Coletor menstrual: uma alternativa sustentável para pessoas que sangram | Consciência Limpa | F5 News - Sergipe Atualizado

Coletor menstrual: uma alternativa sustentável para pessoas que sangram
De silicone, o copinho pode ser reutilizado por diversos ciclos, já que dura até 10 anos
Blogs e Colunas | Consciência Limpa 07/11/2022 07h20 - Atualizado em 08/11/2022 16h32

Se é difícil combater o sistema e o capitalismo em prol da sustentabilidade, imagine fazer isso sendo mulher? Ter que bater de frente com o machismo e esbarrar em toda a desigualdade que gira em torno de nós, mulheres, dentro da sociedade brasileira. Esse esbarro faz com que surjam muitas travas no caminho da luta ecofeminista, mas não é o suficiente para nos fazer desistir. Afinal, somos nós, as principais ativistas quando o assunto é meio ambiente, e as verdadeiras protagonistas dentro do processo.

Hoje eu trago para esta coluna um assunto que envolve o nosso sangue sagrado e a forma como o devolvemos para a Terra. Um texto diretamente para pessoas que sangram. 

Nascemos em uma sociedade que nos ensina, em primeiro lugar, a ter nojo do nosso próprio sangue (mesmo este sendo o mais puro que existe), e que nos projeta a utilizar absorventes para, após o fluxo, descarta-los como lixo. Sem falar em todos os tabus que existe por trás do processo, que nos fazem sentir envergonhadas e sujas. Eu estive neste lugar até descobrir, em 2020, uma forma de reinventar a minha relação com o meu sangue.

Naquele ano pandêmico eu buscava todas as formas possíveis para contestar e reformular o meu consumo. Reduzir o lixo era uma das principais tarefas e também uma das mais difíceis naquela época, mas, também era uma das maiores preocupações, como bem alertava a pandemia da covid-19, sobre a urgência em mudarmos nossas atitudes.

Foi quando me dei conta da quantidade de absorventes que eu descartava mensalmente. Em uma breve pesquisa descobri que, como lixo orgânico, eles iam parar diretamente nos lixões ou aterros sanitários, contribuindo para o aquecimento global, ou indo parar direto nos oceanos. Fazendo as contas, eu percebi que utilizava cerca de cinco absorventes por dia, durante cerca de oito dias de período menstrual, uma média de 30 por ciclo.

Depois descobri que os absorventes descartáveis são produzidos com aditivos químicos para retirar odores, ou gerar maior absorção. Em contato direto com o meio ambiente, esses produtos liberam toxinas e levam cerca de 100 anos para se decompor. Segundo dados da Associação Britânica de Fabricantes de Produtos Absorventes Higiênicos (AHPMA), cada mulher usa cerca de 11 mil absorventes íntimos durante a vida menstrual, já que cada uma tem cerca de 450 ciclos menstruais durante a vida, portanto geram um lixo de aproximadamente 150 quilos de absorventes (cada mulher).

Conhecer o coletor menstrual, esse copinho de silicone, borracha ou látex, trouxe uma revolução para a minha vida, enquanto mulher. Antes mesmo de ser apresentada aos absorventes de tecido, que também são boas alternativas para driblar o uso de descartáveis - mas não vou me aprofundar sobre eles neste texto -, cheguei ao sensacional copinho coletor. 

Fui correndo para uma farmácia e comprei o único que tinha disponível na prateleira. Nem lembro qual era a marca. Eu só queria testar, experimentar. Fui tomada por um entusiasmo simplesmente por achar a ideia do coletor sensacional, por imaginar que ele poderia me trazer liberdade. Absorvente sempre foi um incômodo, tanto pelo odor, como por ter que trocar muitas vezes ao dia, além da sensação de estar suja e, muitas vezes, por passar por processos alérgicos. 

Apesar de ter dado certo no primeiro dia comigo, este foi o único depois de vários e vários ciclos de erros e sangue vazando. Foi quando descobri que eu pouco me conhecia. Não sabia nada sobre a minha anatomia feminina individual, e foi aí que começou a revolução. 

A insistência e a vontade de querer me adaptar ao coletor, me fez ter um contato direto com meu sangue e meu corpo, além de entender muito mais sobre meu fluxo. Antes, quando usava absorventes, eu tinha a sensação de que sangrava exageradamente, mas, o copinho me deu a dimensão exata do fluxo menstrual, e não era esse tanto que se mostrava nos absorventes. 

Outra percepção sensacional, foi o cheiro. “Meu sangue não fede”, disse a mim mesma na primeira retirada do coletor. Isso mesmo. Muito diferente do que ocorre quando utilizamos absorventes descartáveis, que são recheados de componentes químicos responsáveis pelo cheiro ruim que sentimos. Quando o sangue menstrual entra em contato com estas substâncias ocorre uma reação química que exala o cheiro forte e é por este motivo que muitas marcas fazem absorventes perfumados, para disfarçar o odor.

Esses são apenas alguns dos benefícios que experimentei e experimento a cada ciclo nesses últimos dois anos. Fora todos os benefícios para a saúde do meu corpo, e fora, lógico, o tanto de lixo e impacto que eu reduzo ao meio ambiente mudando essa atitude. Eu levei alguns ciclos para me adaptar, mas, depois de muito insistir, deu certo e hoje vejo que foi a melhor escolha. Posso afirmar que o uso do coletor também foi positivo na redução do meu fluxo, mesmo sem saber se isso tem alguma relação com ele. Antes, eu passava cerca de oito dias menstruada, e logo após o coletor, tive uma redução para, quando muito, cinco dias de ciclo. 

O coletor menstrual pode durar até 10 anos. Quando bem armazenado, ele pode ser utilizado a cada ciclo, bastando apenas ferver em uma panelinha (só para ele) antes e ao final do período menstrual, e lavar com água e sabão neutro todas as vezes que precisar retirar para esvaziar. 

Saiba alguns benefícios do coletor menstrual para a saúde feminina abaixo:

-O coletor não gera um cheiro desagradável, já que não entra em contato com o ar; 
-Possibilita o autoconhecimento da mulher, que precisa tocar o próprio corpo e sentir a vagina; 
-Recomendado para mulheres que tenham alergia ao absorvente; 
-Mais prático por ter um maior intervalo de troca em comparação com a calcinha menstrual e os absorventes comuns. 

Ele serve para qualquer mulher que já iniciou o ciclo menstrual, independentemente da idade. Por ser feito de um material maleável, ele se molda à vagina e forma um vácuo, e quando está corretamente inserido, não sentimos absolutamente nada, dando a sensação de liberdade, diferente do que ocorre com os absorventes. E o melhor: você pode ficar com ele por 12h sem precisar trocar, se ele não encher completamente. 

Além de ser bastante flexível e maleável, podendo se criar diversos tipos de dobras para inseri-lo. No YouTube existem vários canais de mulheres que ensinam sobre os mais variados tipos de dobras e como inserir corretamente o coletor. 

Se você também busca alternativas mais saudáveis e ecológicas para o período da sua menstruação, essa é a minha principal indicação, a partir da minha própria experiência. Vale destacar que, infelizmente, para muitas mulheres, o uso do coletor menstrual é completamente inviável, por não haver questões sanitárias básicas disponíveis. É o que chamamos de pobreza menstrual, onde nem mesmo o acesso ao próprio absorvente descartável e à água limpa para higienização pessoal se tem. Uma realidade cruel que gira em torno da nossa sociedade excludente e desigual. 
 

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Lais Oliveira de Melo, jornalista diplomada, pós-graduanda de MBA em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, atualmente repórter do Jornal da Cidade e blogueira em Consciência Limpa. Premiada em 2018 no Prêmio Setransp com a terceira melhor reportagem de veículo impresso. Trabalhou por cinco anos no marketing digital de uma empresa de turismo e participou de um programa de estágio no F5 News.

E-mail: demelo.lais@gmail.com

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