Por mais que os transtornos mentais façam parte da vida humana, a discussão sobre esse assunto é atual. Um exemplo disso é o conteúdo trabalhado no livro Holocauto Brasileiro, da escritora e jornalista, Daniela Arbex. Na obra, ela traz relatos de pessoas que vivenciaram os maus-tratos sofridos por brasileiros considerados “anormais”. Estima-se que cerca de 60 mil pessoas morreram no hospício de Barbacena, na década de 70 e 80, pelo desconhecimento sobre a mente.

Apesar de já existir uma discussão sobre a importância da saúde mental, dados do Ministério da Previdência Social mostram um aumento significativo de transtornos, especialmente relacionados ao trabalho. Segundo o órgão, em 2023, foram concedidos 288.865 benefícios por incapacidade devido a transtornos mentais e comportamentais no Brasil, número 38% maior do que em todo o ano de 2022.

Esse cenário não se restringe ao âmbito nacional, em Sergipe é possível ver seus reflexos. A psicóloga clínica Rita de Cássia Muniz atende em Aracaju e, falando ao F5 News, confirmou que os transtornos mentais estão entre as principais causas de afastamento do trabalho no estado. 

“Agendas sobrecarregadas, cobranças excessivas, sentimento de desgaste, a falta de reconhecimento, o acúmulo de funções, as metas inatingíveis, tudo isso pode levar uma pessoa a desenvolver ou intensificar as doenças mentais”, disse. 

Quando questionada sobre o transtorno que mais causa afastamentos, Rita elencou a Síndrome de Burnout. “É um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastantes que demandam muita competitividade ou responsabilidade. Sua principal causa é justamente o excesso de trabalho”, explica ao F5 News.

Esses sintomas foram vivenciados por uma profissional sergipana de 42 anos, que pediu para não ser identificada e que atuava na área da saúde. No final do ano de 2019, ela precisou se afastar do trabalho que desempenhava, pois foi diagnosticada com a Síndrome de Burnout. 

Na época, ela enfrentou uma série de sintomas que a levaram a procurar ajuda profissional médica. “Eu vinha me sentindo mal no trabalho, mas achava que era algum problema de saúde físico, que também era, pois minha imunidade desceu muito. Muitas vezes eu acordava 4h30 (o horário que acordava para trabalhar), mesmo nas folgas, com uma dor de cabeça muito forte. No trabalho eu tentava disfarçar o máximo que podia, mas meu coração acelerava, eu voltava várias vezes com febre pra casa. Um determinado dia eu tive lapsos de memória no trabalho, foi a partir disso que resolvi procurar um psiquiatra”, relata ao F5 News.  

A sergipana permaneceu afastada pelo INSS por um ano e retornou ao trabalho no início de 2021. Mas o processo de recapacitação para realizar as atividades antes desempenhadas não foi fácil.  “Mesmo quando afastada eu passei tempos para me sentir melhor, pois não suportava as pessoas me perguntando sobre o trabalho. Então, me isolei e a pandemia de covid me ajudou muito nesse processo, já que no início as pessoas queriam estar junto, ajudar de alguma forma, mas a única forma de me ajudar era me deixar sozinha, pois eu necessitava muito limpar a mente, porque eu fiquei um longo tempo com confusão mental”, disse ainda na entrevista ao site.

Outros transtornos 

A Síndrome de Burnout é o transtorno mental que mais responde por afastamentos das funções laborais. Mas existem outros que podem contribuir para essa necessidade. Eles podem surgir por genética, estresse, má nutrição, exposição a perigos ambientais, baixa concentração, cansaço, ou um acúmulo de algumas ou várias dessas condições.

A psicóloga Rita de Cássia Muniz ainda mencionou durante a entrevista que a depressão pode ter agravantes no processo de afastamento do trabalho. “A depressão é um dos transtornos mentais relacionados ao trabalho com mais dificuldade de se identificar por ter várias causas. Seus principais sintomas são a sensação constante de falta de energia, sentimento de culpa, perda de interesse pelas coisas que gostava, aumento ou diminuição do apetite,  alto grau de pessimismo, esquecimento frequente e insônia”, cita. 

Ainda sobre os tipos de transtornos, a especialista registra que a ansiedade também pode levar ao afastamento dos serviços. “A pessoa ansiosa tende a apresentar uma mente mais acelerada, com excesso de preocupações e pensamentos. A pessoa pode ter dificuldade em ficar parada, focar na tarefa ou relaxar”, diz. 

Dicas para empresas 

Por mais que transtornos mentais sejam algo de natureza muito pessoal, as empresas podem adotar estratégias para indicar os impactos deles nas relações de trabalho, tendo em vista que o bem-estar dos funcionários tem o viés de impactar de forma positiva no crescimento da empresa, defende Rita de Cássia Muniz. Ela listou ações que podem ser adotadas para fortalecer essa jornada mais amigável e saudável. Confira.

1. Observar se há funcionários sobrecarregados; 
2. Desenvolver um programa voltado para saúde mental;
3. Oferecer benefícios que promovam o bem-estar;
4. Incentivar o diálogo entre funcionários;
5. Valorizar os esforços da equipe;
6. Contribuir na interação entre funcionários; 
7. Promover treinamento de liderança para os supervisores.