7 de Setembro: você conhece a história da Independência do Brasil?
Há 200 anos, a emancipação política do país foi marcada por longo processo Cotidiano | Por Ana Luísa Andrade 07/09/2022 13h06
Este ano, é comemorado o bicentenário da Independência do Brasil. Em 7 de setembro de 1822, D. Pedro I gritava às margens do Rio Ipiranga: “Independência ou morte!”. O grito de independência deu nome ao famoso quadro do pintor Pedro Américo, de 1888, que retrata a declaração de emancipação política da colônia brasileira em relação ao império português.
Entretanto, historiadores apontam que essa é uma visão romantizada do acontecimento, uma idealização do fato histórico. “A independência do Brasil não foi tão gloriosa quanto retratada no famoso quadro pintado por Pedro Américo em 1888, no tempo do segundo reinado; era uma homenagem do filho, Dom Pedro II, ao seu pai, Dom Pedro I. Ele serve para glorificar a monarquia e exaltar o nacionalismo brsileiro na sua data primordial. É uma representação artística, não a realidade”, disse o historiador Luiz Antônio Pinto Cruz em entrevista ao F5 News.
Apesar de o Brasil ter se tornado uma nação soberana politicamente, não ocorreram mudanças drásticas imediatamente. Segundo Luiz Antônio, a emancipação política do Brasil não veio acompanhada de independência econômica nem de grandes mudanças na estrutura social: o país continuou sendo uma monarquia latifundiária e escravocrata.
Na prática, o processo de independência do país foi marcado por uma série de lutas políticas que ocorreram antes, durante e depois do 7 de setembro, sendo iniciado a partir das revoltas emancipacionistas - a conjuração mineira, conjuração baiana e a revolução pernambucana.
Outro fator primordial para a declaração de independência do Brasil foi a chegada da corte portuguesa - Dom João VI e sua família - no país. “Eles vão tomar medidas que vão modernizar a colônia, como a abertura dos portos às nações amigas. A elite brasileira passa a ter o sabor de como é gerar riqueza aqui”, aponta Luiz Antônio.
De acordo com o historiador, esse processo gerou insatisfação à Coroa portuguesa, que passou a exigir, por meio de cartas e mensageiros, que a família real retornasse ao país. Nesse sentido, Luiz Antônio indica que a imperatriz Maria Leopoldina, esposa de Dom Pedro I, teve um papel fundamental para que o então príncipe regente permanecesse em terras brasileiras.
Foi ela quem convocou e presidiu o conselho de estado que discutiu as deliberações diante das cartas que chegavam de Portugal, além de ter redigido o documento de declaração de independência do Brasil. Assim, em janeiro de 1822, Dom Pedro I permanece no país e inicia aliança com a elite brasileira, o que ficou conhecido como “Dia do Fico”.
Outro personagem cujo papel foi fundamental nesse processo foi José Bonifácio, conselheiro, mentor e ministro de Dom Pedro I. De acordo com o historiador Luiz Antônio, ele foi responsável por desenvolver efetivamente o projeto de emancipação do Brasil, que continuaria, entretanto, adotando a monarquia, o modelo latifundiário e a mão de obra escrava.
“A independência do Brasil, de modo geral, representou o triunfo do conservadorismo de José Bonifácio. Ele promoveu a independência, mantendo a monarquia e o caráter latifundiário, agrário, escravocrata, exportador da economia, favorecendo os interesses da elite local. Apesar da soberania política, o Brasil continuou economicamente dependente: agora da Inglaterra”, detalha o historiador.
Enfim declarada a independência no 7 de setembro, Dom Pedro I ainda precisou enfrentar as chamadas “guerras de independência”. Luiz Antônio explica que houve resistência de diversas províncias governadas por portugueses, que não aceitavam o desligamento entre Brasil e Portugal e não queriam Dom Pedro I como imperador. Travadas as revoltas contra o português, ele precisou à contratação de mercenários para obrigar o reconhecimento do Brasil enquanto uma nação soberana e independente de Portugal.
Luiz Antônio Pinto Cruz é graduado em História (Licenciatura) pela Universidade Federal de Sergipe e mestre e doutor em História pela Universidade Federal da Bahia.