Documentário 'A Mesa Vermelha' será lançado no Museu da Gente Sergipana
Entretenimento 23/03/2014 11h16Uma Mesa Vermelha e o verbo de 23 ex-presos políticos. No documentário A Mesa Vermelha, senhores jovens subversivos comentam, 50 anos depois do golpe, sobre a experiência nos presídios masculinos pernambucanos durante o período militar (1964-1985). O lançamento do filme acontece no próximo dia 1º de abril, às 19h, no Museu da Gente Sergipana, com exibição gratuita e aberta ao público.
Dirigido pela cineasta pernambucana Tuca Siqueira, o documentário resgata a memória dos anos de chumbo através dos depoimentos de 23 militantes de organizações de esquerda da época que estiveram detidos, de 1969 a 1979, entre a antiga Casa de Detenção, a atual Casa da Cultura, em Recife, e a Penitenciária Professor Barreto Campelo, na Ilha de Itamaracá.
Da chegada ao cárcere, do afeto, das greves de fome, do papel dos coletivos dentro da cadeia. O sentimento de pertencimento é o que move este documentário. Aos personagens, o pertencimento a uma geração. Ao público, o sentimento de pertencimento a um país que busca sua Memória, que busca a Verdade.
Através das lembranças e denúncias dos ex-presos politicos, o filme retrata como era a convivência, as diferenças, os rachas, as resistências e o sentimento de solidariedade existente entre eles. O documentário começa abordando o contexto político, o que levou aquelas pessoas a atuarem em organizaçãos, a luta, a clandestinidade, a queda e a chegada deles à prisão.
Os ex-presos políticos eram encaminhados para duas unidades prisionais depois do período de torturas e interrogatórios para responder a processos e cumprir as penas??Estima-se que, de 1969 a 1979, passaram pela antiga Casa de Detenção cerca de cem presos políticos e 40 na Penitenciária Barreto Campelo.
Sergipe em cena
Entre os 23 entrevistados, um sergipano. Ex-preso político e militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Bosco Rolemberg, 66, viveu por cinco anos, dos 27 aos 32 anos, atrás das grades da Penitenciária Barreto Campelo, na Ilha de Itamaracá, entre 1974 e 1979. Casados desde 1969, a ex-presa política sergipana Ana Côrtes também permaneceu detida em Pernambuco, entre junho e novembro de 1974, nas dependências da Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS), no centro de Recife.
Gravado em Recife, em maio-junho de 2012, o documentário foi, para Bosco, o momento de reencontrar colegas de luta e cela que não via há 35 anos, e de reencontrar sua própria história, seus silêncios, suas dores e suas convicções desses anos sombrios.
“Eu vim porque é uma experiência que não pertence a mim. Pertence ao povo brasileiro, pertence aos comunistas do Brasil, pertence aos meus filhos, pertence ao meu neto, pertence a minha esposa. Então eu não tinha o direito de ficar com isso escondido ou guardado”, afirma no filme, no depoimento que abre A Mesa Vermelha.
Com 80 minutos de duração, o documentário é fruto do Projeto Marcas da Memória da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça em parceria com o Movimento Tortura Nunca Mais de Pernambuco.
Idealizado pelas ex-presas políticas Lilia Gondim e Yara Falcón, elas contam que a iniciativa surgiu após a experiência do curta Vou contar para os meus filhos sobre o reencontro das ex-presas políticas da Colônia Penal Bom Pastor, também em Recife, 40 anos depois. “É um reencontro com a história. Uma lacuna que está sendo preenchida. É a história viva. Passamos muito tempo sem falar nada. Tínhamos receio”, relata Yara Falcón.?
Desde que foi lançado, em maio de 2013, A Mesa Vermelha já passou por Recife, Brasília e Porto Alegre, e circulará nos próximos meses por várias cidades do país, com o Festival Cinema pela Verdade, da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Agora a exibição chega em Aracaju, com o apoio do Museu da Gente Sergipana, do Instituto Banese e da Secretaria de Comunicação do Governo de Sergipe.
Fonte e Foto: divulgação
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