Lobo mau dos tempos modernos
Crianças e adolescentes são vítimas de abuso por parentes e conhecidos Cotidiano 16/11/2011 17h49Por Adriana Meneses
Enquanto a polícia sergipana segue no intuito de capturar o mecânico, José Adelson Andrade de Oliveira, 21 anos, acusado de abusar sexualmente e introduzir parte de um guarda-chuva no corpo de um adolescente de 14 anos, crime que aconteceu no Bairro America no ultimo dia 26 e que chocou toda sociedade, os números de denúncias de crianças e adolescentes que são vítimas do mesmo crime não param de chegar ao Departamento de Atendimento a Grupos Vulnerais (DAGV)
Dados do DAGV apontam que aproximadamente são confeccionados diariamente entre 10 e 12 boletins de ocorrência que relatam casos de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. De janeiro a outubro de 2011, o departamento já instaurou 180 inquéritos policiais e conseguiu prender 35 pessoas acusadas pela prática deste tipo de crime.
De acordo com a delegada da Criança e do Adolescente, Lara Shuster, atualmente o número desses procedimentos vem aumentando em virtude de uma alteração no código penal, mais especificamente na Lei 2015, onde diz que não é mais necessária a autorização da família para dar seguimento a uma denuncia ou constatação de abuso sexual.
A delegada disse que antes da mudança na Lei, muitos pais ou responsáveis pelas vítimas que sofriam o abuso recebiam algum tipo de compensação financeira e não davam prosseguimento ao fato. “Já ouvi relatos que pais que ficaram calados e não levaram o caso do abuso à justiça em troca de casas e dinheiro. Graças a essa mudança na Lei os pais ou responsáveis não podem mais decidir se caso vai para a justiça ou não, a denúncia é encaminhada automaticamente para os devidos procedimentos e investigação do fato.
Lobo mau
Ainda de acordo com a delegada, O pedófilo é 'um lobo mal dos tempos modernos'. Ele se disfarça para adquirir a confiança daquela criança, levando muitas vezes até um ano para fazer o cerco e cometer o crime.
Os abusadores são normalmente pessoas conhecidas, pois precisam ter a confiança da criança para ter acesso a ela. Muitas vezes é uma pessoa da própria vizinhança, que demonstram um perfil bondoso, que gosta de crianças e que procuram sempre está perto das mesmas.
Existe também o caso dos abusos praticados em casa onde pais, padrastos, primos por terem maior acesso e confiança da criança e do adolescente praticam o crime. “Presenciei um caso onde o pai confessou que abusava da filha por que achava que tinha o direito de ser o primeiro homem da vida dela, pois mais tarde um outro abusaria dela e ele não achava justo ”, conta Lara Shuster.
Sinais do crime
Segundo a delegada alguns sinais são visíveis em crianças e adolescentes que são vítimas de abuso sexual, e que muitas vezes esses mesmos sinais ficam mais difíceis de serem identificados em crianças que ainda não sabem falar. Vejam;
- Acordar diversas vezes durante a noite
- Fazer xixi na cama
- Apresentar medo de pessoas do sexo oposto ou do mesmo sexo.
- Passar a apresentar sudorese e tremores noturnos
- Evita assuntos relacionados ao sexo ou pode apresentar um interesse demasiado pelo mesmo assunto.
- Verificar sinais de agressão em todo corpo da possível vítima
- Na hora da higienização das partes íntimas verificar se existe algum tipo de alteração como vermelhidão, sangramento ou inchaço.
Como abordar a vítima
Em virtude de um abuso sexual ser uma ocorrência bastante delicada, Lara Shuster diz que uma abordagem feita de maneira despreparada pode gerar um trauma bem maior para a criança ou adolescente vítima. “Não adianta pressionar a vítima para contar o que aconteceu, pois ela também sente medo, vergonha, acha que vai ser repreendida e apanhar, pois muitas vezes contar o que aconteceu. Essa abordagem é bem pior do que o próprio ato em si”, salientou.
Na 11ª Vara de Justiça, que cuida de crimes deste porte, já existe a pratica do depoimento sem dano, onde a vítima fica com a psicóloga em uma sala, e o juiz juntamente com o advogado e o acusado ficam em outra sala, todas as perguntas e questionamentos são transmitidas através de fone de ouvido . “A psicóloga tem a forma de abordar a criança ou adolescente vítima, pois existe toda uma técnica exclusiva para ganhar a confiança da criança fazendo com que ela perca o medo e detalhe o fato. Sem contar que não é necessário está na presença de mais ninguém e com a disponibilidade da tecnologia isso vem dando certo”, ressaltou Shuster.
Tratamento para as vítimas
Após o recebimento da denúncia do abuso sexual, a criança ou adolescente vítima é encaminhada para assistência psicológica e para a avaliação médica, onde será feito um exame de corpo delito. Lembrando que além da conjunção carnal, à prática de atos libidinosos é também considerado crime de estupro.
Sendo confirmado o crime, as vítimas ainda recebem assistência médica na maternidade Nossa Senhora de Loudes, onde farão exames de sangue, para verificar se houve algum tipo de contaminação de Doenças Sexualmente Transmissíveis, constatando a contaminação, tomam medicamentos e especificamente para as meninas é verificada a possibilidade de uma possível gravidez, onde é feita a utilização da pílula do dia seguinte.
Denúncias
As denúncias de abuso sexual contra criança e adolescente podem ser feitas para o Disque Denúncia da Policia Civil através do numero 181, podem também ser denunciadas pelo 190 da Policia Militar ou diretamente da Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis que fica localizado na Rua Itabaiana, nº 259 , bairro Centro, vizinho ao Quartel Geral da Polícia Militar (QCG)
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