inclusive conhecido como "Juninho da Cocada".
Com a repercussão do caso, o Ministério Público Estadual entrou em ação, foi ao município e cobrou explicações à PM sobre as circunstâncias da morte de Vitor.
No ofício, datado de 26 de maio, ao qual o F5 News teve acesso, o promotor de Justiça Emerson Oliveira Andrade solicita que “todos os policiais militares que direta e/ou indiretamente estiveram presentes no local do fato” sejam identificados, bem como a respectiva guarnição e viatura utilizada, com a consequente oitiva deles.
No documento, o promotor também recomenda a identificação de todas as armas utilizadas pelos policiais militares para que sejam periciadas pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil, que conduz o inquérito instaurado para esclarecer as causas do homicídio do garoto.
A Corregedoria da Polícia Militar ainda não se pronunciou sobre o assunto.