Vendas e serviços despencam nos comércios situados na Rua Arauá
Comerciantes e clientes culpam a SMTT por ter proibido estacionar Economia 10/03/2012 11h54Por Mirella Mattos
Nem mesmo a comemoração do Dia Internacional da Mulher, na última quinta-feira (08), motivou uma gama considerável do consumidor a comparecer às floriculturas situadas na Rua de Arauá, no centro de Aracaju, como nos anos anteriores. O motivo? Segundo os próprios comerciantes, a medida tomada pela Superintendência de Transportes e Trânsito (SMTT) de Aracaju, no mês passado, proibindo o condutor de estacionar seu veículo na via. Nas entrelinhas, lê-se que a pouca procura atesta que deixar o veículo em um estacionamento próximo – ou mesmo estacionado em uma rua permitida – e seguir a pé em busca do presente não soou uma boa ideia para a maioria.
Quem comparece à floricultura de Elaine Barreto e vê os estoques vazios pode até acreditar que as vendas foram maiores do que o esperado para o período. Puro engano. De acordo com ela, desde que a proibição entrou em vigor, para evitar maiores prejuízos foi preciso agir de forma precavida: diminuir os pedidos para não encalhar mercadoria no estoque. “Se eu estou com o estoque vazio aqui não foi porque eu vendi mais do que o esperado. Isso se deu, na verdade, porque para essa data comemorativa eu comprei metade do que costumava comprar. Já temíamos prejuízos”, declara, salientando que alguns estabelecimentos, a exemplo do dela, já contabilizam uma queda de 70% nas vendas.
Além da medida imposta pela SMTT, os comerciantes acreditam que a baixa procura tem a ver também com o quesito segurança. “Desde a proibição, temos vendido cada vez menos. Se durante a semana sempre tinha gente querendo comprar flores, agora não mais. Sempre tinha gente transitando por aqui, mas, agora, não mais. Dependendo do horário mesmo, a gente não vê ninguém e isso é até perigoso”, detalha.
Segundo Elaine, em sua maioria, as vendas de flores no Dia Internacional da Mulher aconteceram por telefone, ficando a entrega e o recebimento do pagamento a cargo de um motoboy. Entretanto, este método trouxe outro problema: muita gente acabou desistindo da compra, ao saber que teria que pagar uma taxa extra pelo serviço. “Um acréscimo de cerca de R$15,00, às vezes até mais, dependendo do seu endereço”, detalha.
Se estacionar em um local permitido e queimar calorias até a floricultura ou mesmo encomendar o presente por telefone, como se fosse uma pizza, não resolveu o problema, a solução não estaria em afrontar a lei. “Muita gente acabou sendo multada. Bastava parar aqui à porta das lojas. Se durante a semana tem apenas dois agentes da SMTT aqui nas proximidades, ontem (última quinta), esse número foi de, pelo menos, o dobro, e eles ficavam na cola (sic) das pessoas mesmo”, diz.
Salão de Beleza
Nem só do perfume das rosas vive a Rua de Arauá. Ali há vários comércios – e a maioria registrou queda de seus dividendos. Uma funcionária de um salão de beleza, que pediu para não ter o nome divulgado na reportagem, afirma que o movimento tem sido cada vez menor. Por conta disso, a proprietária do salão já está procurando um imóvel em outra área. “Dessa forma, está muito difícil trabalhar. Veja só: hoje é sexta-feira e, nessa manhã, temos apenas uma cliente agendada“, lamenta.
Muito embora as queixas, em sua maioria, partam dos comerciantes, por sentirem no bolso, há também, óbvio, clientes insatisfeitos. Danilo Amaral não vê problema em caminhar algumas quadras para chegar à loja. Todavia, ele tem consciência da fragilidade da segurança pública oferecida aos aracajuanos. “Minha preocupação mesmo é com o carro que eu tenho que deixar longe. Fico nessa de será que está tudo certo? Será que não vou voltar e encontrar meu carro arranhado?”, indaga.
Para Danilo Amaral a ideia da SMTT, antes de favorecer o escoamento de veículos, estaria favorecendo os proprietários de estacionamentos rotativos da região. Segundo ele, antes de proibir totalmente o condutor de estacionar na Rua Arauá, o órgão de trânsito da capital deveria fazer uma experiência: deixar o estacionamento livre em um dos lados da via.
FCDL
A equipe de reportagem da F5 News procurou o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL), Gilson Figueiredo, para comentar o assunto. De acordo com ele, qualquer tentativa de melhoria no trânsito é válida. Gilson disse ainda entender a preocupação dos lojistas, mas garante ser cedo para tecer um diagnóstico fidedigno. “Acho que a gente deve esperar um pouco para tirar conclusões sobre os prejuízos dessa decisão, de contabilizar uma queda tão grande, se esses estacionamentos eram mesmo ocupados por clientes desses estabelecimentos”, comenta.
Ainda conforme Figueiredo, as mudanças no trânsito da área ainda não podem ser vistas como permanentes. Segundo ele, o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PCdoB), já se comprometeu rever a medida, caso fique comprovada a relação entre queda nas vendas e serviços e proibição do estacionamento. “Se for comprovado que essa decisão traz grandes prejuízos ao comércio, a SMTT vai voltar atrás. Nós temos, inclusive, a palavra do prefeito quanto a isso”, garante.
SMTT
De acordo com a SMTT, não há a possibilidade de deixar o estacionamento livre apenas em um dos lados da via por causa da grande circulação de veículos. O órgão explicou também que a medida adotada tem como objetivo principal promover a fluidez do trânsito no centro da cidade. A indicação da SMTT é de que a população passe a estacionar seus veículos nas ruas transversais.
Como parte da primeira etapa de desenvolvimento do Plano Diretor de Mobilidade Urbana de Aracaju (PDMU), a SMTT adotou dois corredores livres de tráfego, onde fica terminantemente proibido o estacionamento de veículos (ruas Capela e Arauá, desde a Praça João XXIII até a avenida Barão de Maruim e nas ruas Itabaiana e Itabaianinha, da avenida Anísio Azevedo até o Largo Esperanto).
Outras alterações serão feitas pela SMTT, a partir desta segunda-feira (12), a exemplo do fechamento do retorno da avenida Ivo do Prado, no acesso a Assembleia Legislativa. Mais reclamações?
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