Quadrilha junina: arte obrigatória em todo “arraiá” sergipano
Concurso de Quadrilhas do Gonzagão segue até dia 30 Entretenimento 20/06/2015 11h00A apresentação das quadrilhas juninas é o auge dos festejos juninos de Sergipe e do Nordeste. Na maior celebração popular brasileira, iniciada com o trezenário de Santo Antônio, no dia 1º de junho, passando pela festa maior – o São João, no dia 24 – e terminando somente no dia de São Pedro/São Paulo, dia 29, a quadrilha é elemento obrigatório. Em qualquer espaço transformado em “arraiá” ela é presente: nas escolas, nas festas de bairro e nos grandes eventos.
O costume de dançar quadrilha virou tradição, arte e profissão. Além da exibição ao público, todas se esmeram para alcançar também o lugar mais alto do pódio das várias competições realizadas no estado e fora dele. Nesta sexta-feira, 19, começa uma das competições mais aguardadas, o concurso da Casa de Forró e Barracão Cultural (Gonzagão), que segue até o dia 30 de junho. Há também espaços somente de exibição, como o Arraiá do Povo, na orla de Atalaia, ambos mantidos pelo Governo do Estado.
De acordo com o presidente da Liga das Quadrilhas Juninas de Aracaju e de Sergipe, Célio Torres, oficialmente de 60 a 65 grupos concorrem pela preferência do público e dos jurados em Sergipe. “Além da Liga, existe mais uma associação de quadrilhas, onde há maior investimento, competem oficialmente e fazem um trabalho diferenciado. Mas existem muitas outras quadrilhas que são mais para ‘brincar’, fazer apresentações internas nas suas cidades”, informou. Somente na Liga, são 32 quadrilhas nas categorias adulto, mirim e idoso, que participam de competições.
Mas, acima de tudo, a quadrilha junina é um prazer para quem faz e para quem aprecia esta arte. O espetáculo múltiplo, de música e dança, teatro e folguedo, que vemos na atualidade é remetido aos salões nobres franceses, dos quais ainda podemos ouvir resquícios nas expressões utilizadas durante a dança: Anarriê (an arrière - para trás) e Alavantú (en Avant, tout - Todos vão pra frente).
De acordo com o saudoso pesquisador sergipano Luiz Antônio Barreto, no artigo ‘A reinvenção da quadrilha’, (publicado em Pesquise - Pesquisa de Sergipe / InfoNet), a dança foi registrada em solo sergipano em diferentes momentos: “o primeiro, quando o Imperador Pedro II, a Imperatriz, comitiva e autoridades locais dançaram uma quadrilha, em janeiro de 1860; a segunda, quando a quadrilha tomou forma de dança e de folguedo, obrigatória nas festas de São João; a terceira, a quadrilha transformada em corpo de baile, como é vista atualmente“, escreveu.
Com o passar do tempo foram muitas as transformações da dança nobre, que incorporada pelos camponeses, foi posteriormente apropriada nos centros urbanos virando o que muitos chamam hoje de “Quadrilha Show”. O que Barreto chamou de “a reinvenção da quadrilha” começou nos anos de 1970/1980, quando ela se tornou “uma festa dentro da festa”.
“A Quadrilha ganhou um sotaque novo, mais típico, trocando o atabalhoado da imitação, por uma expressão estética original, ainda que dentro de um padrão regionalizado. E foi a partir das mudanças que a Quadrilha chegou ao seu ponto atual, como corpo de baile, um balé popular, autêntico como linguagem rústica, explorando a coreografia forte dos bailados”.
Tradição x modernidade
Detentor do título de 1ª Campeã Brasileira, o Grupo Cultural e Recreativo Assum Preto, uma das quadrilhas mais tradicionais de Sergipe, completa 25 anos de fundação neste São João de 2015, defendendo que “para ser uma quadrilha Junina Show, não precisa fugir da tradição”. A afirmação é do diretor-Presidente e Marcador, Genicleudo Melo Albuquerque, por diversas vezes premiado, inclusive já tendo sido escolhido o ‘Melhor Marcador do Brasil’, em 2005 em Brasília (DF).
“A Assum Preto tem como característica um estilo próprio, mantém a tradição da cultura sergipana, ela mistura a criatividade com a originalidade, e sua apresentação lembra Sergipe e aflora a sergipanidade. Infelizmente muitas Quadrilhas Juninas sergipanas deixam de apresentar sua cultura para valorizar a cultura alheia”, completa Albuquerque. Sediada no Castelo Branco, em Aracaju, este ano a quadrilha terá como tema “Assum Preto: bodas de prata, uma história de amor, paixão e tradição”.
Todo o grupo conta com 56 componentes, 20 da equipe técnica e mais cinco do Grupo Musical. “É gratificante chegar aos 25 anos, pois todos sabem como é difícil, manter essa chama acessa. Hoje a Assum Preto tem uma motivação à parte, por ser uma quadrilha junina tradicional e conhecida em todo Brasil por suas conquistas”, relata Conceição Albuquerque, integrante e esposa do diretor.
Para o presidente da Liga das Quadrilhas Juninas a reinvenção ou “estilização” da quadrilha não pode substituir a cultura sergipana. “Alguns elementos são trazidos de fora e tira a nossa característica. A Liga tenta ao máximo a preservação da temática sergipana, mas sem impedir a modernização até porque nas competições fora do estado os jurados observam estes elementos, mas temos que manter os passos, o xote, o xaxado e o baião”, defende Célio Torres.
O pesquisador da cultura popular sergipana, Luiz Antônio Barreto, acreditou que: “Reinventada, a Quadrilha pode ainda mudar, cada vez mais, para melhor, como tem feito de Dom Pedro II até hoje”.
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