“Precisamos ter uma escola decente”
Presidente do Sintese fez um balanço da educação no ano de 2011 Cotidiano 31/12/2011 23h55Por Fernanda Araujo
A presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Estadual de Sergipe (Sintese), Ângela Maria de Melo, concedeu entrevista ao portal F5 News e fez um diagnóstico da educação no estado. Após a nota 3,0 dada pelo sindicato ao atual governo, na última quinta-feira (29), Ângela relata sobre tudo que foi feito para trazer melhorias aos professores e à educação, desde os atos públicos às greves. Tentativas essas que para ela foi proveitosas e uniu a categoria.Confira:
F5 News - Quais ações que o Sintese realizou em prol ds professores?
Ângela Maria de Melo – Nós tivemos um ano de muita luta, não só na base estadual, mas nas bases municipais. E a grande luta dos professores, hoje, é a revisão do piso. Nós lutamos por mais de 23 anos para conseguir um piso salarial e quando a gente consegue, a prática dos governantes é não respeitar a Legislação. A nossa grande luta foi para manter o que a Legislação diz: ter um piso salarial que beneficie toda a categoria. Nós tivemos greve não só na capital, mas em vários municípios. Em Salgado e em Neópolis, que ainda está implementando o piso, tivemos greve em Carira, a prefeita daquela cidade retira o direito dos professores. Foi um ano de greves, passeatas, ocupação na Assembleia Legislativa, nas Câmaras Municipais, um ano de fogueirão, onde os professores simbolicamente queimaram a ação do governo que representava naquele momento o parcelamento do reajuste do piso.
F5 - Quais foram as medidas tomadas pelo sindicato diante o projeto de Lei 20/2011 enviado à Assembleia, que segundo o Sintese, estingue o nivel médio dos professores?
Ângela – Nós fomos surpreendidos pelo governo que enviou à Assembleia um Projeto de Lei que extingue o nível médio. A Legislação do piso é clara: o piso tem como início o nível médio, que é o professor pedagógico, mas que estende às carreiras do magistério. Os professores que tem o nível superior, pós graduação, mestrado, doutorado. Veja, nós fizemos uma greve que durou de maio a junho, que um dos motivos era exatamente a extinção do nível médio, naquele momento o governo não envia à Assembleia esse projeto, mas em dezembro ele faz isso. Isso é acabar com a unicidade da carreira dos professores, e quer dizer que em janeiro de 2012, o reajuste do piso está previsto para 22%. Os professores de nível médio terão esse reajuste garantido, mas os demais não. Os professores já foram à Assembleia e disseram que não aceitam. Provavelmente, nós iremos iniciar o ano letivo de 2012 novamente com grande embate. Contra isso, nós já temos previsto um ato no dia 5 e outro no dia 20 de janeiro. Já está terminando um ano praticamente emendando no outro. Nós não vamos parar.
F5 - Houve mais derrotas do que vitórias?
Ângela – Nós tivemos também vitórias, pois na maioria dos municípios conseguimos o reajuste do piso. Na base estadual a lei do reajuste foi aprovada dividindo para nível superior e pós graduados. Nós tivemos um em julho e outro em setembro, de 5.7% depois da complementação dos 15.87% e o retroativo que o governo vai pagar a partir de janeiro de 2012. Nessa luta nós tivemos a vitória de início, que foi o governo não enviar à Assembleia o projeto que extinguia o nível médio e reajustar todos na carreira. Nós tivemos vitórias, quando a categoria nesse momento estava unificada. Eu considero vitória também a participação da população, o entendimento e a solidariedade do povo sergipano, dos alunos e das mães. Isso fortalece as pessoas para a luta. Nós entendemos também como vitória quando nós tivemos o entendimento da luta por parte da imprensa. Aquilo que a gente perde a gente não pode considerar derrota, uma batalha pode ser perdida, mas pode ser recuperada. O ano de 2011 foi um ano de luta mas também um ano que os professores repensaram a sua prática pedagógica.
F5 - Os professores estão mais unidos?
Ângela – Nós sempre fomos unidos. 2011 foi um ano de repensar a prática pedagógica. Para a prática pedagógica o governo não tem uma política de educação que nasce no seio e no chão da escola. O governo acha muito mais fácil e prático comprar pacotes institucionais prontos e mandar para as escolas e os professores implementarem. Então, nós tivemos reuniões em três escolas, os professores nos chamaram para dizer: não vamos mais aplicar pacotes. Nós somos seres pensantes, temos condições de elaborar na escola a proposta pedagógica. Os professores disseram: Não! Ao Índice Guia. Que é avaliação de desempenho. Mesmo o governo contratando o João Batista, por um preço muito bom, o governo não tem dinheiro para pagar salário de professor, mas tem dinheiro para pagar aproximadamente 18 mil por mês a contratação de uma pessoa para discutir proposta pedagógica. Isso é uma contradição. Foi um ano bom, de muita reflexão e muitos encontros. Nós tivemos internamente muitas reuniões de conselhos, de controle social e discussões da prática pedagógica. Discussões do projeto de avaliação de desempenho foram praticamente em todas as escolas dos municípios. Então, foi um ano muito produtivo.
F5 - Quantas mobilizações?
Ângela – Foram centenas. Nós temos 74 municípios, só neles foram várias durante este ano. No município a gente fez de três a quatro mobilizações por semestre. Fizemos recentemente em Santana do São Francisco, onde os professores estão sem receber salário. Do mês de outubro foi pago no dia 10 de novembro, os salários de novembro, dezembro e o 13º não foram pagos. Em Carira também não receberam o 13º, nem os salários de novembro e dezembro. É mobilização em todo o estado. Encerramos agora no dia 29 com mobilização que foi a Prova Final para avaliar a gestão do governo e dos prefeitos de Sergipe sobre a educação.
F5 - A nota do governo e dos prefeitos na prova final foi de 3,0. Como a senhora avalia as ações do governo?
Ângela – Eu avalio um governo de pouco diálogo, nós tivemos um diálogo maior no segundo semestre de 2011 com a Secretaria de Educação, na pessoa do secretário, mesmo não implementando aquilo que a gente pensa, mas ele ainda nos ouve. Tivemos no mês de maio e junho no processo de negociação duas audiências durante o ano com o governador, mas no sentido de valorização econômica e profissional do professor, que passa por estudos, estrutura física das escolas, alimentação escolar, a gente entende que o governo não passou diálogo. É um governo insensível, no sentido de que lhe falta argumentos, coloca uma categoria contra a outra. Dentro do governo agora diz que não pode estabelecer o piso salarial e ofertar o reajuste que assim determina o MEC, porque se ele (Déda) fizesse para os professores ele não faz para as outras categorias. E não é verdade. Isso é uma vontade do governador. O orçamento que ele envia a Assembleia já previa um reajuste para os professores em 18%. E é exatamente esses 18% que ele está retirando dos professores. Quando fomos negociar a implementação do piso nós tivemos a sensibilidade e a coerência de abrir mão de alguns percentuais, a exemplo da regência que era de 70% e passou para 40%, da diferença do nível médio para o superior que era de 73% e passou para 40%. Então, nós fizemos a nossa parte. E esperávamos que o governo fizesse a dele. Tem categorias que tiveram avanços econômicos interessantes no governo Marcelo Déda. Então, quando digo que ele é insensato, insensível e incoerente é porque ele está tirando do professor uma luta histórica e a unicidade da nossa carreira.
F5 - Qual o benefício da Carreira Única?
Ângela – Valorizar cada vez mais. Quando o governo exclui o nível médio da carreira, ele está quebrando a unicidade. No magistério a nossa carreira é de professor, no sentido de que você pode ingressar no magistério através de concurso público com nível médio. A partir daí, avança na medida de que vai se formando, inclusive em serviço. Faz um vestibular, depois curso superior, pós graduação, mestrado, doutorado dentro da sua carreira. A lei diz, que o piso é um salário básico para o início da carreira que é o nível médio. O nível médio começa com R$ 1.187, superior R$ 1.661. Em janeiro ao reajustar o piso, o professor de nível médio com 22% chega a aproximados 1.440 reais. O superior receberá 1.770 reais aproximadamente. Veja, vai ficar muito próximo um do outro. O professor de nível médio tem um reajuste maior e o nível superior menor. Daqui a dois e três anos poderá estar com salário base praticamente igual. Não tendo um reajuste igual para todos, é uma divisão na carreira. O professor vai ser um profissinal que vai trabalhar sem incentivo. A progressão vertical é um dispositivo na legislação que permite que o professor avance na carreira sem a precisão de prestar mais um concurso.
F5 - Além disso, o que falta para haver a valorização do professor e da educação no estado?
Ângela – A questão salarial é uma parte, em meio a uma sociedade capitalista, e necessidade de consumo ninguém vive sem o salário. Mas falando na educação, é só isso? Não. É uma parte. O professor precisa participar dos meios de comunicação, comer, vestir, comprar livros, entrar nas redes sociais. Mas, nós precisamos ter uma escola decente, que passa desde a sua estrutura física, condições de trabalho ao material da escola. Quadras esportiva com material, biblioteca, sala de leitura, espaço de convivência social, de interação com as redes sociais, para que seja atrativa. Tanto o professor quanto os alunos irão para a escola com vontade de trocar as suas experiências, ensinar e aprender. É isso que falta o governo implementar.
F5 - Há esperança para 2012?
Ângela – Sim, porque se não tivesse esperança a gente colocava as trouxas debaixo do braço, iríamos para a casa e nós não lutaríamos. A luta é que nos embala, que nos motiva, na esperança de que um dia a escola pública irá modificar.
F5 - Qual a frase que registra o ano de 2011?
Ângela – Luta e unidade.
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