De fato, temos mais famílias na classe média?
Blogs e Colunas | Marcio Rocha 11/01/2025 06h40A recente divulgação de que 50,1% das famílias brasileiras pertencem às classes C para cima, com renda mensal domiciliar acima de R$ 3,4 mil, merece uma análise mais profunda. Considerar uma família que recebe pouco mais de dois salários-mínimos como classe média é uma interpretação problemática. Essa renda, especialmente em um país com alto custo de vida, é insuficiente para cobrir despesas essenciais como saúde, educação, alimentação, lazer, e a compra de bens e serviços. A fragilidade dessa definição fica evidente ao observar a realidade financeira enfrentada diariamente por essas famílias.
A questão central aqui é que o conceito de classe média deve refletir uma certa estabilidade econômica e a capacidade de planejar um futuro sem grandes restrições financeiras. Contudo, quando analisamos uma renda de R$ 3,4 mil para uma família inteira, percebemos que essa estabilidade está longe de ser alcançada. A estrutura de custos básicos no Brasil, incluindo o preço da energia elétrica, transporte, e educação, além da inflação dos alimentos, consome uma grande parte desse orçamento. Dessa forma, não é realista esperar que uma família com essa renda consiga manter um padrão de vida que se associe à classe média tradicionalmente definida.
Se a família não possui casa própria, a situação financeira se agrava ainda mais. Com o aluguel ou financiamento habitacional consumindo, em média, um salário-mínimo, o orçamento restante para sustentar uma família de quatro pessoas se torna extremamente limitado. Esse cenário ressalta a precariedade de se classificar tais famílias como pertencentes à classe média, uma vez que as despesas de moradia comprometem severamente a capacidade de atender outras necessidades básicas. O custo da moradia é um dos maiores desafios enfrentados pelas famílias de baixa renda no Brasil, e mesmo aquelas que são incluídas na classe média segundo essa nova definição enfrentam dificuldades semelhantes.
O custo de vida elevado e o valor médio da cesta básica no país superam, em muitos casos, o que poderia ser suportado com a renda familiar declarada. Mesmo com uma renda bruta de R$ 3,4 mil, os encargos salariais reduzem significativamente o montante disponível para consumo, puxando para baixo a capacidade de sobrevivência digna dessas famílias. A renda líquida é ainda menor, o que contrasta fortemente com a imagem de uma classe média capaz de prosperar. Por exemplo, a cesta básica, que inclui itens essenciais como arroz, feijão, carne, e leite, já consome uma parte significativa do orçamento familiar. Quando adicionamos outras despesas como transporte e educação, fica claro que essa renda não é suficiente para garantir uma vida confortável.
É lamentável perceber que há uma tentativa ilusória de incluir pessoas pobres em uma faixa de renda que supostamente indica melhoria econômica. No entanto, a verdadeira situação da população brasileira é visível nos supermercados, postos de combustíveis e no crescente endividamento e inadimplência. O aumento do custo de vida, somado à perda do controle financeiro, desmente a ideia de que essas famílias estão vivendo uma ascensão social significativa. A realidade mostra um povo que luta diariamente para manter suas necessidades básicas, longe de um padrão de vida que a definição de classe média sugere.
O endividamento das famílias brasileiras está em níveis recordes, com muitos lares enfrentando dificuldades para pagar contas básicas. Essa situação não apenas reflete uma economia fragilizada, mas também uma falta de políticas públicas eficazes para melhorar o poder aquisitivo da população. A ilusão de ascensão social não resiste ao escrutínio da realidade cotidiana, onde muitas famílias continuam a lutar para sobreviver.
Portanto, é fundamental reavaliar os critérios utilizados para classificar as famílias brasileiras em diferentes estratos sociais. Atribuir o status de classe média a famílias que vivem com pouco mais de dois salários-mínimos é uma distorção da realidade econômica do país. Essa abordagem não apenas cria uma falsa sensação de progresso, mas também mascara os verdadeiros desafios enfrentados pela população. Uma análise mais realista e honesta é necessária para que políticas públicas eficazes possam ser implementadas, visando a melhoria real das condições de vida dos brasileiros.
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Marcio Rocha é jornalista formado pela UNIT, radialista formado pela UFS e economista formado pela Estácio, especialista em jornalismo econômico e empresarial, especialista em Empreendedorismo pela Universitat de Barcelona, MBA em Assessoria Executiva pela Uninter, com experiência de 23 anos na comunicação sergipana, em rádio, impresso, televisão, online e assessoria de imprensa.
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