A efeméride de Simpliciano
Advogado Luiz Eduardo Oliva homenageia o colega 'que carrega simplicidade no nome' Conteúdo Especial 03/11/2023 10h27 - Atualizado em 03/11/2023 16h16Por Luiz Eduardo Oliva
Na vasta e rica cultura sergipana há uma obra marcante que ficaria inédita não fosse o esforço e determinação da intelectual Ana Medina. Estou me referindo aos volumes intitulados “Efemérides Sergipanas” de Epifânio Dória que foi uma espécie de organizador de acervos, o incansável gestor dos arquivos, o zelador perfeito da documentação sergipana, no dizer de Luiz Antônio Barreto. Vale aqui, na abertura deste artigo, o referenciar ao termo “Efeméride” no sentido de comemoração de uma data, a comemoração de um acontecimento importante, o registro de acontecimentos memoráveis de fatos que marcam no tempo.
A idéia de “efeméride” é diversa e pode também se referir ao marco temporal de um fazer jurídico continuado e efetivamente bem-sucedido, que passado um tempo merece uma celebração. E uma celebração à altura do que representou e representa o trabalho de um “fazedor das coisas jurídicas” especialmente no campo da advocacia. Estou me referindo à figura do advogado, ex-ministro do Tribunal Superior do Trabalho e membro da Academia Sergipana de Letras Jurídicas José Simpliciano Fontes de Faria Fernandes ou simplesmente Simpliciano.
Com a idéia não só de comemoração mas também de agradecimento, o amigo Simpliciano resolveu celebrar os 40 anos de história da Fernandes Advogados Associados, anos que se confundem com a sua própria história de militância no campo jurídico. Foi nos difíceis anos de 1982 que tudo começou, eram os anos das primeiras eleições diretas para governador depois de um período de arbítrio, o país clamava por redemocratização que viria a ter como marco simbólico o ano de 1988 com a promulgação da Constituição cidadã. Certamente não imaginava ele que um dia estaria compondo, na condição de ministro, a mais alta Corte do direito trabalhista brasileiro, fundamental não só para as relações de trabalho mas também para a garantia de parte dos direitos sociais consagrados na Constituição.
Assim é que no dia 04 deste mês de outubro que se finda, no Teatro Tobias Barreto, nossa principal casa de espetáculos lotada, celebrou-se a carreira jurídica de um dos mais bem sucedidos profissionais do direito sergipano. A noite de celebração, para além de festiva, foi regada de significados, conduzida artisticamente pelo poeta nordestino Bráulio Bessa e por uma das maiores expressões da música brasileira atual: Maria Gadú.
A apresentação de Bráulio Bessa teve o tom da simplicidade que sua figura representa, despojada, radiante em humor e inteligência com a exuberância de sua poesia. Bráulio destacou o significado da vida das pessoas a partir de um propósito inicial. Foi isso que pretendeu e demonstrou Simpliciano e sua equipe de jovens advogados e advogadas: o início em 1982 com o propósito de se dedicar inicialmente ao direito trabalhista.
O advogado amigo Antônio João que nas nossas conversas tem sempre a medida dos superlativos, no dia seguinte à noite festiva daquela quarta-feira, por telefone me disse, comedido: “Simpliciano, o Zé de Benjamim como é conhecido nas paragens do Boquim é um homem de virtudes”. A ideia de virtude, um conceito amplo, está relacionada à disposição de praticar o bem, mas é principalmente uma inclinação. Virtudes estão ligadas à diversas palavras como benevolência, bondade, comprometimento, sabedoria, humildade. Quem conhece o homem Simpliciano de perto, vai ter sempre a idéia do homem simples que ele é, ainda que seja dos mais bem sucedidos advogados sergipanos, tendo inclusive por uma década ocupado um dos mais importantes cargos no judiciário brasileiro.
Quando decidiu pela aposentadoria voluntária do cobiçado cargo de Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, na sua despedida o ministro Barros Levenhagen definiu Simpliciano a partir do conceito de humildade que o reveste para reforçar sua grandeza: “com sua humildade e sua capacidade intelectual, José Simpliciano tornou-se reconhecido pelos seus pares como um dos melhores ministros do TST. Exatamente por causa de sua humildade, é que Sua Excelência, ao longo desse período, se engrandeceu e tornou-se uma estrela radiante dentre os que compõem o Tribunal Superior do Trabalho - não só pela sua capacidade intelectual, pelo seu preparo, mas, sobretudo, pela sua atitude extremamente amistosa”.
Simpliciano carrega no nome a simplicidade que o distingue. Sinto nas nossas conversas o senso do humor inteligente que é uma das suas características marcantes, mas também o jeito afável, o sentimento cristão. Para além da brilhante carreira jurídica, construiu não só a grande banca de advocacia que comanda, mas também uma bela família e cultua com zelo as amizades. E eu, posso dizer, tenho o privilégio de estar entre seus amigos. Dona Bebé, sua mãe, que era amiga da minha mãe, era uma mulher religiosa, de fé. O nome Simpliciano, embora se refira ao nome de um dos responsáveis pela conversão de um dos maiores santos da Igreja Católica, o Santo Agostinho, está mais na tradição familiar de um avô de Simpliciano.
O espaço para um artigo de jornal não comporta o falar muito para dizer da grandeza desse amigo querido. Na celebração, Simpliciano ressaltou o significado do número quarenta que é emblemático, inclusive nos conceitos bíblicos de quarentena, de quaresma e muito do simbolismo, inclusive no Salmo 40 agradecendo a Deus as maravilhas que se operou sobre sua vida. Se proposital ou não, a noite da celebração foi o dia quatro do mês dez que multiplicado chega-se justamente ao número quarenta.
Num mundo tão conturbado quando se indaga sobre as incertezas do futuro da humanidade, num mundo que ainda vê triunfar a arrogância, a empáfia, a incompreensão, pessoas que guiam sua vida pela parcimônia, pela discrição e pela humildade são mais que necessárias.Naquela noite da celebração o poeta Bráulio Bessa, aqui já referido, lembrou que se chega a esse mundo sem nada trazer, que se parte sem nada levar, mas que se pode muito a ter o que deixar, não no sentido material mas no sentido do exemplo. É o legado de parcimônia, discrição, humildade, dedicação profissional e inteligência que adornam a grandeza desse amigo querido. Evoé Simpliciano!
Luiz Eduardo Oliva é advogado, professor, poeta, e membro das Academias Sergipana de Letras Jurídicas e Riachãoense de Letras, Artes e Cultura.
(*) Artigo publicado originalmente no Jornal da Cidade/SE, com ajustes e nova revisão pelo autor.