Aracaju terá dia dedicado à Literatura de Cordel | F5 News - Sergipe Atualizado

Aracaju terá dia dedicado à Literatura de Cordel
Entretenimento 12/07/2014 09h35


Aracaju terá um dia dedicado à Literatura de Cordel e aos cordelistas. O projeto, de iniciativa do vereador Iran Barbosa (PT), construído em diálogo com os cordelistas da Capital, foi aprovado na Câmara Municipal de Aracaju e aguarda sanção do prefeito João Alves Filho (DEM).

O Projeto de Lei 51/2014, aprovado por unanimidade, institui, no âmbito do município de Aracaju, o 19 de julho como Dia Municipal da Literatura de Cordel e determina outras providências. A data é uma homenagem a um dos grandes ícones do Cordel em Sergipe e no Brasil, João Firmino Cabral. Foi nesse dia em que o sergipano, patrono da primeira Cordelteca do país – que funciona na Biblioteca Pública Clodomir Silva –, tomou posse na Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

O itabaianense João Firmino, que morreu em fevereiro de 2013, era bastante conhecido dos sergipanos e dos turistas que visitavam o Mercado Antônio Franco, onde mantinha uma banca de venda de inúmeros folhetos de Cordel e recebia, com muita simpatia, poetas, estudantes, professores, pesquisadores e turistas de todas as partes. Entre as suas obras mais famosas estão “Uma profecia do Padre Cícero” (sua primeira produção), “Antônio Conselheiro, o guerreiro de Canudos”, “Luiz Gonzaga, o Rei do Baião”, “Nascimento, vida e morte do cangaceiro Zé Baiano” e, a principal delas, “Lampião: herói ou bandido”, de 2010, o seu folheto de Cordel mais vendido.

“A aprovação desse projeto foi muito bom para todos nós, que vivemos do Cordel, porque vai incentivar ainda mais a cultura do Cordel. Vai ser muito bom”, avalia Joelson Santana Cabral, 39 anos, filho de João Firmino, que mantém viva a história do pai mantendo a banca que ele deixou.

“O Cordel pra mim ainda significa muito. Se não fosse por ele, pelo que meu pai deixou, eu hoje não estaria trabalhando nem vivendo. E, pra mim, sempre foi motivo de muito orgulho ter um pai cordelista, que viveu do Cordel por 50 anos e que era reconhecido pelo seu trabalho. Ele se foi, mas estou aqui, tocando a obra que ele deixou”, ressaltou Joelson.

Construção coletiva

Para o vereador Iran Barbosa, o mais importante sobre o projeto que ele apresentou e teve aprovação unânime foi a sua construção. De acordo com Iran, ele nasceu da formulação dos próprios cordelistas de Aracaju, organizados em torno da Casa do Cordel – Espaço Cultural Pedro Amaro do Nascimento.

“O projeto nasceu do diálogo e da fundamentação construída pelos próprios cordelistas. Foi uma construção coletiva. Portanto, o seu conteúdo reflete o desejo e as necessidades desses poetas e artistas populares. Fico muito feliz de ter sido o porta-voz deles na Câmara Municipal e de que o projeto tenha sido aprovado da forma que foi, com o reconhecimento unânime dos colegas parlamentares da importância dele para a cultura do nosso município e para o fortalecimento do Cordel, que é uma marca da nossa gente”, destacou o petista.

Além de instituir o Dia Municipal da Literatura de Cordel, o PL aprovado prevê a inclusão da data no calendário cultural do município de Aracaju, além de propor a realização de atividades culturais, debates, promoção e divulgação do Cordel e dos cordelistas locais, bem como incentivar o ensino da Literatura de Cordel nas escolas municipais e a publicação de folhetos de Cordel por iniciativa do Poder Público.

Resgate da memória

A professora, escritora, folclorista e historiadora Aglaé dÁvila Fontes, atualmente na função de vice-presidenta da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), o projeto, que deve virar lei, é valoroso, não só pelas iniciativas que propõe, mas porque resgata e enaltece a memória de um personagem importante da cultura sergipana.

“Só tenho que elogiar esse projeto e dar os parabéns ao vereador Iran, porque nós, sergipanos, infelizmente, nos esquecemos muitas vezes de figuras importantes da nossa história e da nossa cultura, e esse dia nos fará lembrar sempre que existiu um João Firmino, um Manoel D’Almeida, que são orgulhos pra gente, como tantos outros cordelistas sergipanos. Mas que não fiquemos só nesse dia. Que isso se estenda o ano todo, porque esse projeto, inclusive, traz mais dignidade para os cordelistas como pessoas que têm uma contribuição importante para a nossa cultura”, entende a professora e vice-presidenta da Funcaju.

Ela também ressaltou a importância de se incentivar a integração da literatura de Cordel nas escolas, como ferramenta de ensino a serviço dos professores. “Acho importante essa integração nas escolas, para que os professores possam ensinar o que é um Cordel, sua diferença com poesia popular, incentivar a formação, inclusive, de novos cordelistas, além de ajudar na educação”, refletiu.

Valorização da arte popular

Segundo a cordelista e professora Izabel Nascimento, que coordena a Casa do Cordel, para os escritores de Cordel de Aracaju, a aprovação do PL 51/2014, com a sua posterior sanção, vai contribuir para a valorização dessa arte popular. “É o reconhecimento potencial, por parte do Estado, da importância da modalidade literária que mais identifica o povo nordestino. É um compromisso não apenas com os poetas de Cordel, mas com a cultura popular de nossa cidade”, destacou.

“O que nós desejamos para a Aracaju e para Sergipe é mostrar que nossa cidade também tem literatura e poetas de Cordel, muitos, inclusive, são referências para todo o país”, completou Izabel.

Filha do cordelista Pedro Amaro do Nascimento, Izabel acredita ser importante que os aracajuanos conheçam a sua cultura e a sua história. Para ela, quem valoriza a arte, valoriza a si mesmo. “Pois a arte é a manifestação criativa da inteligência, a ação libertadora em nossa vida. O Dia Municipal da Literatura de Cordel é um histórico desejo dos cordelistas. Que a sua sanção sirva de exemplo em outras cidades”, afirmou.

Para o seu pai, Pedro Amaro, a Lei virá a contemplar duplamente os poetas cordelistas de Aracaju: por abrir possibilidades para divulgação do Cordel na cidade e por fazer uma homenagem merecida ao Mestre do Cordel, o poeta João Firmino Cabral. Para Amaro, é importante ter uma Lei que garanta ao poeta cordelista ter sua arte valorizada, reconhecida e divulgada.

“Desejo que Aracaju possa despertar o interesse pelo Cordel em crianças e jovens. Isto só é possível se os poetas de hoje tiverem a possibilidade de dialogar com as pessoas e mostrar o valor e a magia da arte literária ritmada e metrificada. Desejo também que depois de mim e de minha esposa, depois de minha filha, que são cordelistas, e depois de meu neto, que já se diz cordelista, possam surgir muitos outros cordelistas em Aracaju”, externou Pedro Amaro.

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