“Falta diminuir preconceito com tratamento psiquiátrico”, diz médica sergipana
A data deste domingo, 10 de setembro, marca o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio Cotidiano | Por Monica Pinto 08/09/2023 19h00 - Atualizado em 08/09/2023 21h59“O Setembro Amarelo é a maior campanha antiestigma do mundo! Um mês inteiro dedicado à prevenção do suicídio”. Assim começa o material de divulgação de um evento cuja base está nessa campanha, realizada desde 2014 pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com os Conselhos Federais de Medicina (CFM) e de Psicologia (CFP) e com o Centro de Valorização à Vida (CVV).
Embora seja um tema delicado, que afaste muita gente do debate sobre ele, o Brasil é um dos países das Américas onde os suicídios aumentaram, na contramão da tendência mundial – “os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia”, informa a divulgação da Clínica Reintegrar, em Aracaju, cujo diretor técnico é o psiquiatra Antonio Juviniano Santana de Aragão, membro do Conselho Fiscal da Associação Sergipana de Psiquiatria.
Neste domingo, 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, a clínica realiza, juntamente com outros serviços de saúde mental, diversas ações do movimento “Com você, a vida é melhor!”.
A programação inicia com uma carreata que sai às 14h da Reintegrar, à rua Ariosvaldo Menezes Santos, 745, na Aruana, terminando no Parque da Sementeira. Lá, das 15h às 18h, a clínica oferece serviços e orientações gratuitas ao público (confira quais são no final da matéria).
F5 News conversou com a psiquiatra aracajuana Ana Carolina Aquino Rosa da Silva, graduada em Medicina pela Universidade Federal de Sergipe. Ela é médica do Ambulatório de Saúde Mental Infantil da Prefeitura Municipal de Aracaju, pós-graduada em Reabilitação Aplicada ao Autismo pela Faculdade Unyleya, além de sócia e plantonista da Clínica Reintegrar. Confira a entrevista.
F5 News - No Brasil a incidência de suicídio vem aumentando, na contramão da tendência de muitos outros países. Há como explicar o que promove esse cenário?Ana Carolina Aquino Rosa da Silva - Essa contramão está presente no continente americano como um todo. Tal fato é explicado pelas intervenções que já foram instituídas em outros continentes. Falta melhorar o acesso à rede de cuidados em saúde mental, diminuir o preconceito com o tratamento psiquiátrico e campanhas de esclarecimento sobre o assunto.
F5 News - O ato de tirar a própria vida costuma ser associado a um quadro de depressão. Procede esse entendimento?
Ana Carolina - Na verdade, 97% das tentativas de suicídio estão relacionadas a algum transtorno mental. Não necessariamente, depressão. Mas a depressão pode estar associada em até 43% dos casos.
F5 News - Que outros transtornos mentais podem predispor a esse extremo?
Ana Carolina - Esquizofrenia, bipolaridade, dependência química, transtornos de personalidade são alguns exemplos de outros diagnósticos que podem levar ao suicídio.
F5 News - Como perceber uma tendência individual para o cometimento desse gesto? O que pais e responsáveis por crianças e adolescentes, por exemplo, devem observar atentamente?
Ana Carolina - Normalmente, a pessoa apresenta uma mudança de comportamento - isolamento, mais irritada, chorosa, sorrindo menos e deixando de fazer as coisas de que ela gostava. Ela pode falar que queria sumir, desaparecer ou morrer também.
As pessoas próximas - sejam os pais, familiares ou amigos -, ao perceberem mudanças no comportamento, devem oferecer ajuda, escutar o que a pessoa traz sem fazer julgamentos. Acolher com amor e carinho.
F5 News - O que pode ser feito emergencialmente diante de uma pessoa nesse grau de desespero?
Ana Carolina - Acolher, saber ouvir sem criticar ou banalizar o que a pessoa traz como motivação, levar para tratamento com psiquiatra e psicólogo.
Confira as ações gratuitas oferecidas no Parque da Sementeira, das 15h às 18h deste domingo (10).
- Aferição de pressão arterial, verificação do peso e da glicemia.
- Acolhimentos com profissionais de saúde mental com a realização de escalas, distribuição de panfletos e orientações ao cuidado à nossa saúde mental.
- Atividades de música, arte, meditação, dança do ventre e auriculoterapia.
- Participação dos Palhaços de Propósito.
- Distribuição de lanches.