EDITORIAL: Suspeita no caminho da solidariedade
Brasil e Mundo 18/10/2011 06h40
Algumas suspeitas, mesmo que não se confirmem, só por existirem já são capazes de provocar um grande estrago. É o caso da acusação que reverbera por todo o país, segundo a qual três médicos da cidade paulista de Taubaté teriam provocado a morte de quatro de seus pacientes, para a retirada de rins.
Supostamente membros de uma quadrilha voltada ao tráfico de órgãos, os médicos estão indo a julgamento pelos crimes de homicídio doloso, cometidos entre os meses de setembro e dezembro de 1986. Pela acusação do Ministério Público de São Paulo, eles simulavam a morte encefálica, sem a qual não se pode proceder à retirada de órgãos para transplante.
Essa possibilidade reforça um temor usualmente levantado pelas pessoas refratárias a doarem seus órgãos, seja com alguma antecedência, seja na ante-sala da morte - uma decisão de foro íntimo cujos motivos a ninguém cabe julgar.
No entanto, campanhas nacionais vinham obtendo sucesso no sentido de estimular as doações. De 2006 a 2010, por exemplo, foi ininterrupta a ascendência nos transplantes de rins levados a termo com os órgãos de falecidos, como mostra o Registro Brasileiro de Transplantes. Ocorrências como a de Taubaté - confirmem-se ou não - jogam por terra grande parte desse trabalho. E podem ampliar o sofrimento de quem está numa fila, esperando por uma segunda chance na vida.
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