Ex-presidiários são autores de 85% dos homicídios em Sergipe | F5 News - Sergipe Atualizado

Ex-presidiários são autores de 85% dos homicídios em Sergipe
João Eloy: 80% dos registros criminais estão relacionados às drogas
Cotidiano 06/11/2011 14h30


Por Joedson Telles

O secretário de Estado da Segurança Pública, o delegado João Eloy de Menezes, revela que a criminalidade que paira em Sergipe está associada, quase que 100%, ao tráfico de drogas. “O problema é a droga. Se você fizer uma pesquisa, 80% dos registros criminais estão relacionados às drogas. Você vê aqui na Grande Aracaju, quase 80% dos homicídios são relacionados às drogas”, assegura. Diante da preocupante notícia, a polícia não está parada, mas o secretário explica que somente com a SSP em ação, o crime tende a resistir. “Tem que ser o governo estadual, o federal e as prefeituras. As prefeituras têm papel importantíssimo no cuidado com o usuário. Não adianta só a gente prender. Não temos mais onde colocar presos. O judiciário está fazendo campanha para tirar as pessoas do presídio e colocar nas ruas porque não tem espaço suficiente”, diz. O secretário ainda desmente a denúncia do advogado Evaldo Campos, que disse que delegados sergipanos estiveram no Tocantins, mesmo depois da morte de Floro, e diz que o maior problema do IML é a falta de concurso público – o que já foi autorizado pelo governador Marcelo Déda (PT).  A seguir a entrevista:       

 

F5 News - É quase uma unanimidade que o senhor é o mais preparado para estar à frente da Secretaria de Segurança Pública de Sergipe. Até a oposição o tem como um técnico competente. Todavia, o sergipano vive a sensação de insegurança. Falta estrutura a SSP ou a criminalidade está fora de controle?

João Eloy- Não é problema de estrutura. Claro que nós precisamos de concurso para a Polícia Civil, para a Polícia Militar, coordenadoria de perícia. Precisamos de algumas coisas, mas a estrutura nós temos. Nós temos policiais com o melhor salário do Brasil, tanto civil quanto militar e o Corpo de Bombeiros. O problema hoje é a droga, que é problema em todo o país. A droga chegou aos menores povoados do Brasil e aqui do estado de Sergipe. O crack hoje é uma doença. Nós temos apreendido droga, mas a cada dia aumenta a quantidade de traficantes. Nestes dois anos e meio que estou à frente da secretaria, já prendemos mais de 500 traficantes. Só traficantes. O aumento foi de mais de 1000% de apreensão de drogas, de cocaína. O governo federal já está acordando que temos que enfrentar o usuário. Tratar como uma pessoa doente que precisa de ajuda. A Segurança Pública não tem condição de combater o traficante e ainda tratar o usuário. O papel da Segurança Pública é combater o traficante, e não cuidar do usuário nas ruas. Tem que haver uma união do governo federal, governo estadual, municipal e outras secretarias como de Saúde, Educação, Inclusão Social para tirar o usuário das ruas, porque é como enxugar gelo: a gente prende o traficante, daqui a pouco, aparece outro porque tem a clientela. O tráfico de drogas hoje é terrível. Aumenta todos os índices de criminalidade, seja homicídio, furto ou roubo. Pode-se furtar uma coisa que custa R$ 1 mil e vender por R$ 30,00 para comprar a droga. Ele quer a droga. Não quer nem saber quanto custa aquele objeto. Ele quer roubar para adquirir a droga. Nos casos de assalto a ônibus, o camarada se arisca a colocar uma arma de brinquedo na cintura para roubar R$ 30,00 ou R$ 40,00 para comprar droga. Eu acho que se trabalharmos bem o combate à droga e ao usuário (tratamento) ao mesmo tempo vamos conseguir reduzir os índices de criminalidade de todo o Brasil, principalmente o crime contra a vida e o crime contra o patrimônio.

F5-  O senhor percebe dentro do governo um melhor trato a esse questão dos drogados?

J.E.- Nós temos observado apoio  das Secretarias de Inclusão Social, Saúde, Educação. Mas não é só o estado de Sergipe que vai acabar sozinho com isso. Tem que ser o governo estadual, o federal e as prefeituras. As prefeituras têm papel importantíssimo no cuidado com o usuário. Não adianta só a gente prender. Não temos mais onde colocar presos. O judiciário está fazendo campanha para tirar as pessoas do presídio e colocar nas ruas porque não tem espaço suficiente. 80% das mulheres presas em Sergipe é envolvimento com tráfico de drogas, uma coisa que há oito, dez anos, não existia aqui em Sergipe. O companheiro vai preso, e ela assume. Às vezes até forçada por ele porque o cliente está ali na rua para comprar a droga.

F5-  O senhor está na polícia há muitos anos e alcançou uma polícia que trabalhava com uma pressão bem menor no que diz respeito aos direitos humanos. O senhor acredita que uma polícia mais dura com traficantes teria mais sucesso?

J.E.- Eu estou há 20 anos na Segurança Pública. Já trabalhei em várias delegacias, como chefe de polícia (secretário de Estado) por duas vezes, sou delegado. Mas o problema, hoje, não é aquela polícia de antigamente que batia. Que tirava o serviço na tora. Hoje, a gente trabalha com inteligência. Tem uma divisão de inteligência aqui em Sergipe que é uma das melhores do Brasil, e funciona. O problema não é direitos humanos. O problema é a droga. Se você fizer uma pesquisa, 80% dos registros criminais estão relacionados às drogas. Você vê aqui na Grande Aracaju, quase 80% dos homicídios são relacionados às drogas. Nós aumentamos o índice de apreensão de armas nesses dois anos e meio em quase 500%, mas o homicídio não está diminuindo. O roubo até deu uma estabilizada, mas o homicídio não. Fizemos um convênio para saber por que aprendermos mais armas, prendermos mais traficantes, mas o número de homicídios não diminui. Será por que a gente está prendendo e o Judiciário está soltando demais? Nós temos que dar uma resposta à sociedade. Colocamos, só este ano, 2,6 mil pessoas no sistema prisional, fora os presos que estão nas delegacias. São quase seis pessoas sendo enviadas aos presídios por dia. Até o mês de agosto, fizemos mil flagrantes na Delegacia Plantonista, que cuida da Grande Aracaju. Só na DP, que funciona à noite, final de semana e feriados. Não é termo circunstanciado não, é flagrante.

F5 - Mas nem todo mundo está preso...

J.E.  – Nem todo mundo está preso. A falha é da polícia que está fazendo um mau inquérito? Do judiciário que está soltando indiscriminadamente? Estão concedendo indulto natalino, de dia dos pais, de páscoa... os caras saem, mas a maioria não voltam. E estão praticando crime. No mês retrasado, a polícia conseguiu prender os dois homens que roubaram R$ 80 mil de um empresário, naquela saidinha de banco. Um dos ladrões ainda ia cumprir 26 anos de cadeia, mas saiu com indulto de dia dos pais. Aquele que matou o escrivão no interior fugiu. Foi colocado no regime semi-aberto no Presídio de Areia Branca, e fugiu. Se você pegar esses homicídios que estão acontecendo aqui em Sergipe, quase 85% são de pessoas que já tiveram passagem pelo presídio. Estão saindo de lá sem serem recuperados (ressocializados). Não é que a polícia de hoje está trabalhando com mais direitos humanos. O problema é o tráfico de drogas.

F5.-O serviço de inteligência da Polícia Civil localizou de onde vem essa droga?

J.E.- 80% das drogas, principalmente o crack,  vem do estado de São Paulo.

F5.- De carro, de avião...?

J.E.- De carro. Aí você pergunta: ‘como é que o camarada sai daqui de Sergipe, passa por vários estados, chega a São Paulo, compra a droga e traz aqui para Sergipe?’ Existem os traficantes que distribuem drogas aqui no Estado. A gente observa um usuário, depois chega outro e aí a gente sabe de onde vem a droga.

F5.- Os traficantes mandam a encomenda ou saem de lá para vender aqui?

J.E.-  Nós temos alguns que vêm aventurar aqui. Existem alguns integrantes do PCC aqui, mas eles deram uma recuada. Tem alguns presos. Estamos combatendo. Então, eles não estão se arriscando. Mas os traficantes de Sergipe vão buscar a droga em São Paulo.

F5.- O senhor acha que a SSP recebe críticas por questões políticas para atingir o governador Marcelo Déda?

J.E.- Eu não me meto muito em política. Aqui na SSP tem muito trabalho. Não temos tempo de pensar nessas maldades. Entra em um ouvido e sai pelo outro. A gente procura sempre trabalhar e dar uma resposta à sociedade. O povo de Sergipe merece uma segurança decente, e isso a gente tem que fazer. Claro que a gente não vai resolver todos os problemas. A gente tem feito toda a Segurança Pública na medida do possível, porque não existe só a Segurança Pública. Nós temos Educação, Saúde, e outras secretarias. Mas tenho recebido todo apoio do governador Marcelo Déda, que tem aí mais dois anos, não vai resolver todos os problemas da segurança, mas tenho certeza que deixará uma grande contribuição com a Segurança Pública ao povo de Sergipe.

F5.- A sociedade, muitas vezes, facilita a ação do bandido, ao esconder informações da polícia, não?

J.E.- Isso também depende muito da credibilidade da sociedade na Segurança Pública, e isso, graças a Deus, conseguimos. Conseguimos criar essa confiança. Resgatar a confiança. A sociedade tem nos ajudado muito denunciando vizinho que faz tráfico de drogas. Temos recebido muitas denúncias através do 181. A Segurança Pública é quem está devendo a sociedade, e não a sociedade a Segurança Pública. Nós temos que melhorar muito ainda a Segurança Pública. Fizemos já a polícia preventiva atuante, precisamos de concursos para botar mais polícia nas ruas para estar mais presente. Os países mais desenvolvidos do mundo não conseguem elucidar todos os crimes. Aqui a gente trabalha com homicídios e vários tipos de crimes, mas o ideal é que não ocorra o crime. Conseguir reduzir 50% do crime de homicídio do Estado já dá um tom diferente, mas para isso precisamos de mais polícia nas ruas. Não é ter um policial em cada esquina e sim uma polícia mais presente para que a população tenha a sensação de segurança. Para que a pessoa saia para o trabalho, para passear, para seu estudo e sinta segurança.

F5.- o deputado estadual capitão Samuel defende que o Conselho de Segurança Pública saia do papel. O senhor pensa assim também?

J.E. - O que vier, seja de onde for, para resolver o problema da Segurança Pública, a gente aceita. Aqui a gente está aberto para qualquer proposta. Eu sempre disse que toda a sociedade é importante para a Segurança Pública. Até um projeto de um vigilante de rua para a Segurança Pública tem que ser ouvido.

F5- O senhor abordou algo preocupante: a super lotação nas delegacias. O senhor tem conversado isso com o secretário de Justiça e Cidadania, Benedito Figueiredo, ou mesmo com o governador Marcelo Déda sobre isso. Tem esperança de solucionar isso?

J.E.- Meu relacionamento com o secretário de Justiça é excelente, mas a gente está prendendo demais e também a Secretaria de Justiça não tem onde colocar. A média daqui da capital é de 150 presos por delegacia. No interior é de 150 a 200, e 300 presos em média por mês nas delegacias da capital e do interior do Estado.

F5- Surpreendeu a declaração do advogado Evaldo Campos que um grupo de advogados sergipanos viajou  ao estado do Tocantins, mesmo depois da morte de Floro?

J.E.- Eu tenho todo respeito pelo professor Evaldo Campos,  eu o chamo de professor porque ele foi meu professor na UNIT, mas tenho o maior carinho e o maior respeito por ele, é meu amigo, eu gosto dele, mas é mentira. Nenhum delegado, após o episódio Floro Calheiros, foi para Tocantins. Isso quem está dizendo é João Eloy. Não é verdade. O professor não está falando a verdade.

F5 – Ele diz que algumas pessoas, a exemplo do ex-governador Albano Franco, o aconselham ter cuidado como o que diz. Ele o procurou para comentar que corre algum risco, que teme pela sua vida?

J.E.- A polícia não tem nada contra o professor Evaldo Campos e nem contra a família de Floro. A polícia cumpriu o papel dela de investigar e prender. Eu acho que, se o professor tiver medo de estar correndo risco de vida, não é por parte da polícia. Se ele passar para mim que está sendo ameaçado eu coloco a nossa divisão de inteligência para apurar e chegar ao autor das ameaças. Eu sempre digo aqui que a polícia não deve se meter nesse tipo de fofoca. A polícia cumpriu o papel dela. Houve o atentado ao desembargador Luiz Mendonça, a polícia investigou e chegou à autoria. Infelizmente, o Floro, num confronto com a polícia da Bahia, começou com a polícia de Tocantins e terminou com a polícia da Bahia, morreu. A polícia de Sergipe não é culpada, e não estava a serviço de ninguém. A polícia de Sergipe tem que ser parabenizada pela qualidade da investigação que tem feito nesse caso. Tanto é que quando começou a ocorre o fato eu acho que a maioria da imprensa já acusava Floro, mas nós tivemos o cuidado de na hora certa falar. Não tem nenhuma declaração de nenhum secretário, delegado ou investigador logo no início dizendo que foi Floro Calheiros. Depois, sim, fizemos uma coletiva e prendemos os pistoleiros e falamos que foi a mando de Floro Calheiros.

F5.- Segundo Evaldo Campos, o filho de Floro, Fábio Calheiros, está preso, mas é inocente. Há como comprovar algum crime atribuído a Fábio?

J.E.- A polícia investigou o resgate de Floro, aqui no Hospital São Lucas. Se o filho de Floro está preso já é um problema da Justiça e não da polícia. O caso da polícia está enterrado. O resgate foi todo planejado. A polícia investigou e passou o resultado ao Ministério Público. O Ministério público denunciou e a Justiça acatou. A polícia não tem mais no que se meter no caso do Fábio. Aí é um problema da Justiça com o advogado (Evaldo Campos).

F5.- O presidente do Sinpol, Antônio Moraes, defende que os agentes possam desempenhar funções que hoje são exclusivas dos delegados de polícia. Isso sob o argumento de que todos são policiais. Como o senhor avalia isso?

J.E.- Eu acho que cada um tem sua função. O delegado tem sua função, o agente de polícia tem sua função, a polícia militar tem sua função. Eu acho que ninguém pode toma a função do outro. Se o concurso é para delegado, tem lá o que o delegado pode fazer, e a mesma coisa o agente e o escrivão. O Antônio tem todo o direito de dizer isso.

F5 – E sobre a denúncia do Sinpol de que há delegados percebendo salários acima do teto permitido.

J.E.- A legislação do Estado permite incorporação (de gratificação aos salários). Não são apenas delegados quem incorporam. Acredito que se for comparar com outras secretarias, na SSP é a minoria. Mas isso aí o Antônio discuta com Adepol. Se vier com propostas boas, eu aceito todas, mas se for por briga entre sindicatos eu não vou me meter. Eu me dou bem com todos, mas não vou me meter na briga deles.

F5 – Esta semana o IML ficou sem os rabecões. A SSP tem um projeto para acabar com este problema?

J.E. – O problema do IML não é apenas os rabecões. Temos um problema grave, mas o governador já autorizou o concurso para todos os profissionais do IML. A última vez que o Estado fez concurso para médico legista em 1993. E perito nunca houve concurso. E também estamos com o projeto de aquisição de oito rabecões novos. Na sexta-feira, tínhamos três rabecões funcionando, no sábado quebraram. Quando assumimos, não se liberava corpo à noite no IML. Graças a Deus, hoje, com este novo diretor, Raymundo Melo, não fica um corpo sem ser liberado. Ele mesmo vem e libera o corpo. Cobram prédio, mas não adianta cuidar de prédio sem antes realizar o concurso público.

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