“Falar sobre suicídio estimula que pessoas parem para se observar”, diz psicóloga
Ingrid Frazão mostra como a sociedade vem lidando com um problema de escala mundial Cotidiano | Por Monica Pinto 08/09/2024 18h40O Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, 10 de setembro, foi criado em 2003 pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio. Em 2013, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM) garantiram visibilidade e colocaram no calendário nacional a campanha internacional Setembro Amarelo, este um conjunto de ações de enfrentamento ao problema.
Definido em seu portal específico como a maior campanha antiestigma do mundo, o debate sobre o suicídio e suas razões ficou por muito tempo no território dos tabus, dada a delicadeza do tema e as dificuldades em abordá-lo.
O portal sobre a campanha mantido pela Associação Brasileira de Psiquiatria informa que, de acordo com a última pesquisa realizada pela OMS em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados, que elevam a estimativa para um milhão de casos anuais. “No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia”, diz o site relativo ao Setembro Amarelo.
F5 News conversou sobre essa questão dramática que atinge escala planetária com a psicóloga e palestrante Ingrid Frazão, 30. Formada pelo Centro Universitário Estácio de Sergipe, ela afirmou ao portal ter como principal missão de vida cuidar de pessoas.
Ingrid trabalha com jovens, adultos e idosos que buscam uma vida mais significativa e saudável, entendida como aquela que se vive “através de escolhas pautadas na intencionalidade do autocuidado e na percepção que não vivemos sozinhos”. Confira.
F5 News - A prática do suicídio vem sendo muito associada a um quadro de depressão por parte do(a) autor(a). Até que ponto essa associação se sustenta?
Ingrid Frazão - O suicídio é um fenômeno complexo e multifatorial. Entendemos que existem algumas causas que potencializam a tomada de decisão de uma pessoa que decide pelo suicídio e, de fato, um dos maiores fatores atuais advém da condição dos transtornos mentais, sendo a depressão um dos maiores potencializadores.
F5 News - Há um perfil de personalidade mais propenso ao suicídio?Ingrid - Não há um tipo em específico, mas temos traços de personalidade e características que podem ter maior propensão a considerar o suicídio, sendo elas: pessoas que apresentam alta impulsividade, baixa autoestima, tendência ao isolamento, baixo limiar para lidar com o estresse e frustrações, que passaram por abusos e traumas.
F5 News - Esse tema foi considerado tabu por muito tempo, mais recentemente, porém, passou a ser defendida a importância de abordá-lo de frente. O que mudou?
Ingrid - Enquanto sociedade temos percebido o quanto precisamos falar sobre a importância do cuidado com a saúde mental, e como consequência, temos conseguido desmistificar inúmeros pré conceitos oriundos desse tema, e um deles é o suicídio, que há alguns anos atrás, nem era possível ser falado.
Hoje entendemos que falar sobre saúde mental e suicídio através de informações educacionais tem estimulado que as pessoas parem para se observar e também estarem atentas às pessoas que estão ao seu redor. Além disso, essas informações educacionais possibilitam mostrar para sociedade quais são os possíveis canais e profissionais que poderão lhe auxiliar ou alguém próximo, caso esteja enfrentando esse sofrimento.
F5 News - A depressão é chamada de "mal do século" e cresce entre crianças e adolescentes. Como os pais podem ficar atentos ao surgimento de pensamentos suicidas, nem sempre manifestados claramente?
Ingrid - Os pais precisam fazer parte do cotidiano dos seus filhos. Ter tempo de qualidade. Promover um ambiente saudável, de escuta, de identificação e validação dos seus sentimentos. Isso fará com que crianças e adolescentes se sintam seguras em trazer o que sentem para seus familiares. Além disso, os pais precisam aprender sobre emoções e ensinar aos seus filhos sobre o assunto, assim, todos poderão identificar e conversar abertamente através de uma linguagem onde serão compreendidos e possibilitarão possíveis soluções em família.
F5 News - O mundo irreal exibido pelas redes sociais contribui para alimentar a tendência ao suicídio?
Ingrid - Como falado anteriormente, o suicídio é multifatorial, mas com certeza, o excesso de uso de telas, (redes sociais, jogos) tem influenciado as pessoas a potencializarem a desesperança e o sentido sobre a vida. Sem contar que temos diminuído nossas interações sociais e temos aumentado os relacionamentos virtuais, o que ocorrendo em excesso causa um “atrofiamento” das habilidades sociais para o ser humano.
F5 News - Como fazer a abordagem do tema com crianças, considerando o acesso cada vez mais precoce a conteúdos online? Ou não deve ser feita?
Ingrid - Crianças sempre aprenderão através do lúdico, do brincar. Crianças precisam ser ensinadas sobre as suas emoções. Aprendendo a identificá-las, manejá-las e terem pessoas e espaços que promovam segurança para falar sobre o que sentem, assim, conseguiremos ter maior clareza e proximidade com elas, falando sobre o quanto vale a pena vivermos.
F5 News - Como proteger as crianças e adolescentes de "jogos" que surgem eventualmente nas redes, com desafios que chegam a incluir a automutilação?
Ingrid - Os pais precisam acompanhar o que suas crianças e adolescentes utilizam. Não temos outro caminho, além do acompanhamento. Além disso, utilizar dos recursos atuais, que limitam o acesso a alguns filmes, desenhos e jogos que não são saudáveis e educativos.
Porém, reforço sobre a educação, as conversas familiares sobre os assuntos que permeiam essa idade, sempre explicando através de uma linguagem clara e acessível a criança e ao adolescente